Resenha Especial: O Retrato de Dorian Gray por Oscar Wilde
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Reflita: Como seria um retrato da sua alma?
Autor: Oscar Wilde
Editora: Landmark
Páginas: 224
Ano: 2009
Onde comprar: Submarino
Sinopse: Dorian Gray é um belo e ingênuo rapaz retratado pelo artista Basil Hallward em uma pintura. Mais do que um mero modelo, Dorian Gray torna-se inspiração a Basil em diversas outras obras. Devido ao fato de todo seu íntimo estar exposto em sua obra prima, Basil não divulga a pintura e decide presentear Dorian Gray com o quadro. Com a convivência junto a Lorde Henry Wotton, um cínico e hedonista aristocrata muito amigo de Basil, Dorian Gray é seduzido ao mundo da beleza e dos prazeres imediatos e irresponsáveis, espírito que foi intensificado após, finalmente, conferir seu retrato pronto e apaixonar-se por si mesmo. A partir de então, o aprendiz Dorian Gray supera seu mestre e cada vez mais se entrega à superficialidade e ao egoísmo. O belo rapaz, ao contrário da natureza humana, misteriosamente preserva seus sinais físicos de juventude enquanto os demais envelhecem e sofrem com as marcas da idade.
Dorian Gray é um jovem humilde, que acaba de ingressar na alta sociedade inglesa. Por sua beleza fora do normal e uma personalidade doce, gentil e amável, ele torna-se a inspiração do pintor Basil Hallward, que resolve retratar um quadro do belo rapaz.
Em seu ateliê, entra em cena Lorde Henry Wotton, amigo de
Basil, que logo fica curioso sobre este jovem que o pintor tanto aclama e
derrama elogios e decide por aguardar a presença do mesmo.
Dorian então surge pela primeira vez no livro, pousando para
a então sessão final da pintura que o amigo tanto desejava fazer e, tão logo
tem uma conversa com Henry, todo o cinismo e malicia do Lorde começa a
transformar o íntimo do jovem aristocrata. Com a finalização do quadro, uma
estranha ligação é formada através do desejo abrupto, mas sincero do rapaz: O
retrato agora passa a marcar toda a passagem do tempo e revelar toda a perfídia do jovem, enquanto o mesmo
continuará eternamente com sua aparência jovem e angelical. A partir de então, com
Lorde Henry tornando-se uma influência negativa na vida do rapaz, Dorian passa
a ser uma caricatura deturpada daquilo que foi um dia, mas sempre mantendo sua
juventude e beleza.
Meu primeiro contato com essa história veio por meio da
adaptação cinematográfica de 2009, que não chega nem perto de fazer jus ao
livro, mas que na época me interessou bastante pelo enredo da historia,
tornando-se meu primeiro clássico e um dos favoritos da vida!
(Vale aqui um parêntese: É por isso que acho que toda
adaptação é válida. Verdade que várias são dignas de pena, mas mesmo essas
podem acabar despertando interesse para que as pessoas busquem as fontes de
onde vieram as histórias).
Oscar Wilde hoje não é conhecido por suas críticas ácidas à toa.
Esse livro é um tapa na cara de luvas na sociedade do século XIX, que prezava
muito mais o parecer que o ser (um tema recorrente ou não?).
Um dos aspectos mais incríveis pra mim é a escrita. Oscar Wilde
tem um jeito todo seu de escrever. Um requinte tão singular e incrível que
chega a ser um deleite ler cada linha do texto, fazendo o leitor sentir-se até
mais inteligente a cada palavra absorvida. Jeito igual ao dele só encontrei uma
única vez, com Raul Pompéia (Até comento isso em minha resenha d’O Ateneu)
Não o suficiente, temos os personagens. No livro praticamente
inteiro seguimos Dorian, onde acompanhamos a corrupção da alma do
rapaz até seu ponto crítico. Os demais personagens acabam se tornando todos
secundários, mas não menos importantes. Lorde Henry e Basil são quase a definição da dualidade do
homem. Enquanto Henry é o lado cínico, hipócrita e maldoso, nunca forçando, mas
sugerindo maliciosamente o nosso protagonista aos prazeres da vida, Basil é
aquele que sempre tenta trazer o Dorian de volta a seu lado puro e gentil de
rapaz do campo, aquele que trouxe para si tanto fascínio.
Vale ressaltar que Henry tem as melhores citações que já
pude ler em um livro. Aqueles mais entendidos sempre ressaltam que Wilde sempre
carregava seus personagens de suas próprias características e opiniões, sendo
Henry um dos melhores exemplos nesse caso.
Toda a ambientação do livro é carregada de características dos
contos góticos vitorianos que muitos amam: O clima fechado, a neblina, a ideia de
uma sociedade que precisa mentir e esconder suas próprias naturezas, para serem
mais “puros” e “civilizados”, enquanto continuam por admirara um rapaz que
nunca envelhece, e ainda nos brinda com um tipo de terror mais sutil e
refinado.
Como é de conhecimento geral, Oscar Wilde trouxe à tona em
seu romance a características de homossexualidade ao texto, algo que foi
inclusive usado contra o próprio em seu julgamento. Embora seja considerado bastante inofensivo para dias
atuais, as sutis passagens foram um choque para uma sociedade tão “correta”,
pois homossexualismo era considerado um crime na época em que a obra foi
publicada, forçando o autor a reescrevê-la, alterando alguns pontos e
acrescendo capítulos que tornaram o livro mais romantizado.
A edição que tenho posse é a da Landmark. Nessa edição há os
13 capítulos originais. Assim como a versão em sua língua de publicação. Assim
como muitos, eu recomendo fortemente para aqueles que já têm algum domínio da língua
inglesa que deem uma chance ao original em inglês, pois a escrita do Wilde é
algo digno de nota.
O Retrato de Dorian Gray é um romance de ficção gótica
carregado de uma crítica espinhosa não apenas a uma sociedade banhada na
hipocrisia, mas ao individuo enquanto pessoa. Como nos portaríamos se fôssemos
eternos? Será que a beleza, a fortuna, a juventude são mesmo instrumentos que
nos permitem fazer o que quisermos?
E volto a perguntar: Como seria o retrato de sua alma?
“’Você é de fato uma má influência, Lorde Henry? Tão má quanto Basil diz?’
‘Não existe essa coisa de boa influência, senhor Gray. Toda influência é imoral – imoral do ponto de vista científico.’
‘Por quê?’
‘Por que influenciar alguém é dar-lhe sua própria alma [...]’” Pág. 26
Pessoal, vale um adendo bastante particular aqui:
Eu recomendo os livros da Landmark principalmente para aqueles com mais domínio na língua inglesa, ou que tem vontade de ter os livros nos dois idiomas. Acho bacana esse trabalho deles de traduzir e colocar juntos os originais, mas, apesar de não ter visto nada tão drástico nessa edição em si, a editora peca quanto a revisão dos textos, o que torna a leitura, no caso de alguns livros, um pouco confusa.
--- Marcel Elias ---
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