Resenha: Kindred - Laços de Sangue por Octavia E. Butler

Título: Kindred - Laços de Sangue
Autora: Octavia E. Butler
Editora: Morro Branco
Ano: 2017
Páginas: 432
Onde comprar: Amazon | Editora Morro Branco | Submarino
Sinopse: Em seu vigésimo sexto aniversário, Dana e seu marido estão de mudança para um novo apartamento. Em meio a pilhas de livros e caixas abertas, ela começa a se sentir tonta e cai de joelhos, nauseada. Então, o mundo se despedaça. Dana repentinamente se encontra à beira de uma floresta, próxima a um rio. Uma criança está se afogando e ela corre para salvá-la. Mas, assim que arrasta o menino para fora da água, vê-se diante do cano de uma antiga espingarda. Em um piscar de olhos, ela está de volta a seu novo apartamento, completamente encharcada. É a experiência mais aterrorizante de sua vida… até acontecer de novo. E de novo. Quanto mais tempo passa no século XIX, numa Maryland pré-Guerra Civil – um lugar perigoso para uma mulher negra –, mais consciente Dana fica de que sua vida pode acabar antes mesmo de ter começado.

Imagina estar organizando a mudança para um novo lar, no dia do seu aniversário, ao lado do seu marido e de repente ser "transportada" para uma outra época? Pior, uma época em que a escravidão era o cotidiano de toda pessoa negra. Nessa história de Octavia E. Butler, primeira dama da ficção científica, é o acontece com Dana, mulher negra que descobre da pior forma possível como era a realidade de seus antepassados no século XIX.

Você, assim como eu quando iniciei esta leitura, deve estar pensando agora: como isso acontece na narrativa? Já adianto que nem a própria Dana entende ao certo, mas que essas "viagens no tempo" obedecem a uma certa lógica, o que empresta um pouco de sentido a esse quebra cabeças maluco que é a vida dessa protagonista.

No primeiro deslocamento temporal de Dana, logo no primeiro capítulo, ela aparece diante de um lago onde um menino está se afogando. Seu instinto inicial é imediatamente salvar essa vida, o que ela consegue fazer. Quando Dana retira Rufus do lago, se depara com os pais nada amistosos do garoto, que interpretam a cena erroneamente e ameaçam a vida de Dana. Quando ela imagina que está prestes a morrer, sente os mesmos sintomas que desencadearam essa "viagem" (náuseas, tontura) e descobre que reapareceu, completamente enlameada e encharcada na sala da sua casa, diante de uma marido perplexo.
Eu era a pior guardiã possível para ele ter, uma negra para cuidar dele em uma sociedade que via os negros como sub-humanos, uma mulher para cuidar dele em uma sociedade que via as mulheres como eternas incapazes.

Como já adiantei para você, leitor, essa não será a única viagem de Dana durante a história. Logo ela descobre que náuseas e tontura precedem as viagens que sempre acontecem quando o Rufus, seu antepassado, está prestes a morrer. Aparentemente, sua missão é manter o Rufus a salvo para garantir a própria sobrevivência enquanto descendente desse parente irresponsável. A grande questão do enredo, muito maior do que os mistérios de ficção científica da narrativa, é acompanhar como Dana consegue lidar (interferindo o mínimo possível!) com todo o horror da escravidão sendo oriunda de uma época que, apesar do racismo, não se compara ao terror vivido por negros na Maryland do século XIX. 


Esse foi o meu primeiro contato com a escrita da Octavia E. Butler e já estou recomendando a leitura de Kindred para todo mundo. Apesar do enredo triste, a forma como Butler aborda escravidão, justiça, preconceito, poder e liberdade captura o leitor durante toda a narrativa. Também são interessantes as reflexões feitas por Butler no contexto do livro, traçando paralelos entre a escravidão e o genocídio indígena (ambos foram devastadores nos EUA, onde se passa a história). Kindred é emocionante, tenho certeza que você vai gostar dessa experiência literária.


--- Mariane Brandão ---

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