Resenha Especial: A Metamorfose por Franz Kafka

Um dos meus maiores desafios enquanto leitora é sair da minha zona de conforto. Sempre fui empenhada nas leituras, entretanto, de repente me deparei lendo sempre as mesmas coisas sem nunca me desafiar. Essa situação gerou tal incomodo em mim que decidi me dar a oportunidade de conhecer coisas diferentes daquelas que estava acostumada. E para marcar essa minha decisão, hoje vos trago a resenha de um livro desafiador não por sua escrita, mas sim pelo seu conteúdo. Curiosos? Então, vamos lá!

Título: A Metamorfose
Autor: Franz Kafka
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 96
Ano: 2007
Onde comprar: Amazon | Saraiva | Submarino
A Metamorfose é a mais célebre novela de Franz Kafka e uma das mais importantes de toda a história da literatura. Sem a menor cerimônia, o texto coloca o leitor diante de um caixeiro viajante - o famoso Gregor Samsa - transformado em inseto monstruoso. A partir daí, a história é narrada com um realismo inesperado que associa o inverossímil e o senso de humor ao que é trágico, grotesco e cruel na condição humana - tudo no estilo transparente e perfeito desse mestre inconfundível da ficção universal.


Gregor Samsa sempre foi um homem dedicado a sua família. Trabalhando de caxeiro-viajante incansavelmente, certa manhã ele se deparou com um problema que não permitia que ele exercesse suas funções conforme o esperado. Atormentado pelo fato de não conseguir sequer levantar da cama para ir até onde o esperavam, ele sabia que não tardaria a chegar o momento em que alguém da empresa viria saber a razão de ele não ter viajado conforme o combinado. A sua família se amontoava empolvorosa na porta do seu quarto tentando persuadi-lo a deixá-los entrar, mas como ele faria isso quando ao invés do seu corpo humano, a sua mente habitava o corpo de um inseto enorme e deveras monstruoso?

Conservando poucos resquícios de sua essência humana, ele consegue se comunicar pouco a pouco com os seus parentes, contudo, isso não é o bastante para se explicar quando o gerente da empresa em que trabalha aparece na sua casa cobrando explicações acerca de sua ausência. Talvez o nervosismo tenha colaborado para isso, mas ao invés de uma voz humana, o que saiu de sua boca foi um terrível guicho animalesco. Não que ele tenha percebido, afinal as coisas estavam muito claras em sua mente, mas todos os presentes perceberam. Querendo se fazer entender a qualquer custo, Samsa finalmente consegue abrir a porta e oferece a todos uma visão da monstruosidade que se tornou após a metamorfose. Causando os mais variados sentimentos em todos, a repulsa parece dominar a maioria dos que o viram e que se recusam em reconhecer a sua existência.

Sendo uma das mais célebres obras do autor Franz Kafka,  "A Metamorfose" é uma novela que instiga leitores de todos os tempos a procurar entender as minúcias do estranho caso de Gregor Samsa. Ele que é o personagem narrador da história, nos fornece em detalhes os dissabores de estar aprisionado em um corpo que não corresponde com a sua essência. Todavia, com isso ele não cai em questionamentos interiores sobre o porquê está nessa condição e o que isso muda nele enquanto ser. Não, os caminhos que ele perscruta se volta para a sua família, já que por ser extremamente devotado à ela, ele tenta entender os motivos que fazem com que o seu pai, a sua mãe e a sua irmã não reconheçam que apesar do corpo animalesco, ele continua sendo o mesmo Gregor que foi outrora.

Acompanhar isso é estranho, assustador e um tanto quanto devastador, pois a medida em que observarmos a mudança de hábitos do Samsa que acabam por distanciá-lo da humanidade, vemos também a necessidade voraz que ele tem de se sentir amado pelos seus. Na sua mente flashes de sua vida vão passando a medida que a sua existência sem sentido passa a ser um fardo que ele já não pode suportar. Ele experimenta sentimentos como o egoísmo, a inutilidade, mas principalmente, a vontade de continuar sendo reconhecido. Em meio dessa profusão de emoções, o leitor se sente um intruso diante daquilo que poderia ser apenas mais um retrato do cotidiano de uma família senão fosse as circunstâncias limítrofes que todos estão vivendo.

Por ser escrito de maneira simples, não há grandes dificuldade para ler a obra. Destaco esse ponto, pois sei que um dos maiores impedimentos que os leitores têm no momento de se aventurar em obras diferentes das que estão acostumadas é a linguagem utilizada pelo autor. Se esse for o seu caso, pode ficar tranquilo que com exceção das situações limites vividas pelo protagonista, não há nada difícil demais para ser entendido. Ademais, outro ponto que vale a pena ser ressaltado é que por mais que se queira, Kafka não oferece respostas no seu texto sobre o porquê da metamorfose ter ocorrido. Não se pode associá-la diretamente à uma praga divina, muito menos à um vírus, de modo que o que resta para o leitor é criar suas próprias hipóteses e experimentar no máximo o sentido do adjetivo "kafkiano" que continua sendo sinônimo de incompreensível.

[...] não esqueceu de se lembrar, nos intervalos, de que decisões calmas, inclusive as mais calmas, são melhores que as desesperadas. Pág. 14

--- Isabelle Vitorino ---

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