Resenha: A Esperança por Suzanne Collins

Retorno com a resenha de Jogos Vorazes, concluindo assim essa trilogia com seu último livro, onde veremos a consolidação da revolução.

Título: A Esperança
Série: Jogos Vorazes #3
Autor (a): Suzanne Collins
Editora: Rocco
Páginas: 424
Ano: 2011
Onde comprar: Saraiva | Submarino
Depois de sobreviver duas vezes à crueldade de uma arena projetada para destruí-la, Katniss acreditava que não precisaria mais de lutar. Mas as regras do jogo mudaram: com a chegada dos rebeldes do lendário Distrito 13, enfim é possível organizar uma resistência. Começou a revolução. A coragem de Katniss nos jogos fez nascer a esperança em um país disposto a fazer de tudo para se livrar da opressão.
E agora, contra a própria vontade, ela precisa assumir seu lugar como símbolo da causa rebelde. Ela precisa virar o Tordo. O sucesso da revolução dependerá de Katniss aceitar ou não essa responsabilidade. Será que vale a pena colocar sua família em risco novamente? Será que as vidas de Peeta e Gale serão os tributos exigidos nessa nova guerra? Acompanhe Katniss até o fim do "thriller", numa jornada ao lado mais obscuro da alma humana, em uma luta contra a opressão e a favor da esperança.

Nesse livro final vamos ter as consequências de toda a história. Como vimos no livro anterior, Katniss explodiu a arena e foi resgatada por um pequeno grupo, com metade dos tributos restantes, e levada para o Distrito 13, que era tido como destruído desde a primeira revolta, que culminou na criação dos Jogos Vorazes. A outra metade, que inclui Peeta e Johanna, foi capturada pela Capital e não se sabe qual foi o destino deles.

Katniss tem que lidar com sua própria mente. A paranoia já vista no livro anterior, vem muito mais forte a respeito da guerra vindoura e em ideias para destruir seu nêmeses, o Presidente Snow. Vinculado a isso, o Distrito 13 deseja usá-la como porta voz da revolução, através de propagandas que eles lançarão no sinal de TV da Capital, para que o povo dos demais Distritos possam se unir a eles rumo à revolução. Cabe a Katniss decidir se fará parte deste plano e rumar, junto aos Distritos, todos unidos, em prol da libertação.

O livro, a meu ver, tem duas partes. A primeira seria todo o conflito interno da Katniss, onde, apesar de já termos alguma ação, a grande ênfase está na cabeça da Katniss e nos pensamentos que a levarão a tomar suas decisões. Na segunda parte seria o foco já na revolução, a invasão à Capital e procedimentos estratégicos tomados pelos times para o combate, culminando na conclusão. Esse era um livro que tinha tudo para fechar essa trilogia de uma forma épica e única, pois a autora nos deu uma protagonista singular, uma trama bem elaborada, com diversas críticas e usando e abusando de ótimos elementos distópicos, fora os personagens bem elaborados da autora (que é o grande marco da dona Suzanne). Mas, para mim, o livro acabou ficando... Fraco.

Não tenho nada contra livros de caráter introspectivo, muito pelo contrário. Acho bacana quando os autores nos permitem explorar a mente dos personagens, pois nos dá uma ideia mais táctil do mesmo, foge da ideia de que “estamos apenas acompanhando seres que não existem”. Porém, a Suzanne pesou a mão na hora de fazer isso com a Katniss, o que não teria problema, se nosso Tordo rebelde não estivesse com a mente focada em uma só coisa: destruir o Presidente Snow. Tudo que ela falava, pensava ou via sempre voltava a esse mesmo ponto, o que fazia a história dar voltas e voltas, parando sempre no mesmo lugar.

Imagino que ela tenha tentado fazer a coisa mais verossímil possível, como a mente de um soldado calejado pelas guerras, o que me faz entender a ideia do que ela quis nos passar, mas isso não muda o fato que ela tornou todo o monólogo mental da Katniss muito enfadonho. E isso ocorre em mais da metade do livro.

Outra coisa que me deixou bem chateado com a história foi justamente a pressa em que a segunda parte aconteceu. Enquanto na primeira parte temos o enfadonho e extenso drama psíquico do Tordo rebelde, a segunda parte acontece coisas demais para páginas de menos, o que culminou em relatos rápidos e mortes de personagens querido tratadas como mortes de figurantes. O excesso de drama em certas partes também me incomodou em certas partes. Por mais que se deseje escrever uma história de caráter verossímil, acho importante dosar a quantidade de carga dramática, para não ficar parecendo um drama mexicano.

Essa falta de timing da autora, bem como essa carga dramática demasiada, acabaram por postergar um pouco minha leitura.

Mas, fear not, porque esse livro não é só coisa ruim!

Lembram-se do romance, que eu tanto reclamei na resenha anterior? Pois bem, ele volta aqui, só que de uma maneira muito mais interessante! Eu costumo dizer que esse livro foi escrito para os que, assim como eu (viram, eu shippo também) acham muito mais interessante a relação da Katniss com o Gale. Com o Peeta fora em quase metade da história, Gale torna-se o “sidekick” de nossa heroína, e é quase palpável a dinâmica entre os dois. Nem me refiro a romance, mas sempre considero as cenas dos dois com um entrosamento muito maior que com o menino padeiro, o que tem que ser, pois Katniss teve contato quase a vida inteira com o Gale. Só que, mesmo quando o Peeta volta, meus temores de melosidade romântica em meio a guerra foram, graças aos céus, por terra quando descobrimos o que foi feito do padeiro bom de lábia. A cena da primeira conversa cara a cara dos dois nesse livro foi a cena em que mais senti sinceridade em toda a trilogia, e o desenvolvimento até o final tornou tudo muito mais verdadeiro.

Como sempre, Dona Collins dá um espetáculo a parte com seus personagens. Todos, na medida do possível, muito bem desenvolvidos e caracterizados, mesmo aqueles que só têm uma fala no livro inteiro!

A Esperança não é para ser um relato bonito de bravura e coragem, é uma análise quase psicológica de como uma guerra pode ferir não apenas os envolvidos, mas toda a nação. É a história de sobreviventes que lutam para conseguir justiça e que gerações futuras não precisem passar por tudo o que passaram. É um relato de que, se não tomarmos cuidado, todos os erros que vimos ao longo de toda a trilogia podem retornar, criando um ciclo sem fim de ódio, dor e sofrimento.

Uma pena que, em minha humilde opinião, a autora não foi tão feliz como foi durante toda a trilogia.

Você vem, você vem
Para a árvore
Onde eles enforcaram um homem que dizem matou três.
Coisas estranhas aconteceram aqui
Não mais estranho seria
Se nos encontrássemos à meia-noite na árvore-forca. Págs. 136 e 137

--- Marcel Elias --- 

Postar um comentário

Obrigada pela visita, dê sua opinião, participe e volte sempre.

- Caso tenha uma pergunta deixe seu e-mail abaixo que respondo assim que o comentário for lido.

- Caso sua mensagem não tenha relação com o post, envie para o e-mail.