Resenha Especial: O Fantasma da Ópera por Gaston Leroux

Porque o melhor musical do mundo obviamente ia ter inspiração em um livro maravilhoso...

Título: O Fantasma da Ópera
Autor: Gaston Leroux
Editora: Zahar
Ano: 2019
Páginas: 320
Onde comprar: Amazon | Livraria Cultura | Submarino
Sinopse: "A clássica história de um triângulo amoroso que deu origem ao musical de maior sucesso da Broadway. Pela Ópera de Paris circulam bailarinas, cantores, funcionários... e rumores. Após uma sequência de acontecimentos estranhos e funestos, a nova direção da casa passa a levar a sério o que até ali julgara impossível: um fantasma assombra o teatro. Criatura mutilada e de passado enigmático, arquiteto de trotes e tragédias, o Fantasma da Ópera habita os labirínticos porões da construção e usa sua voz, suas lições e seu poder para seduzir a cantora Christine Daaé. Mas, quando ela rompe o pacto implícito entre eles, é arrastada para o subterrâneo – numa espiral de mistério, horror e música. Romance francês de ficção gótica, parcialmente inspirado em fatos históricos ligados à Ópera de Paris no século XIX, O Fantasma da Ópera mescla um triângulo amoroso com um thriller repleto de intrigas e inspirações diabólicas. Ingredientes que, quase duzentos anos após a publicação do livro, seriam recombinados no musical de maior sucesso da Broadway, em cartaz desde 1986.'"

Retratada na Paris do século XIX, acompanhamos a jornada da Ópera de Paris, onde seu mais ilustres par de diretores está se aposentando e dando boas vindas aos mais novos responsáveis pelo empreendimento. Em meio a tanta festa e alegria, os antigos diretores admoestam aos novos funcionários que se atentem aos livros de contabilidade do teatro, onde, além das despesas padrões, há algo curioso. Eis então que os novos diretores descobrem que a ópera não é apenas palco de inúmeras apresentações de música e dança, como também a morada de um inquilino exigente e bastante temperamental: o Fantasma da Ópera. Além de seu gordo salário mensal, o mesmo exige sempre que a cabine n° 5 do camarote esteja reservada para ele em todas as apresentações. Achando que tudo aquilo não passava de uma brincadeira, os novos diretores não levam a sério tal aviso vindo de seus antecessores, nem mesmo dos colaboradores da ópera, e por isso, eles terão que arcar com situações muito desagradáveis ao longo de seu percurso no teatro.

Paralelo a essa história de suspense, acompanhamos o jovem Raoul, irmão mais novo do Conde de Chagny, um grande apoiador da ópera. Raoul logo se dá conta que uma amiga de infância, Christine Daeé, faz parte do grupo de coristas da Ópera. Logo após uma apresentação, onde Christine assume de última hora o lugar da cantora principal e mostra um talento profissional muito acima do esperado, o rapaz resolve ir falar com a antiga amiga. O curioso é que ela aparentemente não se recorda de Raoul e mais curioso ainda é que, se escondendo na frente da porta de sei camarim, ele ouve uma voz masculina a dialogar com sua amada, porém, após a garota deixar o aposento sozinha e ele ir investigar, o lugar encontra-se vazio...

Após esse episódio, a garota entra em contato com Raoul e, fora dos palcos da Ópera, a jovem diz se recordar sim de seu querido amigo, porém, precisava fingir não conhecê-lo, a pedido de seu tutor, aquele que a vem ensinando a cantar tão magistralmente bem. Em sua conversa, ambos se recordam de, como em suas infâncias, o pai de Christine, um violinista amador de talento natural e genial, contava aos dois sobre o Anjo da Música e como ele mandaria esse anjo para sua filha, quando ele partisse desse mundo. E eis que Christine então revela: Seu tutor secreto era ninguém menos que o tão maravilhoso Anjo da Música!

Consternado e incrédulo com essa revelação, Raoul começa a investigar esse secreto tutor e começa a se questionar: Não seriam o tal Anjo da Música e o famigerado Fantasma da Ópera a mesma pessoa?

