Resenha Especial: Frankenstein por Mary Shelley

E quando a tecnologia avança tanto que conseguimos criar a vida a partir do nada?

Título: Frankenstein - ou O Prometeu Moderno
Autora: Mary Shelley
Editora: Martin Claret
Páginas: 09 a 166 (536)
Ano: 2011
Onde comprar: Submarino
Sinopse: Três clássicos do terror imortalizados pelo tempo e reunidos em um único volume, Frankenstein, O médico e o monstro e Drácula destilam em suas páginas aspectos sinistros e macabros da imaginação humana. Os três livros se originaram de pesadelos de seus autores e nos remetem a paisagens sombrias, como os Alpes suíços, onde nasceu o Frankenstein, a acinzentada Londres do Dr. Jekyll - e seu outro eu misterioso - e a tenebrosa Transilvânia do Conde Drácula. Em Frankenstein, o criador perde o controle sobre sua criação, e o leitor passa por momentos de apreensão e horror psicológico. Em O médico e o monstro, o leitor acompanha perplexo, os dramas do Dr. Jekyll, diante da faceta assustadora de sua própria personalidade: o temível Mr. Hyde. A história aborda a dialética dos valores morais em sua forma mais assombrosa e vai além do bem e do mal da alma humana. Em Drácula, o autor baseou-se no fabulário húngaro do século XVIII para criar a história do Conde da Transilvânia, que se tornou o típico representante do mito do vampiro. Nesse livro, o leitor deve se preparar para penetrar num universo completamente gótico e envolvido por terror.

Mary Shelley, seu esposo, Percy Shelley, Lorde Byron e John Polidori reuniram-se durante o verão de 1816 em Genebra e, em uma das noites dessa reunião, começam a discutir e ler sobre contos de terror, o que faz com que Lorde Byron lance um desafio: Cada um deve escrever sua própria história e ler para os demais. Eis então que, após uma noite com pesadelos, a única mulher do grupo escreve o que viria a se tornar não apenas um dos maiores clássicos do terror gótico, como também a primeira história de ficção científica.

Escrita de forma epistolar, acompanhamos o expedicionário capitão Robert Walton, que escreve para sua irmã, Margareth Saville, relatando toda sua expectativa e aventura, pois esta está rumo ao Polo Norte, um região pouco explorada.

Após algumas cartas relatando sobre as dificuldades e aventuras fornecidas pela viagem, eis que Robert relata ter visto um vulto gigante pela planície gelada, que trouxe pavor a alguns de seus homens. Horas depois, eles encontram um jovem rapaz, com aparência quase morta e sofrida. Após dar-lhe abrigo e cuidado, Robert cria um laço de afeição com esse estranho homem culto, de maneiras gentis e refinadas, que muito provavelmente havia sido nobre antes do sofrimento abatê-lo. Após algum tempo, eis que o jovem se apresenta como Victor Frankenstein e passa a relatar ao Robert, que relata à sua irmã pelas cartas, sua macabra e aterrorizante história.

De naturalidade suíça, Victor Frankenstein era um jovem bastante curioso e intuitivo, muito voltado para o avanço da ciência. Vale ressaltar que a ciência mencionada é um pouco diferente da que temos hoje, era algo mais voltado à alquimia, a prevalência do homem sobre a matéria, sobre o etéreo e mortal. Ao crescer ele resolve então dar prática a sua obcessão: criar um homem imortal.

Quando completa 17 anos, Victor parte para estudar na Universidade de Ingolstadt, na Alemanha, onde, sob a instrução de tutores, começa seus estudos práticos da ciência moderna, mas sempre com seu desejo guardado dentro de si.  Após muito estudo e uso de cadáveres (ou pedaços) em seu projeto, eis que ele é bem sucedido: A partir de restos e pedaços humanos ele cria e dá vida a uma criatura.

Se a ideia previamente o animava, ao presenciar sua criação ele tem então um súbito choque e abandona sua criação, lívido de terror. Após algum tempo (não se sabe quanto), onde ele está de volta a Genebra e a seu lar, a criatura consegue localizá-lo e chama sua atenção da maneira mais terrível que pode, e a partir de então teremos Victor terá que encarar sua criatura e decidir se irá se submeter a seus desejos mortais, ou se enfrentará sua terrível experiência que deu certo.

Frankenstein é uma história densa, que nos traz diversas reflexões enquanto nos dá cenas atemorizantes. Diferente da maioria das histórias que envolvem o retorno de mortos, não temos nenhum tipo de apego por parte do Victor com à sua criação, como um amigo que faleceu e deseja tê-lo de volta. A criatura é uma experiência, ele é um mero aglomerado de partes humanas já falecidas que voltaram a se mexer graças a impulsos elétricos. É tão impessoal que nem nome tem.

A história nos fala sobre o medo do avanço da tecnologia e da ciência, e de como a linha entre o ético e  o moral podem ser facilmente ultrapassadas. É uma história sobre o medo do que não conhecemos, além de um relato sobre a verdadeira natureza humana.

A criatura é maltratada e humilhada por conta de sua aparência grotesca e justifica seus atos mais torpes alegando que nunca teve chance de demonstrar bondade, pois sempre lhe foi negada. Victor, ao meu ver, é um rapaz imprudente e irresponsável, que não soube lidar com o grande problema que tinha em mão ,mas que também não merecia os infortúnios que o destino acabou por reservar-lhe.

Mary Shelley consegue brincar com nossos sentimentos durante toda a narrativa, pois podemos sentir pena de um e raiva do outro e mudar nossas opiniões no capítulo seguinte. Isso cria uma dinâmica bastante interessante e nos faz inclusive duvidar de nosso próprio senso de juízo.

Mas, apesar de uma boa temática e personagens bastante chamativos e interessantes, a história traz alguns pontos que me desagradaram demais.

O primeiro dele e principal é o narrador. A história é uma carta escrita por uma pessoa, que escutou o relato de outra e que relata o relato de uma terceira. É confuso e muito chato. Isso sem falar que não consigo ver o narrador com uma imparcialidade durante o relato, o que me levou em diversas passagens a duvidar se certos acontecimentos são, de fato, verídicos.

Outro fato que me incomoda é a criatura em si. A agilidade de desenvolvimento dela é uma coisa absurda. Ela consegue sozinha aprender a andar, falar, ler e torna-se altamente prolixo e enfadonho em diversas passagens. Sem contar que é relatada como um homem extremamente alto e corpulento, mas tem uma habilidade de se esconder digna de artes marciais. Acho muito difícil de acreditar nesse ser tão capacitado assim.

No mais, Frankenstein é sim uma leitura extremamente válida para aqueles que desejam conhecer mais sobre as origens do horror que temos hoje, no mundo do entretenimento. É um relato sobre como a ciência sem ética pode tornar-se terrível e nos faz refletir sobre quem é o verdadeiro monstro mediante tudo isso: O jovem criador com um desejo de vencer a mortalidade, ou sua criatura mortal que assusta a todos?


“Você me odeia, mas seu ódio não pode igualar-se ao que eu próprio dedico a mim

--- Marcel Elias ---

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