Resenha Especial: O Sol é Para Todos por Harper Lee

Ler "O Sol é Para Todos" foi um dos maiores desafios que tive como leitora. Isso porque além de se tratar de um clássico contemporâneo, o livro possui uma profundidade em seu enredo que torna tudo especial para o leitor. Por isso, espero que compreendam cada uma das minhas pontuações nessa resenha, bem como, que embarquem comigo nessa história profundamente verdadeira.

Título: O Sol é Para Todos
Autor (a): Harper Lee
Editora: José Olympio
Ano: 2015
Páginas: 350
Onde comprar: Saraiva | Submarino

Um livro emblemático sobre racismo e injustiça: a história de um advogado que defende um homem negro acusado de estuprar uma mulher branca nos Estados Unidos dos anos 1930 e enfrenta represálias da comunidade racista. O livro é narrado pela sensível Scout, filha do advogado. Uma história atemporal sobre tolerância, perda da inocência e conceito de justiça. O sol é para todos, com seu texto forte, melodramático, sutil, cômico (The New Yorker) se tornou um clássico para todas as idades e gerações.


Posso dividir minha experiência como leitora como sendo: antes de ler "O Sol é Para Todos" e depois de ler a obra máxima de Harper Lee. A verdade é que esse livro mexeu comigo em mais níveis do que eu sou capaz de expressar, pois mostrando um pouco da vida dos negros nos Estados Unidos através dos olhos de uma menina em plena fase de desenvolvimento, a autora faz um relato comovente sobre o valor do ser humano. Ambientada nos anos 30, o leitor é inserido no cotidiano de uma cidade sulista que convive com as diferenças raciais ainda latentes na sociedade mesmo após o fim da escravidão no país e que não possuem indicações de uma evolução de pensamento a respeito do assunto.

O contraponto desse retrato está concentrado na figura de Atticus Finch, um advogado de meia idade que luta todos os dias para dar aos seus filhos – que cria com a ajuda de Capúnia – uma educação que permita que eles pensem de maneira própria para que as amarras preconceituosas da sociedade jamais os circundassem. Entretanto, o que faz esse personagem tão memorável, é o fato de ele nunca dizer que uma pessoa está errada por não ter alcançado a mesma conclusão que ele. Ele pode ficar frustrado com os resultados que esse tipo de comportamento pode causar, mas jamais diz que aquela pessoa é menos merecedora de respeito por isso. Sendo um leitor voraz e homem com profundo avanço intelectual, ele muito se assemelha as figuras dos antigos filósofos gregos que não se intitulavam como sábios.

Ter um exemplo como esse em casa, fez toda a diferença na vida de Scout e de seu irmão Jem, pois a medida que vão crescendo, percebem que a parte mais difícil de se viver em sociedade é justamente ser tolerante com os pensamentos conflitantes, mesmo que isso signifique permitir que outras pessoas julguem você sem que você rebata. Apesar do Jem ser extremamente parecido com o Atticus, é na figura de Scout que nos sentimos representados. Ela é uma garota muito esperta e que questiona as atitudes dos moradores da sociedade e de sua própria família a todo o momento, em contrapartida, quando o seu pai lhe dar uma resposta, ela prontamente aceita e deixa de pensar naquele assunto. Imagino que isso aconteça pela sinceridade que o Atticus utiliza, pois mesmo adequando as suas palavras para uma garotinha de 10 anos, ele jamais a deixa sem resposta ou mente para ela.

O livro é dividido em duas partes. Na primeira somos apresentados aos moradores da cidade e a maneira como cada um desenvolve um papel dentro dela. Posso dizer que ela possui mais leveza, pois além de estarmos imersos nas lembranças de um verão de Scout, ainda podemos compartilhar das travessuras infantis que ela viveu ao lado de seu irmão e de seu amigo Dill, na tentativa de fazer com que seu vizinho – que era quase uma lenda urbana – Boo Ridle saísse de casa. Apesar de Harper Lee já indicar que estamos diante de uma cidade extremamente preconceituosa e tradicionalista, essa primeira parte não se compara com tudo aquilo que nos é mostrado na segunda parte da história.

Nesse outro momento do livro, além de vermos o Atticus se posicionando como pai, ele passa a mostrar a sua faceta de advogado graças à defesa que ele foi designado a fazer de um negro acusado de ter estuprado uma moça branca. A autora não mostra prontamente o porquê daquilo estar acontecendo com aquele homem, mas à medida que vamos acompanhando o desenrolar dos fatos, percebemos que estamos diante de uma história que revela um nível de desigualdade assustador, onde mesmo diante de relatos mentirosos, o tom da pele é quem dita quem é inocente e quem é culpado, e onde o negro é visto como mais um que faz parte do todo, sem nenhuma individualização ou emoção própria.

Sem sombra de dúvidas "O Sol é Para Todos" é uma história forte e que faz o leitor pensar sobre a sociedade que o cerca, bem como, o seu posicionamento diante das situações que a vida lhe cobra atenção. Me sinto profundamente agradecida por ter tido a oportunidade de ler esse livro e conhecer fatos como os que foram narrados nele. Ainda mais porque foi ele que trouxe até mim um personagem impactante como Atticus. Seria maravilhoso se tivéssemos mais pessoas como ele ao nosso redor! O que mais posso dizer além do que já foi dito? Apenas que essa obra pertence aquela categoria difícil de ser encontrada de livros que são capazes de não só mudar, como também, de salvar vidas.

[...] Coragem é fazer uma coisa mesmo estando derrotado antes de começar – prosseguiu Atticus. – E mesmo assim ir até o fim, apesar de tudo. Pág. 143

--- Isabelle Vitorino ---

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