Sou uma pessoa extremamente suspeita para falar sobre o quão incrível e fascinante é essa história. "O Fantasma da Ópera" sempre foi meu musical favorito da vida e, pelo menos uma vez por mês me entrego aos vocais do elenco, seja da adaptação cinematográfica, seja a dos teatros. O triângulo amoroso de Raoul, Christine e Erik é ousado e avassalador e fascina a qualquer um que o assista. E com o romance não seria diferente.

Minha primeira surpresa foi saber como essa história é narrada. Gaston Leroux, o escritor, era um jornalista investigativo francês e conhecido por seus furos de reportagem. Logo, nada mais natural para o autor transformar seu romance mais famoso em um relatório de um oficial, que investigava o caso do Fantasma! Então nós leitores passamos a acompanhar, claro que de uma forma mais romantizada, todo esse relatório do caso, onde algumas notas de rodapé do próprio dão maior verossimilhança a tudo. Simplesmente genial.

Seguindo muito mais Raoul, mas com relatos de outros personagens ao longo da narrativa, vamos sendo apresentados a situações cada vez mais tensas e intensas do confronto com o aparentemente onipresente Fantasma.

Admito que a escolha da narrativa de seguir os passos e pensamentos de Raoul foi uma escolha bem interessante, pois sempre achei o personagem bem apagado nas adaptações, por vezes quase um artifício de roteiro. Mas logo torna-se claro o porquê de Andrew Lloyd Webber tomar a decisãode "apagar" esse personagem em sua adaptação pro teatro. Raoul, seja por sua tenra idade, criaçãoou próprio temperamento é alguém extremamente mimado e dado a dramas exagerados, dignos do próprio teatro que o irmão tanto apoia. Não chegou a ser algo que me atrapalhou (a depender de como o leitor queira interpretar, podem até soar um tanto cômicos alguns rompantes de ciúme do rapaz, que não sabe conter seus sentimentos). 

Apesar de já não pertencer mais a esse período literário, a obra é revestida de alguns estereótipos do romantismo, logo a veneração quase religiosa do Raoul por Christine pode causar algumas reviradas de olhos para os que não apreciam tanto obras românticas.

Um outro aspecto bastante curioso foi a personalidade da heroína. Estou tão acostumado a ver uma Christine como a apoteose romântica da donzela doce, meiga e inocente, que admito não ter esperado pelo que vi retratado no livro. Não que ela não carregue todas essas características em sua personalidade, pois elas estão ali e muito bem apresentadas, porém a Christine Daeé original é uma presença a ser notada. Por muitas vezes de personalidade forte, decidida e obstinada, não dá o braço a torcer e mostra ter respostas a ponta da língua para qualquer um que a trate como uma propriedade.

O terceiro e mais emblemático dos protagonistas é de longe o melhor adaptado. Erik, Anjo da Música, Fantasma da Ópera, a cada novo nome dado, uma nova faceta da personalidade desse atormentado indivíduo nos é mostrada. Longe de mim querer defender suas ações, pois diversas delas apenas relatam o relacionamento abusivo e controlador que ele impunha à Christine, porém, é impossível não sentir qualquer camada de empatia com o trágico Fantasma, que, por conta de sua total deformação (não apenas a charmosa metade do rosto tapada) foi incapaz de usar seus geniais dons pelo bem das artes e da humanidade, mas teve que se esconder a vida inteira, por ser considerado inferior a um ser humano.

Sendo apenas o final, que ocorreu mais de uma forma contada ao invés de mostrada, algo que me deixou um tanto desapontado com a história, posso afirmar com veemência que "O Fantasma da Ópera" foi uma leitura prazerosa e fenomenal, apenas engrandecendo em mim a obra que eu sempre amei e que guardo em meu coração.

'É muito difícil', eu disse, 'Ser amada dentro de uma tumba'. - Pág. 166

--- Marcel Elias ---

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