Resenha: O Bosque Selvagem por Colin Meloy

"O Bosque Selvagem" é praticamente um estudo antropológico: ou você é o burocrata da cidade grande, ou o caipira deboísta do interior. Cada um na sua bolha, enquanto uma monarca exilada se aproveita das picuinhas sociais para eliminar todo mundo…

Título: O Bosque Selvagem
Autora: Colin Meloy
Editora: Galera Record
Ano: 2014
Páginas: 480
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Sinopse: "A vida de Prue McKeel é bem normal. Quer dizer, era até seu irmãozinho ser sequestrado por um bando de corvos. E foi então que as coisas ficaram realmente estranhas. Nos mapas de Portland, no Oregon, existe uma imensa área verde às margens da cidade, conhecida como "F.I.", ou "Floresta Impassável". Ninguém nunca cruzou seus limites ou pelo menos nunca voltou de lá pra contar. É exatamente nesse lugar que os corvos pegam o irmão de Prue. E é onde começa a aventura que levará a menina e seu amigo, Curtis, até o coração da Floresta Impassável, com seus perigos e maravilhas. Sim, um mundo secreto se esconde em meio à agitação da natureza. Um mundo de criaturas valentes, místicos serenos e alguns poderosos com as piores e mais sombrias intenções. E o que começa como uma missão de resgate se transforma em algo muito maior à medida que os amigos se vêem envolvidos em uma luta pela libertação daquela imensidão verde. Uma imensidão que seus habitantes chamam de Bosque Selvagem."


Prue McKeel (e não, eu não sou maduro o suficiente para falar o nome dela sem imaginar um pombo) é uma garota que está longe de ser um exemplo de feminilidade. Com sua personalidade Tomboy e seu ávido interesse por pássaros e em ilustrá-los, a garota reside em Portland, Oregon, com seus pais e seu irmãozinho Mac, que ainda é um bebê. Nossa trama se inicia quando, em um dia após as aulas, Prue leva seu irmão a um passeio no parque e a coisa mais surreal acontece: uma revoada de corvos surge do nada e sequestra o pequeno Mac, levando-o para os limites da Floresta Impassível. Essa floresta é um grande tabu da cidade, pois é proibida e reza a lenda que aqueles que se aventuram por ela, nunca mais retornam.

Com tamanho dilema em mãos, afinal não é todo dia que uma garota chega em casa e tem que justificar aos pais que o irmão menor foi raptado por pássaros pretos barulhentos, a garota se vê sem reação. Em meio a tudo isso, um colega de escola, Curtis, vê a garota com problemas e juntos, mesmo Prue sendo inicialmente contra, partem no dia seguinte rumo a floresta, onde, uma vez lá dentro, eles se deparam com criaturas praticamente saídas das fábulas de Esopo.

Nessa tumultuada civilização, onde animais antropomorfizados e humanos convivem com suas próprias leis e naturezas, Prue e Curtis terão que passar por coiotes soldados, rebeldes, aves burocráticas e ditadores, bem como animais fazendeiros, para encontrar o pequeno Mac e impedirem que uma rainha exilada execute um plano que tende a exterminar com toda a vida desse mundo fantástico, chamado Bosque Selvagem.

Quem me conhece há algum tempo no blog já está careca de saber que sou fã de carteirinha de contos de fada, assim como de fábulas. Imaginem então a expectativa que eu estava para ler esse livro, que é a mescla desses dois estilos narrativos que tanto amo. E o melhor de tudo é que toda essa expectativa foi devidamente atendida.

"O Bosque Selvagem" é uma grande fábula moderna por excelência. Aqui temos um mundo dividido em duas áreas principais, os bosques norte e sul, bem como o bosque selvagem, que estaria entre eles. As crianças ao chegarem, se deparam com uma situação de guerra civil, onde o cerne do problema se encontra na antiga governante do local. Não quero me estender a explicar esse enredo, pois parte da graça do livro encontra-se no leitor entender e juntar as peças desse quebra-cabeças. Assim como as fábulas, o livro acaba por usar os animais e situações deveras esdrúxulas com o objetivo de ressaltar diversos problemas da sociedade moderna, sendo um daquele excelentes livros infanto-juvenis com diversos questionamentos a respeito da vida adulta.

Além dessa trama maravilhosa, recheada de momentos de ação frenética que não te fazem querer largar o livro, os personagens dessa história são todos muito bem trabalhados. Prue e Curtis são totalmente diferentes um do outro e, cada um a sua maneira, vão nos ajudando a encaixar mais e mais as peças dessa história. Os personagens secundários dessa história são todos cativantes e interessantes a sua maneira, sendo impossível o leitor não se pegar torcendo ou até mesmo se emocionando, seja com os meninos, seja com seus antagonistas.


Ajuda também o fato do livro ser narrado por meio de vários pontos de vista, pois isso faz o leitor ter uma visão panorâmica de tudo o que acontece ao longo da trama. Fora que o livro é extremamente bem escrito e a autora tem um carinho extremo com seus personagens, situações e ambientação. Além dos mapas na história, Colin Meloy narra e descreve de uma forma tão gostosa sua terra fantástica, que você facilmente se pega andando pela tumultuada cidade do bosque do norte, seguindo pelas trilhas do bosque selvagem, ou mesmo admirando as paisagens bucólica com bosque sul. Em suma, em que pese à primeira vista possa parecer um livro para crianças, "O Bosque Selvagem" é uma obra extremamente cativante e sensível, que traz consigo temáticas bastante adultas e de questionamentos sobre quem somos e como vemos o mundo ao nosso redor.

- Vamos para casa, Mac - disse Prue. - Pag 475

--- Marcel Elias ---

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