Resenha: Pule, Kim Joo So por Gaby Brandalise

Depois de um longo tempo longe da escrita e das leituras de entretenimento, eis que volto ao meu mundo dos livros através da leitura de uma obra que trata justamente disso: da escrita e da construção de uma voz mais forte que tudo.

Título: Pule, Kim Joo So
Autora: Gaby Brandalise
Editora: Verus
Páginas: 208
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O que você faria se precisasse escapar da sua própria vida? Um história inspirada em dramas coreanos. Marina vive em Curitiba, atormentada pelas agressões do ex-namorado. So vive em Seul, preso a uma culpa da qual não consegue se livrar. Em mundos tão distantes, mas carregando dores parecidas, a história dos dois vai se cruzar e fazer com que eles finalmente tomem o controle da própria vida, encontrando o ponto de virada que sempre buscaram. Pule, Kim Joo So é uma história ágil e original, que vai surpreender e divertir da primeira à última linha.

Marina é uma jornalista de 26 anos de idade que aprendeu a ser forte ainda que sua vida seja permeada por constantes abusos físicos do ex namorado que não aceita o término do relacionamento. Ela já não esperava ser surpreendida por muitas coisas mais, principalmente no amor, mas eis que um dia o destino lhe surpreende e coloca So em seu caminho. Kim Joo So está assustado e com medo, ele não lembra como deixou Seoul para trás, tudo o que ele sabe é que agora está preso em um país que não conhece e dependendo da ajuda de uma mulher que é incapaz de compreender qualquer coisa que sai de sua boca. E é em meio a esse turbilhão de acontecimentos, que duas almas feridas se conhecem e percebem que a vida não é apenas dor.

Ao pensar nessa história, algumas coisas surgem a minha mente, mas a principal delas é a originalidade com a qual a autora conduziu todo o enredo. De fato, a mescla entre a cultura brasileira e sul-coreana para construir um dorama foi algo que o meu histórico como leitora não encontrou precedentes. No entanto, o ponto mais forte dessa obra escapa deste âmbito e adentra ao campo de construção e desenvolvimento dos personagens. Isso, porque, trazendo protagonistas fortes e com um histórico pesado, o leitor é instigado o tempo todo a virar as páginas em busca da resolução dos impasses que ditam o ritmo de suas vidas.

Todavia, ao contrário do que ocorre em muitas histórias, a autora busca demonstrar o quanto a voz de cada um deles é mais forte do que os sentimentos que flutuam entre Marina e So. O romance torna-se, pois, em um aspecto subsidiário da obra, já que após o impacto inicial causado pela clara empatia dos protagonistas, o que nos torna refém da escrita de Gaby é a vontade de descobrir mais acerca da origem de So e o porquê de seus segredos influenciarem todos os aspectos de sua vida, inclusive, o físico. Um ponto a ser destacado é a maneira totalmente apaixonante que Marina é apresentada, pois apesar de ela agir de um modo que nem todas as mulheres reagiriam diante de uma agressão, ela é real o suficiente para nos apegarmos a ela.

Para além, mesmo com todos os aspectos realistas da história, o toque de fantasia está ali e é impossível não notá-lo, posto que por mais que sejam cogitadas possibilidades outras, aquelas que estão pautadas no surrealismo parecem ser a única explicação para tudo o que acontece. Apesar de ter gostado da ousadia da autora em conduzir um enredo deveras complexo, senti que alguns pontos poderiam ter sido explicados de uma forma um tanto mais clara, principalmente, nas cenas que ocorrem na Coréia do Sul e que buscam explicar So ser quem é. Acredito que isso tenha ocorrido porque há momentos em que inevitavelmente o leitor se sente perdido com relação ao desenrolar das coisas por mais que seja notório o esforço da autora em explicar tudo da melhor forma possível.

É claro que isso não tira o brilho da obra, já que ao devorar "Pule, Kim Joo So" em poucas horas tive a certeza de que o cenário literário nacional ganhou uma voz que deve ser ouvida. E se eu pudesse fazer um pedido a Gaby Brandalise seria: escreva um conto sobre os meus queridos personagens para eu saber o que acontece depois do ponto final! Demais disso, o que eu poderia dizer a vocês é que caso tenham curiosidade de saber o que há por trás do enigma que envolve So e da maneira corajosa com que Marina lida com tudo o que acontece a sua volta, não percam tempo e pulem, sei que vocês não se arrependerão.


[...] O falso, às vezes, é a verdade de cabeça para baixo. No universo da fantasia pode estar a realidade. Pág. 123

--- Isabelle Vitorino ---

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