Confissões de uma Blogueira em Crise: O fim dos blogs literários?


Em julho deste ano o blog Mundo dos Livros completou 10 anos de existência. E a verdade é que eu nunca imaginei que ficaria tanto tempo na internet falando sobre livros. Durante esses anos muitas coisas mudaram. E sim, eu sei que essas transformações são naturais. No entanto, é com certa dificuldade que enxergo o futuro dos blogs literários.

Há alguns anos os blogs eram o principal meio de comunicação entre leitores. Uma plataforma simples e pouco onerosa, que permitia que uma infinidade de pessoas ao redor do mundo se conectassem por meio de sua paixão: o fantástico mundo dos livros.

A existência do blog acompanhou os anos dourados dessa mídia e, graças ao tempo e dedicação que sempre tive com esse espaço junto com amigos maravilhosos, alcançamos marcas incríveis, como, por exemplo, obter mais de 3 milhões de visualizações totais e possuir resenhas com mais de 30 mil visualizações consideradas individualmente.

Para pessoas sem formação literária, que não ganham sequer um livro para produzir conteúdo (sim, não temos parcerias com nenhuma editora e tudo o que é lido e resenhado pertence ao nosso próprio acervo) e que não possuem qualquer investimento financeiro, essas são métricas que mostram o quão bem fomos recebidos por cada um dos leitores durante certo tempo.


No entanto, como eu estava dizendo, as coisas foram se transformando e atualmente as pessoas buscam por uma forma mais célere de obter conteúdo, assim, os vídeos no YouTube e as resenhas curtas no Instagram ganharam cada vez mais espaço. Ocorre que se antes falar sobre livros era algo mais acessível, por meio dessas plataformas acaba se tornando algo mais caro, principalmente para quem busca profissionalizar o seu canal ou perfil e obter algum reconhecimento.

Exemplificarei para uma melhor compreensão.

Para produzir uma resenha para o blog, além de dedicar tempo de leitura da obra, há a pesquisa para aprofundamento do que foi lido, escrita do texto, revisão do que foi escrito e formatação. Isto é, além do livro em si, é necessário ter um equipamento eletrônico com acesso à internet e tempo. Todavia, a mesma lógica não se aplica para as outras plataformas citadas.

Isso, porque, além de tudo o que já foi dito com relação aos blogs, todas elas exigem outros equipamentos e um maior investimento em técnicas de marketing para que a pessoa que dá o rosto a marca ganhe autoridade no assunto. E isso vai além de uma boa câmera para gravar, um programa de edição de imagens e vídeos profissional e um cenário atrativo. Há também o aprimoramento de técnicas de CEO, de publicidade em mídias digitais e tantas outras formas de tornar rentável a produção de conteúdo.

E quando pensamos nisso tudo, chegamos a um ponto crucial da manutenção de um blog: é mais barato, mas não dá retorno financeiro algum. A verdade é que todos nós temos contas a pagar e mesmo quem faz tudo isso por amor, anseia por conseguir fazer do seu hobby uma profissão. Entretanto, para além de toda a questão financeira aqui já posta - e que, não duvide, desestimula cada vez mais pessoas a continuar os blogs nesse formato que temos -, também há uma falta de estímulo por parte de quem visita.

E não, não estou atribuindo a culpa pelos blogs terem se tornado quase que obsoletos para ninguém. Porém, é inegável o quanto a ausência de interação entre os leitores com as pessoas por trás dos blogs contribuem para o desestímulo desse trabalho. Pensem: para produzir uma resenha, o colunista dedicou não menos que 24 horas do seu dia, e no final, após a publicação do seu texto, não recebe um único comentário de quem leu.


A sensação que dá é que o conteúdo não é interessante o suficiente ou, ainda, que o conteúdo que está sendo ofertado é insignificante para o leitor ao ponto de que não merece qualquer tipo de engajamento. Sim, eu sei que redes sociais como o YouTube e o Instagram ganham em disparado nas facilidades colocadas ao usuário para interagir. Mas lembrem-se, eles são gigantes e possuem uma equipe inteira pensando em como melhor a navegabilidade das plataformas.

Por outro lado, nós somos apenas apaixonados por livros que aprenderam uma ou outra coisa de programação, mas que não possuímos o aparato tecnológico e econômico para investir nas melhorias do layout do blog. Assim, aquele leitor que possui carinho com este espaço entenderá que por enquanto não podemos oferecer uma estrutura melhor e tentará sempre utilizar a versão web pelo celular para conseguir ter acesso à todas as funcionalidades do site.

Sei que a essa altura você deve estar se perguntando: mas qual é o verdadeiro motivo para cada vez os blogs literários estarem sendo desativados? A verdade é que é um conjunto de tudo o que falei: é o desejo por tornar a produção de conteúdos rentável, é a despreocupação com a manutenção que as outras plataformas oferecem e, principalmente, o pronto retorno de quem consome o que está sendo produzido - por meio de comentários, compartilhamentos e likes.

Escrever em blogs tem se tornado uma jornada longa e solitária. Eu escrevo do lado de cá, você lê aí do outro lado, mas não conversamos sobre o assunto e as palavras acabam se perdendo nesse universo gigantesco que é a internet. Acompanhei o encerramento de tantos blogs incríveis nesses 10 anos, que vejo sem muita perspectiva os anos vindouros para nós. Por enquanto, continuo mantendo esse espaço no ar. Até quando, eu não sei.

--- Isabelle Vitorino ---

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