Resenha: Doutor Sono por Stephen King
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E
depois de sofrer e perder meu sono com O Iluminado, eis que Stephen King brinda
a todos os leitores que viviam se perguntando: O que houve com o jovem Danny
Torrance?
Título: Doutor Sono
Autor: Stephen King
Editora: Suma de Letras
Páginas: 480
Ano: 2014
Mais de trinta anos depois, Stephen King revela a seus leitores o que aconteceu a Danny Torrance, o garoto no centro de O Iluminado, depois de sua terrível experiência no Overlook Hotel. Em Doutor Sono, King dá continuidade a essa história, contando a vida de Dan, agora um homem de meia-idade, e Abra Stone, uma menina de 12 anos com um grande poder. Assombrado pelos habitantes do Overlook Hotel, onde passou um ano terrível de sua infância, Dan ficou à deriva por décadas, desesperado para se livrar do legado de alcoolismo e violência do pai. Finalmente, ele se instala em uma cidade de New Hampshire, onde encontra abrigo em uma comunidade do Alcoólicos Anônimos que o apoia e um emprego em uma casa de repouso, onde seu poder remanescente da iluminação fornece o conforto final para aqueles que estão morrendo. Ajudado por um gato que prevê a morte dos pacientes, ele se torna o "Doutor Sono". Então Dan conhece Abra Stone, uma menina com um dom espetacular, a iluminação mais forte que já se viu. Ela desperta os demônios de seu passado e Dan se vê envolvido em uma batalha pela alma e sobrevivência dela. Uma guerra épica entre o bem e o mal, uma sangrenta e gloriosa história que vai emocionar os milhões de fãs de O Iluminado, e satisfazer os leitores deste novo clássico da obra de King.
Stephen King resolve, após anos
de insistência de seus leitores, sanar um dos tópicos de maior curiosidade de
seus fãs: O que houve com o pequeno Danny Torrence, após a conclusão d’O
Iluminado?
Antes de iniciarmos, é necessária
uma ressalva: Doutor Sono é sim um livro de continuação. Diversos trechos,
cenas e o próprio personagem principal fazem necessário que o leitor conheça a
história de O Iluminado. E nem
adianta apelarem para o filme, pois, além de ser bem diferente, o autor não
gosta do filme do Kubrick e no epílogo de Doutor Sono ele mesmo avisa que não
considera a obra cinematográfica como parte de sua história.
Obviamente então, a história
vai nos contar como anda a vida de Dan. No prólogo temos a continuação imediata
da história, e como algumas criaturas obscuras do hotel voltaram a assombrar o
garoto, que aprendeu a se defender com seu amigo Dick Hallorann. Após isso
começamos a dar um salto, onde vemos Dan já mais velho. O antes pequeno e
inocente garoto agora se vê tragado pelo mesmo vício do pai, a bebida. Isto o
torna praticamente um coadjuvante de sua própria vida, nunca se fixando em um
local e nem mesmo criando vínculos com pessoas.
Tudo muda quando, em outra de
suas fugas pelo país, ele é atraído para uma cidade em New England por seu
antigo amigo Tony. Lá ele consegue um emprego temporário e conhece Billy
Freeman e Casey Kingsley, duas pessoas que terão uma importância vital na vida
de Dan deste momento em diante. Ao fazer então morada nesta cidade, passamos a
acompanhar também o nascimento e crescimento de uma garotinha chamada Abra Stone.
Abra é uma garota nascida quando Dan já se encontrava em New England, ela é iluminada,
com uma habilidade ainda mais poderosa que a de Dan, quando era mais jovem. Ela
sempre impressionou seus pais com essas habilidades, tanto que resolveu, com o
passar dos anos, evitar expor tais habilidades, na tentativa de apaziguar os
temores de seus progenitores.
A vida da garota muda completamente quando, ao deparar-se com um folheto de crianças desaparecidas de um jornal, encontra a foto de um rapaz com o qual já havia sonhado e, na tentativa de descobrir o que houve com o rapaz, acaba por se revelar aos seus assassinos, o Verdadeiro Nó. Esse é o nome de um grupo de viajantes nômades que estão em constante movimento pelos Estados Unidos, só que a pacata e inofensiva imagem de viajantes ao estilo cigano esconde um segredo. Eles são pessoas que descobriram a imortalidade raptando, torturando e assassinando crianças iluminadas, absorvendo a essência de sua iluminação, o que eles chamam de vapor. A história desses personagens se mistura de um jeito perigoso, cabendo a Dan ajudar e proteger essa garota, enquanto enfrenta sua luta contra o alcoolismo e relembra de seu tenebroso passado.
A vida da garota muda completamente quando, ao deparar-se com um folheto de crianças desaparecidas de um jornal, encontra a foto de um rapaz com o qual já havia sonhado e, na tentativa de descobrir o que houve com o rapaz, acaba por se revelar aos seus assassinos, o Verdadeiro Nó. Esse é o nome de um grupo de viajantes nômades que estão em constante movimento pelos Estados Unidos, só que a pacata e inofensiva imagem de viajantes ao estilo cigano esconde um segredo. Eles são pessoas que descobriram a imortalidade raptando, torturando e assassinando crianças iluminadas, absorvendo a essência de sua iluminação, o que eles chamam de vapor. A história desses personagens se mistura de um jeito perigoso, cabendo a Dan ajudar e proteger essa garota, enquanto enfrenta sua luta contra o alcoolismo e relembra de seu tenebroso passado.
