Comentando o Conto: A Selvagem por Bram Stoker

Moral dessa história: estadounidenses são loucos e a cantiga infantil "Atirei o Pau no Gato" nunca teria sido escrita.

Conto:
A Selvagem
Autor: Bram Stoker
Livro: Contos Clássicos de Terror
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 408 (148-166)
Ano: 2018
Sinopse: "O melhor das histórias de medo, uma seleção de tirar o fôlego e perder o sono. Neste livro, Stephen King, Shirley Jackson, Machado de Assis e outros dividem as páginas para mostrar toda a potência das histórias assustadoras. Transitando entre o gótico, o horror e o terror ― mas sem se afiliar a nenhuma dessas categorias com exclusividade ―, os dezenove contos deste livro reúnem o melhor das histórias de medo. De Machado de Assis e João do Rio a Lygia Fagundes Telles; de Edgar Allan Poe e Robert Louis Stevenson a Stephen King, grandes nomes da literatura mostram ao leitor toda a potência do gênero. Com seleção e introdução de Julio Jeha, esta antologia traz uma história de H. P. Lovecraft inédita no Brasil, além de uma nova tradução do conto "A loteria", de Shirley Jackson. Em Contos clássicos de terror, o mal absoluto, o sofrimento de ocasião e até a maldade disfarçada de bem revelam personagens complexos e narrativas impressionantes."


Neste conto, acompanhamos um casal europeu recém-casado. Estando em sua segunda semana de lua de mel (aceitemos isso como a realidade europeia de outrora), o casal curiosamente já se sente incomodado com a companhia um do outro (visualiza esse casamento) e anseia por contato com outros indivíduos.

Eis então que, na cidade de Frankfurt, eles encontram o americano Elias P. Hutcheson. Hutcheson está a passeio pela Europa, é um desbravador aventureiro, do estilo cowboy americano mais clássico possível, e o casal logo se anima com esse interessante turista. Juntos, os três partem para a cidade de Nuremberg, na Bavária. A presença do turista dá um novo gás ao casal, que revive a gostosura de namorar às escondidas e aguça o interesse pelas narrativas do novo amigo.

Após uma rotina animada turistando pela cidade, os três resolvem finalizar esse período indo para o castelo da cidade, conhecido como Kaiserburg. Durante o caminho, em um fosso do local, o trio se depara com uma gata preta descansando, enquanto seu pequeno filhote se diverte.

O americano, numa tentativa de interagir com os felinos, decide por atirar uma pedra no animalzinho. Porém, o trajeto foi mal calculado e a pedra termina por acertar a cabeça do pobre gatinho, de modo a matá-lo.

Tomada por um ódio, a gata tenta de todas as maneiras subir o fosso e acertar as contas com o americano, que desdenha da morte do animalzinho. Deixando ali a furiosa mamãe, os três partem para o castelo, mais especificamente para sua torre de tortura, mal sabendo que não seria a última vez que veriam a gata com sede de vingança.

Um conto pequeno e dinâmico, onde Bram Stoker nos leva à um rápido turismo por uma das principais cidades da Bavária. É curioso que ele não se importa muito em retratar sobre o narrador e sua esposa. Não sabemos o nome dele, apenas o primeiro dela e, fora o fato de estarem casados há pouco tempo e que no futuro teriam filhos, nada mais é falado sobre esses personagens.

Se torna claro então que o foco da história é o americano, ou pelo menos uma visão bastante europeia do que é ser um americano. Egoísta, fanfarrão e inconsequente, o homem vindo da terra do tio Sam é uma caricatura do homem capitalista metido a aventureiro, sem nunca pensar muito sobre suas ações e mais interessado na sensação de aventura.

O elemento de terror se torna presente com a chegada do trio a tal torre do castelo que era voltada para a tortura dos prisioneiros. Claramente como faz com sua obra mais famosa, Bram Stoker traz toda uma atmosfera pesada e tensa ao narrar os terríveis instrumentos de tortura, bem como o ambiente sombrio e macabro. Recomendo bastante, para quem tem estômago, que pesquise imagens dos objetos citados, caso não consigam imaginar, dá um outro patamar no horror.

A única coisa que me incomodou um pouco nessa história é algo que considero uma particularidade minha, que seria a falta de emoção. Mesmo a narração sendo feita por um personagem, achei tudo um tanto quanto frio e cru na narrativa, o que me dificultou inclusive em gostar dos personagens. Em contrapartida, uma narração assim deixa as coisas mais reais, inclusive dando um embrulho no estômago com o desfecho dessa história.

"'Está vendo!', observei. 'É o poder de sim homem verdadeiramente forte. Mesmo esse animal, em meio a sua fúria, reconhece a voz de um líder e se curva diante dele!'
'Como uma selvagem!'" - Pág. 154

--- Marcel Elias ---

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