Resenha: O Americano Tranquilo por Graham Greene

Obras que trazem um cenário de guerra costumam despertar a minha atenção. E é em meio a bombardeios e a uma cultura totalmente distinta da que conhecemos, que o autor Ghaham Greene nos mostra uma história forte que pode ou não tratar de amor.

Título: O Americano Tranquilo
Autor: Graham Greene
Editora: Biblioteca Azul
Ano: 2016
Páginas: 232
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Durante a Guerra da Indochina (1946-1954), o repórter britânico Thomas Fowler conhece, em Saigon, Alden Pyle, jovem americano idealista e impetuoso, enviado em uma missão misteriosa ao Vietnã dominado pelo confronto entre tropas francesas e guerrilheiros comunistas. Experiente e cético, o correspondente de guerra simpatiza com esse “americano tranquilo”. Apesar do interesse mútuo, surge um decisivo foco de discórdia: Pyle apaixona-se por Phuong, a bela amante vietnamita de Fowler, cuja mulher está em Londres. Tendo como tema central um triângulo amoroso, O americano tranquilo é um romance em que as rivalidades pessoais — e sexuais — reverberam as disputas políticas. Essa confluência entre o público e o privado, entre as movimentações geopolíticas e as táticas de guerrilha das relações afetivas, permite a Graham Greene fazer uma crítica das ideologias que contaminam os laços sociais e levam a disputas homicidas.

Thomas Fowler é um correspondente britânico que passa a viver no Vietnã para cobrir a Guerra da Indochina. Durante o conflito marcado por grandes perdas humanas, ele conhece a bela Phuong, uma vietnamita que sonha em casar com um estrangeiro e sair do seu país. Mais velho e experiente que a jovem com quem se relaciona, ele já viu mais da vida do que seria capaz de enumerar. No entanto, durante todo aquele tempo, ele não recordava-se de possuir sentimentos de posse tão parecidos com o que estava sentido. E não era só a isso que ele possuía certa predileção, isso, porque, em um país onde bebidas e drogas eram servidas à vontade como um meio de aplacar as dores da perda, Fowler sempre estava disposto é mergulhar nos efeitos do ópio.

Nesse ínterim, o velho homem conhece o jovem idealista americano, Pyle, e de pronto, sente-se compelido a tolerá-lo e a ouvir as suas ideias de alguém tão influenciado pelos pensamentos do escritor fictício York Harding. Convivendo juntos naquele lugar destruído pela guerra, Fowler e Pyle tem uma dura missão pela frente: a de decidir quem será o primeiro a recuar na empreitada pelo amor de Phuong. Isso, porque, enquanto que o velho a mantém como amante em uma vida de prazeres carnais, o jovem anseia por casar com a mulher mesmo sabendo do seu passado. Em meio aos embates causados pelas desventuras amorosas desse peculiar triângulo, o plano de fundo narra uma história própria de dores, perdas e mistérios.

"O Americano Tranquilo" é o tipo de obra que permeia o imaginário dos leitores anglofános, principalmente por ter sido escrito pelo brilhante, Graham Greene. O escritor que mesmo sendo o titular de 60 livros ainda exercia a profissão de jornalista, morreu aos 87 anos de idade deixando para trás um verdadeiro retrato das relações humanas com todos os seus defeitos e peculiaridades. Não acredito que seja um exagero dizer que esse livro é um dos seus principais escritos, pois tratando das profanidades típicas de um relacionamento extraconjugal, ainda temos o "plus" advindo das dificuldades próprias de quem tem que escolher entre o amor e a amizade.

Apesar da história ter sido adaptada duas vezes para o cinema (1958 e 2002), confesso que ainda não assisti nenhum dos longa metragens. A razão para essa escolha foi a impressão forte e poética que a obra deixou em mim. Temi - e ainda temo - ver os filmes e me deparar com uma adaptação deturpado que se embase no romantismo ou pior, no enaltecimento da atuação americana em solo vietnamita. 

Por ter sido o meu primeiro contato com o autor, senti-me uma estrangeira em meio a suas palavras, apesar da obra ser pequena e o autor direto com o que quer dizer, as divagações do personagem Fowler me causaram certo incomodo que eu não estava preparada para lidar. Principalmente, porque lendo o livro com o pensamento de uma mulher moderna, foi incontrolável o meu revirar de olhos diante das diversas passagens em que Phuong é tratada como uma mercadoria de troca não só pelo correspondente quanto pela irmã de sua amante. Sua voz nunca é ouvida e o que sabemos acerca dela é o que Fowler nos relata. 

No entanto, há de se convir que isso é uma consequência direta da prosa do autor que se filia ao realismo e ao retrato fidedigno de uma sociedade maculada pelo preconceito e a objetificação feminina. Além disso, os tempos eram outros e por mais que se insista em colocar um olhar moderno sobre uma obra, há momentos que isso é impossível pois a insistência poderá acarretar na perda qualitativa do texto. Por todo o exposto, certamente essa não será a única obra do autor que lerei.  Após a experiência enriquecedora que eu tive no que concerne as relações humanas e todas as suas conexões, jamais olharei para um livro de Graham Greene da mesma maneira.


[...] Sendo a condição humana como é, deixe que lutem, deixe que amem, deixe que se matem, eu não iria me envolver. Meus colegas chamavam a si mesmos de correspondentes; eu preferia o título de repórter. Escrevia o que via. Nada de ação - até mesmo uma opinião é uma forma de ação. Pág. 31

--- Isabelle Vitorino ---

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