Vamos a tudo o que me agradou
nesse livro. Quem leu minha resenha sobre O
Iluminado percebeu o quão sou fascinado e apaixonado por aquele livro. Foi
meu primeiro contato com o King e, de longe, é o meu livro favorito do autor.
Logo, minhas expectativas por esse livro atingiram níveis orbitais, o que nem
sempre é bom.
King como sempre acerta muito
bem quanto aos personagens. É muito interessante ele ter feito do Dan uma
vítima dos vícios do próprio pai e, diferente do patriarca dos Torrence, ter
resolvido lutar contra isso. A luta contra o alcoolismo de Dan é um dos pontos
mais incríveis desse livro. É uma narrativa sutil e mesmo tempo que intensa, de
como um vício pode tragar a pessoa por completo, independente do que a tenha
feito começá-la.
Abra também é outra personagem
que me trouxe um belo sorriso aos lábios. Ela é tudo aquilo que se pode esperar
de uma adolescente de 13 anos, e ao mesmo tempo tem uma maturidade incrível.
Ela é temperamental, explosiva e inconsequente, ao mesmo tempo em que é meiga,
gentil e assustada. Que adolescente não se sente imortal e acima de todos e
logo depois uma criancinha assustada, em algum momento da vida?
Os personagens secundários da
história também acabam nos prendendo, como os pais e a bisavó da garota, ou
mesmo Billy, Casey e o Dr. John, que tem um papel importante na trama.
Outra coisa que me deixou muito
entretido foram as referências. Stephen King mostra que não para no tempo e que
quer sempre atrair leitoras para seus romances, nos brindando com referências
musicais diversas e mesmo literárias, que passeiam por George Martin, Shakespeare,
Harry Potter, Senhor dos Anéis, Jogos Vorazes,
Crepúsculo, Edgar Allan Poe e até mesmo a séries, como Sons Of Anarchy.
Mas, como tudo na vida, nada é
perfeito.
Uma série de coisas me
incomodou no livro, apesar de achar que são coisas mais pessoas que por problemas
com o autor.
Nas resenhas anteriores, sempre
comentei sobre como King nos dá uma ambientação incrível, antes de nos trazer o
terror da história. Essa característica persiste, ele passa sim diversas
páginas nos apresentado a cenários e personagens da trama, que são de importância
extrema para o desenvolvimento da história, porém, dessa vez, achei que ele foi
mais depressa que o normal, como se ele estivesse com pressa em nos levar para
as cenas de ação e terror. Talvez seja uma nova abordagem do autor (pois meus
contatos com ele, com exceção e Joyland,
se estendem apenas aos romances mais antigos), mas isso acabou me desapontando
um pouco.
Mas acredito que o fato que me fez pensar que poderia ter um melhor desenvolvimento foi o Verdadeiro
Nó. Temos explicações sobre o que são e seu modus
operanti, mas me incomoda não sei como começou o grupo, ou mesmo me faz
interessar por ele. Fora a líder, Rose, e a Andi, que só sabemos mais no
prólogo, todo o demais membros parecem estar lá somente para encher o grupo, indo contra
algo que o Mestre é expert, que são as caracterizações. Mesmo a Rose tem um
desenvolvimento um tanto superficial a meu ver. Eles acabam não sendo aqueles
vilões que “amamos odiar”, mas simples assassinos que merecem punição. Fora
isso, a segunda motivação que leva o Nó a ir atrás da Abra me pareceu algo
extremamente forçado. Tentando ao máximo evitar spoilers, eles já tinham um
porquê para ir atrás da garota, era mesmo necessário uma doença, sendo que a causa
da mesma me pareceu um tanto absurda, devido ao fato do grupo já caçar crianças
há séculos?
E o “plot twist” da história também foi algo que considerei bastante
desnecessário e que, honestamente, não acresceu em praticamente nada a trama.
Mas o que não se pode falar é
que o livro é enfadonho. Temos boas doses de sobrenatural, autocrítica, ação, aventura
e a reconciliação do próprio Dan com seu passado. Para pessoas mais emotivas,
uma certa cena já no final do livro deixou meus olhos bem marejados...
Em suma, Doutor Sono é um livro
que, a meu ver, poderia ter sido melhor trabalhado, mas que não deixa a desejar
naquilo que se propõe a narrar, chegando a superar expectativas em alguns
momentos. É um encerramento de uma história iniciada a 30 anos atrás e que
povoou os sonhos (e pesadelos) de diversos fãs do autor.
E, citando o próprio Mestre: “Quando
estiverem em estradas e rodovias da América, fiquem de olho nesses trailers. Nunca
se sabe quem eles levam. Ou o quê.”
“A vida era um disco, cuja única tarefa era girar, e que sempre voltava ao início” – Pág. 459
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Marcel Elias ---
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