Resenha: E Não Sobrou Nenhum por Agatha Christie

Dez pessoas aparentemente sem nenhum ponto em comum, uma ilha inóspita afastada da civilização, um milionário misterioso e uma certeza, ninguém vai ficar vivo!

Título: E Não Sobrou Nenhum
Autora: Agatha Christie
Editora: Globo Livros
Ano: 2014
Páginas: 400
Onde comprar: Amazon | Livraria Cultura | Submarino
Sinopse: "Uma ilha misteriosa, um poema infantil, dez soldadinhos de porcelana e muito suspense são os ingredientes com que Agatha Christie constrói seu romance mais importante. Na ilha do Soldado, antiga propriedade de um milionário norte-americano, dez pessoas sem nenhuma ligação aparente são confrontadas por uma voz misteriosa com fatos marcantes de seus passados. Convidados pelo misterioso mr. Owen, nenhum dos presentes tem muita certeza de por que estão ali, a despeito de conjecturas pouco convincentes que os leva a crer que passariam um agradável período de descanso em mordomia. Entretanto, já na primeira noite, o mistério e o suspense se abatem sobre eles e, num instante, todos são suspeitos, todos são vítimas e todos são culpados. É neste clima de tensão e desconforto que as mortes inexplicáveis começam e, sem comunicação com o continente devido a uma forte tempestade, a estadia transforma-se em um pesadelo. Todos se perguntam: quem é o misterioso anfitrião, mr. Owen? Existe mais alguém na ilha? O assassino pode ser um dos convidados? Que mente ardilosa teria preparado um crime tão complexo? E, sobretudo, por quê? São essas e outras perguntas que o leitor será desafiado a resolver neste fabuloso romance de Agatha Christie, que envolve os espíritos mais perspicazes num complexo emaranhado de situações, lembranças e acusações na busca deste sagaz assassino. Medo, confinamento e angústia: que o leitor descubra por si mesmo porque E não sobrou nenhum foi eleito o melhor romance policial de todos os tempos."


A Ilha do Soldado, localizada na Inglaterra, é na verdade uma enorme rocha afastada do litoral, onde, à distância sua forma lembra um soldado. O local só pode ser acessado através de pequenas embarcações, que ficam impossibilitadas de chegar se o mar está muito agitado e o clima propenso a tempestades, logo, era óbvio que um milionário americano acharia interessante construir o que há de mais moderno e luxuoso, em termos de mansões, em tal local. No entanto, após das inúmeras festas celebradas no lugar, curiosamente a casa acaba indo à venda, porém, mais surpreendentemente ainda é o fato de que a mansão é vendida para alguém deveras misterioso... O novo comprador, um tal Mr. Owen, nunca foi visto, mas era visível seu interesse pela ilha.

A coisa fica ainda mais estranha quando o enigmático milionário convida dez pessoas para um final de semana, cada um com aparentemente um propósito distinto. Os convidados, que mais diferentes entre si seria impossível, são acomodados na casa e após algumas comodidas, logo não só percebem que estão presos naquele lugar, como também que cada um deles possui uma sentença de morte que segue uma antiga rima infantil. E como se toda essa tensão da história não bastasse, descobre-se que não há jeito de ter absolutamente mais ninguém dentro da casa, ou seja, dentre as dez pessoas que estão no lugar, uma delas é a assassina!

Contar mais da história seria estragar a experiência, então vou me deter aqui no que tange a esse ponto.

Esse é, sem sombra de dúvidas, o livro aclamado por muitos leitores como sendo o melhor romance da autora - e eu me junto a esse coro. Agatha Christie mostra que com capítulos curtos e poucas sentenças é possível se estabelecer uma conexão envolvente com absolutamente todos os personagens. É interessante observar que ao longo da narrativa vamos entendendo o porquê daquelas pessoas estarem ali e a real natureza de cada uma delas. A autora não tem medo de estabelecer uma personalidade superficial, que ao longo da trama vai se rompendo e eclodindo no real modo de ver o mundo de seus personagens, que vivem o momento de maior tensão de suas vidas.

A trama, com seus capítulos dinâmicos, angustiam e desesperam não apenas aos personagens, mas a nós, leitores, que ao mesmo tempo que queremos descobrir quem é o responsável por tudo aquilo, temos o impulso de tentar fugir daquela luxuosa mansão o mais rápido possível. Além disso, a maneira como a autora vai intercalando a visão dos personagens em cada capítulo nos permite ter um vislumbre do que se passa na cabeça destes, a sua percepção sobre os acontecimentos misteriosos da ilha e a opinião que cada um possui a respeito dos seus companheiros de encarceramento.

Toda a condução do livro é eletrizante e nos faz querer avançar cada página com avidez para saber quem será a próxima vítima, como também em que circunstâncias ocorrerá a sua morte. Todavia, a coroação do brilhantismo da autora está no final da trama, que é estarrecedoramente macabro e intricado, de modo que só conseguimos descobrir os fios por trás de todo o plano graças ao epílogo. Tanto é, que aproveito a oportunidade para desafiar, a quem quer que seja, em ler esse livro e conseguir adivinhar o seu assassino e seu plano astuto antes de alcançar o epílogo, pois eu duvido categoricamente que haja alguém que consiga chegar àquela conclusão antes da Agatha apresentá-la para nós!

Que Agatha Christie já provou que sabe envolver os seus leitores em uma história intensa e que beira o viciante, todos nós já entendemos, mas é impossível alguém ficar imune a começar "E Não Sobrou Nenhum" e não querer terminar o mais depressa possível, pois esta é uma daquelas poucas obras que consegue nos tornar cativos da narrativa por meio de sua objetividade antes mesmo de nos darmos conta da intricada teia de informações que a escritora está tecendo sobre nós e que nos mantem reféns junto com as suas dez vítimas na misteriosa Ilha do Soldado.

Se estivessem numa casa antiga, com o madeiramento rangendo, sombras escuras, paredes revestidas de pesados lambaris, talvez se pudesse dizer que o ambiente era lúgubre. Mas a casa era a essência da modernidade. Não havia recantos sombrios, nem painéis corrediços, o espaços era inundado de luz elétrica - tudo era novo, limpo e brilhante. Não havia nada escondido naquela casa, nada oculto. Não havia nada ali que lembrasse  remotamente uma atmosfera sinistra. De certa maneira, isso era o mais assustador de tudo. - Pág. 114

--- Marcel Elias ---

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