Resenha: Nós, os Afogados por Carsten Jersen

Pessoal, hoje iremos falar de um dos livros mais impressionantes que já tive o prazer de ler. Nunca li nada nem semelhante, uma verdadeira obra prima. Mais uma obra dinamarquesa que me conquistou. Vamos embarcar nessa aventura?


Título: Nós, os Afogados
Autor: Carsten Jersen
Editora: Tordesilhas
Ano: 2015
Páginas: 696
Onde comprar: Saraiva 
Com uma voz narrativa épica e poderosa, Nós, os afogados é uma saga que nos remete às epopeias marítimas de Herman Melville e Robert Louis Stevenson. Compreendendo cem anos de história, o livro acompanha várias gerações de navegadores da cidade dinamarquesa de Marstal – de Samoa à Terra Nova, de Cingapura a Hobart, de Murmansk à Islândia e de volta a Marstal, onde as mulheres esperam e choram seus mortos. Elogio solene a um modo de vida que ficou para trás e relato comovente dos sofrimentos humanos, o livro é também a descrição crua de uma época em que a Europa passa por grandes transformações – e suas histórias de amor são um contraponto sensível ao insuperável afã do homem em conquistar o desconhecido.

Cem anos de história. Nesse livro, iremos embarcar na vida das pessoas de Marstal, cidade pequena e orgulhosa, cidade de marinheiros, porém pertencente às viúvas e aos órfãos. De 1848 a 1945, há muita história a ser relatada por uma narrativa poderosa, um grande elogio a um modo de vida que ficou para trás deixando apenas lembranças naqueles que viveram ou fizeram parte dos prazeres e sofrimentos presentes ali.

O livro está divido em quatro partes bem elaboradas, de modo a auxiliar o leitor a compreender melhor todos os acontecimentos. Na primeira parte, acompanhamos os marinheiros a uma disputa de um ducado pela Dinamarca na guerra contra a Alemanha em 1848. Dando maior visibilidade a Laurids Madsen, aquele que “foi ao céu e voltou” depois da explosão do navio em que estava e de como passar por essa guerra o mudou, fazendo-o largar sua família e ir embora, deixando todos sem saber se estava vivo ou não.

A partir de um pedaço da primeira parte até a terceira parte do livro, temos Albert como personagem principal, onde sua vida e suas aventuras são narradas, desde o momento em que ele se torna um jovem marinheiro e sai mar afora em busca de respostas e do paradeiro de seu pai, Laurids Madsen, seu amadurecimento e sua evolução de marinheiro a capitão até quando ele decide se fixar em terra, depois de uma longa vida ao mar. Mesmo sendo um dos maiores corretores de navios da cidade de Marstal, sem mulher ou filhos e tendo uma vida boa e confortável, Albert só acha razão para uma possível felicidade depois que conhece o jovem Knud Erik, filho da viúva Klara Friis, com os quais estabelece um laço de amizade e confiança.

Depois disso, passa a ter como personagens principais Klara Friis e seu filho Knud Erik, dando uma pequena conclusão nessa saga de cem anos de muitas aventuras ao mar, muito pranto na terra e muito aprendizado e evolução na pequena cidade de Marstal.

“Nós, os Afogados” me surpreendeu de várias maneiras que eu não esperava. Primeiro: sua narrativa. Nunca havia lido nenhum livro narrado pela primeira pessoa do plural. Esse “nós” que nos conta a história o tempo todo nada mais é todos os marinheiros, as pessoas que ali vivem. Isso trouxe uma abordagem totalmente inusitada, já que os relatos podem ser apenas fofocas das pessoas da cidade ou a mais pura realidade. 

Depois: sua temática. Mesmo mantendo o foco em alguns personagens, a história não é sobre eles. Nem mesmo sobre a Dinamarca ou a pequena cidade de Marstal; mas sim sobre o tempo e como as coisas mudam ao longo dele. O tempo nada mais é do que a chave para entender de verdade o que o livro realmente que nos passar. Mesmo relatando a dura vida das pessoas que ali vivem, Carsten Jensen ainda consegue introduzir um humor sagaz em vários momentos ao decorrer do livro.

Não recomendaria esse livro para um leitor “iniciante”, pois além de ser um livro grande, ele é repleto de reflexões e uma filosofia que, para muitos, pode se tornar complicado de compreender. É uma leitura bastante intensa e também relata uma realidade muito cruel da vida dos marinheiros e das pessoas que estão ao seu redor. Mesmo assim, ele traz consigo muitas questões que podemos dizer que são ideais que toda pessoa tenha conhecimento sobre e leve consigo.

Preciso também falar que a editora Tordesilhas, por mais que publique poucos livros, estes são de uma qualidade incontestável. Não li nenhum livro que estivesse abaixo de “muito bom”. Ela consegue cativar os seus leitores de várias maneiras diferentes. Uma das coisas que mais me agrada é trazer livros fora do eixo EUA, muitos da parte Nórdica e mais fria da Europa, com cenários magníficos para a imaginação de cada leitor. “Nós, os Afogados” não está nem um pouco atrás do selo de qualidade Tordesilhas.

Apesar de ser uma história bastante densa, é escrita de uma maneira bem simples, condizendo com a simplicidade do cenário e de seus personagens e narradores. Não é um gênero que eu estou acostumada a ler. Também, acho que nunca li nada parecido. Mesmo assim, é um livro impressionante, um dos melhores que já tive o prazer de ler. Ainda que eu ache que as pessoas que estão começando a se envolver no mundo da leitura agora não devam começar com algo tão intenso, esta é uma leitura mais que recomendada. Espero que vocês gostem tanto quanto eu gostei.

“O mar cruel pode ser nossa cova
Se não estiver do nosso lado.
Como o vento louco, a furiosa chuva
E a espada reluzente do relâmpago,
Sua palavra pode acalmar a maré brava.
Venha para bordo conosco, logo!”
Pág. 485

--- Juliana Gueiros ---

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