Resenha Especial: O Ateneu por Raul Pompeia

Sim, além de terem que me aturar falando quadrinhos, eis que surjo com a resenha de um livro nacional. Assim com boa parte da população brasileira, me desfiz da literatura nacional após encerrar o ensino médio, devido a saturação de livros necessários para vestibular,e acabei me focando em livros de autores fora de nosso território. Esse livro foi como um tapa de luva, me despertando para essa grande falha e responsável por este apelo: Leiamos mais de nossa própria cultura, pessoal!

Título: O Ateneu
Autor (a): Raul Pompeia
Editora: Zahar
Páginas: 264
Ano: 2015
Onde comprar: Saraiva
"'Vais encontrar o mundo', disse-me meu pai, à porta do Ateneu. 'Coragem para a luta.'" A luta foi grande para Sérgio, o narrador que revive a traumática experiência do internato e o sofrido rito de passagem da infância para a adolescência. E grande também foi a empreitada de Raul Pompeia, que com esse romance rompeu barreiras temáticas - criticava abertamente a elite brasileira e deu papel central à homossexualidade - e estilísticas, transitando livremente entre a ficção, a poesia e o ensaio.O resultado é um livro surpreendente, um dos primeiros romances modernos da literatura brasileira, repleto de inovações e ousadias.O Ateneu: edição comentada e ilustrada traz o texto integral e as 44 ilustrações originais de Raul Pompeia, notas explicativas e uma apresentação que recupera as principais linhas interpretativas do romance, desde a época de sua publicação até nossos dias, escrita especialmente para essa edição. A versão impressa apresenta ainda capa dura e acabamento de luxo.

Sérgio é um jovem rapaz que está entrando na adolescência e que pela primeira vez em sua vida se verá afastado da família indo estudar em um colégio interno masculino no Rio de Janeiro, o elitista Ateneu. O livro é descrito pelo próprio Sérgio, anos após todo o ocorrido. Temos então, em primeira pessoa as memórias do protagonista nos dois anos que passou neste estabelecimento onde o mesmo relata suas impressões, relacionamentos e suas reflexões sobre este período.


Em sua primeira impressão, Sérgio se encontra maravilhado com o colégio e seu famoso e ilustre diretor, Aristarco. Para o ele, essa aventura o tornará muito mais maduro e será uma das mais maravilhosas experiências de sua vida. Porém, logo ao chegar, ele vê que as coisas são bem diferentes daquilo que ele esperava...


Aristarco, antes tão atencioso e prestativo, demonstra ser um homem que escarnece de seus alunos e chega a humilhá-los publicamente por conta de notas e mau comportamento. Sérgio tem, por vezes, problemas de manter relacionamentos com seus colegas que, por diversas ocasiões, se mostram deveras competitivos e maldosos. E, mesmo aqueles com quem ele consegue manter um nível maior de relacionamento, acabam por vários motivos se afastando dele ao longo do livro.


Embora relatado desse jeito o livro possa parecer um drama estudantil sobre bullying (o que o livro não é), trata-se de uma crítica ao ensino da elite brasileira no final do século XIX e como a sociedade influencia em amizades e relacionamentos, mesmo de estudantes.


O livro algumas vezes separa seu relato por temas, não por linha cronológica. Um exemplo disso é no segundo ano de Sérgio, em que o mesmo nos relata a respeito de um passeio pela cidade do Rio de Janeiro, nos contando que no ano seguinte também houve um, nos contando então a respeito do primeiro passeio, antes de passar a relatar sobre o segundo.


Ao que tange a temática de homossexualidade, não há nada explícito ou escandaloso. Assim como em "O Retrato de Dorian Gray", o autor nos deixa cenas e pensamentos de uma leve insinuação, que sem o devido cuidado, pode até passar despercebido por alguns leitores.


O livro tem uma retórica bem mais elaborada e, em alguns pontos, de entendimento um pouco mais trabalhoso, então algumas pessoas muito provavelmente terão problemas com o modo que o livro é escrito. Apesar disso, o livro é de uma beleza escrita ímpar. Mais uma vez volto a Oscar Wilde, pois o modo como Raul Pompéia compõe sua escrita me lembrou diversas vezes as brilhantes passagens do Irlandês.

Com um final inesperado e pequenas digressões ao longo do texto, Raul Pompéia conseguiu romper meu preconceito besta que há tempos queria desfazer, me mostrando mais uma vez o potencial enorme e maravilhoso que temos em nossa biblioteca nacional. O Ateneu tornou-se apenas o primeiro de uma leva de livros nacionais que pretendo por em minha estante.


Por se tratar de uma edição da editora Zahar, todos os que carregam qualquer edição de seu acervo tem noção do cuidado que eles tem com suas belíssimas edições, bem como com o texto em si e suas valiosas notas de rodapé, que tornam a leitura muito mais informativas.



A educação não faz almas: exercita-as. E o exercício moral não vem das belas palavras de virtude, mas do atrito com as circunstancias. Pág 224


--- Marcel Elias ---

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