Resenha: Bambi por Felix Salten

Pra quem não me conhece, além de apaixonado por livros, sou também um fã de carteirinha de animações. Em minha peregrinação atrás das obras em que o Estúdios Disney se baseou para fundar seu universo, eis que a (agora falecida) Cosac Naify lançou a edição de um dos mais clássicos filmes infantis. Vamos juntos para a floresta, acompanhar uma civilização que poderia ser muito bem a nossa!

Título: Bambi
Autor: Felix Salten
Editora: Cosac Naify
Ano: 2015
Páginas: 224
Onde comprar: Amazon 
Um dos personagens mais amados por crianças e adultos do mundo todo, Bambi chega às prateleiras das livrarias pela primeira vez em português. Escrito pelo austríaco Felix Salten e publicado originalmente em 1923, o romance Bambi – Uma história de vida na floresta popularizou-se pela versão cinematográfica feita pelos estúdios Disney, em 1942. A narrativa doce – mas em certos momentos também sombria e dolorosa –, nos apresenta Bambi, o cervo que pouco a pouco vai desvendando os mistérios da floresta e, na batalha pela sobrevivência, entende que o homem, a quem chama apenas de Ele, é o seu principal inimigo. Escrito sob a ótica dos animais, o livro tem como marca registrada os profundos diálogos entre os moradores da floresta, nos quais cabem assuntos dos mais variados, além de questionamentos acerca da vida. As delicadas ilustrações ficaram a cargo do premiado artista Nino Cais, que trabalhou com colagens de silhuetas dos bichos sobre recortes de livros de botânica, entre outros. Uma parábola atemporal sobre a vida e a morte que finalmente poderá ser redescoberta pelo leitor brasileiro.

Iniciando a história do cervo mais famoso das animações, acompanhamos o nascimento de Bambi no coração de uma floresta. Ao contrário do que o filme nos traz, seu nascimento foi um acontecimento isolado, observado apenas por uma gralha-azul bastante inconveniente.A partir de então vamos seguir a vida e rotina de Bambi. Sua infância com a mãe, seus primos, Gobo e Falina e diversos outros animais da floresta, o afastamento da mãe por conta do inicio da maturidade do pequeno cervo, até aquele fatídico inverno, o primeiro amor, a maturidade e seu relacionamento com o misterioso príncipe dos cervos.

A característica mais evidente desse livro é o antropomorfismo de seus personagens. Sendo um recurso deveras utilizado, principalmente em fábulas e contos de fadas, trata-se de atribuir traços, emoções e intenções humanas para seres e entidades não humanos, sejam animais, objetos, ou mesmo divindades. Essa forma de escrita existe desde os primórdios da antiguidade, seja em um contextos religiosos, atribuindo sensações e emoções humanas à deuses, seja por meio de fábulas para dar lições de moral.

A questão é que aqui, o antropomorfismo está tão bem desenvolvido e intrincado, que por diversas vezes me esqueci completamente que esse era um livro sobre um reino animal! No livro, temos uma sociedade que funciona um tanto sutilmente como uma monarquia: Todos cuidando cada um de seus afazeres, seja colhendo comida para um longo inverno, seja sobrevivendo à cada dia, enquanto temos uma raça que é reconhecida por seu porta ágil, elegante e régio. E se, na savana, é o leão que é considerado o rei dos animais, aqui os cervos são admirados por todas as características antes faladas, e ser considerado amigo de um deles era sempre uma honra. Algo que reforça esse meu argumento é o fato de que, entra os cervos, todos detém um nome próprio (Bambi, Falina, Gobo, etc...), com exceção de um ou outro que o nome não é mencionado, mas entre os outros animais, eles sempre são "o coelho", "a borboleta", "a Coruja", e assim sucessivamente.

Outro exemplo de como as características humanas são muito bem exploradas, uma de minhas cenas favoritas na história é quando Bambi, já crescido e com sua coroa de chifres em desenvolvimento se vê cara a cara com um de seus parente distantes, o alce. Ambos, em suas mentes admiram um ao outro, por sua força, porte, entre outras características, porém, eles não se dirigem um única palavra, o primeiro por considerar o parente convencido e arrogante, o segundo por achar o outro tão belo e inteligente, que faria papel de bobo falando sobre o que quer que fosse. Quem nunca?

Mas o que norteia toda a história não é os relacionamentos das raças e a fusão criativamente brilhante da vida selvagem com a sociedade humana. O grande cerne do livro trata-se da relação do Homem com a natureza. Sendo uma floresta cheia de vida selvagem, provavelmente situada nos Estados Unidos, nada mais natural que o local seja periodicamente alvo de caçadores, isso cria uma discussão entre os animais sobre o Homem: suas motivações, poderes, frieza e o temor que todos os animais tem dele. Dois dos personagens mais importantes para o aprofundamento dessa discussão são Gobo e o príncipe.

Gobo desapareceu no mesmo dia do ocorrido à mãe do Bambi, tendo sido considerado por muito morto. porém, tempos depois, ele retorna à floresta e conta que foi tratado pelo Homem. Tudo seria ótimo, só que agora Gobo é um animal doméstico em meio a animais selvagens, aderindo a hábitos totalmente estranhos e nocivos à sobrevivência. Uma clara demonstração do que ocorre quando nós libertamos um animal já domesticado na natureza.

O príncipe é o mais antigo e sábio alce da floresta, uma figura quase mística, que pouquíssimos vêem, tanto que já o consideram falecido. Obviamente, ele tem um interesse bastante particular por Bambi, e sua presença na vida do cervo terá uma importância gigantesca para esse debate.

Mais que uma meiga e fofa história sobre um ser na natureza, Bambi é um apelo para que tenhamos consciência que nossas ações podem machucar e prejudicar todo um ecossistema. Portanto, pensem muito bem sobre alimentar animis selvagem, ou usar os mesmos para posar em fotos com tochas de eventos patéticos.

Um sentimento de orgulho invadiu Bambi e lhe inspirou pensamentos profundos. Sim, a vida era mesmo difícil e cheia de perigos, mas viesse o que viesse, ele aprenderia a suportar tudo.


PS: Quem tiver oportunidade, leia ouvindo "As Quatro Estações" do Vivaldi. As mudanças de tom das estações combinam maravilhosamente com as mudanças das estações da história!

--- Marcel Elias ---

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