Resenha Especial: O Jardim Secreto por Frances Hodgson Burnett

Depois de algum tempo distante do blog, volto com a resenha de um livro muito especial e que foi lido através de uma leitura coletiva no nosso perfil do Instagram (@blogmundodoslivros). Por isso, se você ainda não conhece a obra infantojuvenil que deu origem ao filme de 1993, hoje te convido a mergulhar comigo nas páginas dessa obra e desvendar o que há por trás desse mistério.

Título: O Jardim Secreto
Autora: Frances Hodgson Burnett
Editora: Penguin Companhia
Ano: 2013
Páginas: 312
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Sinopse: Na célebre obra da inglesa Frances Hodgson Burnett, uma garota solitária e seu primo tornam-se amigos ao descobrirem um jardim cercado de mistérios. Clássico da literatura inglesa, O Jardim Secreto conta a história de duas crianças solitárias que decidem restaurar um jardim proibido, cujo mistério remete a um acidente ocorrido anos atrás. A amizade improvável entre os dois personagens funciona como uma metáfora para a descoberta do mundo e para o autoconhecimento.  Escrito em 1911, o livro já inspirou diversas montagens no teatro e três filmes - entre eles, o longa americano homônimo de 1993, dirigido pela polonesa Agnieszka Holland, vencedor do prêmio Bafta. Esta edição traz introdução e notas da romancista e crítica literária Alison Lurie e um posfácio de Marise Soares Hansen, mestre em literatura brasileira pela Universidade de São Paulo. Em seu texto, ela traça paralelos do romance com autores importantes de literatura de língua portuguesa, como Eça de Queiroz e Clarice Lispector. Durante a maior parte de sua vida profissional, Frances Hodgson Burnett foi uma escritora de sucesso. Desde cedo sustentou a si mesma (e a várias outras pessoas) com seus escritos. Suas peças de teatro, contos para revistas e romances ajudaram a tirar a mãe e as irmãs da pobreza. Sua carreira também pagou pela pós-graduação em medicina do primeiro marido e garantiu ao segundo a oportunidade de estrelar uma peça em Londres.


Mary Lennox nasceu na Índia e a sua vida nunca esteve atrelada a nenhum grande acontecimento, tampouco a grandes demonstrações de amor. Afinal, desde que nasceu os seus pais a deixaram longe deles e continuaram com as suas vidas sem se recordar que havia uma garotinha que precisava da sua atenção bem no quarto ao lado. Assim, após o surto de cólera que atingiu o lugar e que ceifou a vida dos seus pais, Mary também foi esquecida por todas as outras pessoas até que um dia a encontraram sozinha em casa e a tiraram de lá. Antes de chegar à charneca, onde acontece a nossa história, ela também foi para um lar temporário, onde além de ninguém gostar da sua presença, ganhou o apelido nada gracioso de "Mariazinha Enfezadinha".

Quando Mary finalmente chega na Mansão Misselthwaite, tudo lhe parece horrível demais e sem nenhum atrativo para uma criança. No entanto, com o decorrer dos dias, com a companhia de Martha e com breves explorações na charneca, ela passa a vislumbrar outras coisas no lugar. Ainda mais depois de descobrir que nos arredores existia um jardim secreto que estava trancado há mais de dez anos. Sua mentil infantil, imaginava o que estava acontecendo lá dentro, longe dos olhos de todos os curiosos. Ela gostaria de saber não só onde ele ficava, como também achar a chave há muito perdida para ver com os seus próprios olhos se ainda existia alguma rosa viva. E como se não bastasse o mistério envolvendo o jardim, durante a noite gritos circulavam na enorme mansão e ela mal podia esperar para desvendar cada um desses segredos.

Frances Hodgson Burnett escreveu "O Jardim Secreto" em 1911, este livro não só foi um grande sucesso na época de sua publicação, assim como se tornou rapidamente um clássico da literatura. Acredito que um dos grandes motivos que justificam essa ascensão está diretamente conectado a forma como a autora conseguiu estruturar uma obra infantojuvenil tratando de temas de grande complexidade como vida, morte, amor, amizade, doença, luto, pertencimento, família e tantos outros mais que podem ser vistos seja de forma explícita, seja de forma sútil.

Narrado em terceira pessoa, inicialmente o livro encontra-se focado em Mary e na sua jornada de evolução e crescimento. A partir do seu universo particular, o leitor é convidado a entrar na mente da protagonista que possui muitas questões a serem resolvidas, sendo a principal, a sua forma de se relacionar com o mundo e as pessoas à sua volta. Essa dificuldade que Mary possui em se aproximar das pessoas pode ter conexão ao fato de ter sido abandonada afetivamente pelos seus pais desde muito jovem.

À ela, faltou os cuidados maternos essenciais para o desenvolvimento do sentimento de segurança necessário para enfrentar as questões que se colocariam no seu percurso. Sua mãe que, apesar de bela, era ausente, nunca se permitiu criar uma verdadeiro laço com a sua filha e acaba por falecer sem causar nenhum impacto positivo na vida desta. Logo, quando Mary chega à casa do seu tio, está repleta de anseios e amarras com relação às pessoas que a rodeiam, por isso, não é difícil compreender a ferocidade com que deseja achar o jardim secreto e ter um lugar em que não só pode se sentir pertencida, como também, que necessita da sua presença de alguma forma.

As relações que ela estebalece na mansão nos ensinam lindas lições. É impossível não se encantar com o jeito peculiar que ela se envolve com o pisco, um passarinho muito esperto e que lhe oferece um carinho imediato; com o jardineiro Ben, que mesmo com o seu jeito grosseiro possui um coração doce; com Martha, a funcionária da casa que lhe conta histórias sobre a charneca, a sua família cheia de crianças e com uma mãe muito especial, a Susan; com o Dickon, um menino de natureza reluzente e que é amigo de todas as criaturas vivas existentes no lugar; ou ainda de Colin, um garoto enfermo e que possui tantos traumas quanto ela e que também tem a sua história explorada pela autora na segunda fase de "O Jardim Secreto".

E é no que diz respeito a este outro momento da obra que eu tenho algumas ressalvas. A primeira delas é que Mary perde todo o protagonismo da história, de modo que Colin passa a ser o objeto central da narrativa, de modo que além de termos poucas participações da protagonista - que, ao meu ver, ainda tinha muito para contar -, também temos todo o desenvolvimento desse personagem de forma que ele passa a ocupar algumas situações que seria interessante a participação de Mary. Ele de fato possui uma histórico intrigante e que merecia uma abordagem, porém, não de forma a transformar a protagonista em uma personagem secundária. O segundo ponto que não me convenceu por completo foi a extensa dedicação da autora em explorar as nuances da força do pensamento e toda a filosofia do que ela chama de "mágica". Eu acredito sim naquilo que ela apontou, entretanto, poderia ter sido feito de forma mais ligeira, dando espaço aos outros pontos do livro que poderiam ser melhor tratados.

A análise da obra de forma pormenorizada me permite amá-la com ressalvas. Certamente é um livro que jamais esquecerei, pois, como falei anteriormente, aborda tantos temas relevantes sob o olhar de uma criança, que é impossível não se envolver com a história. Todavia, a forma como a autora o finalizou me tirou um pouco o brilho dos olhos. O que, sob nenhuma hipótese, deverá ser visto como algo desencorajador para que você, leitor, não sinta vontade de conhecer de perto "O Jardim Secreto". Saiba que se você decidir mergulhar nessas páginas, não só não conseguirá abandoná-la antes do fim, como também conseguirá sentir o coração leve e uma imensa sensação de paz por ter se conectado com uma história que reflete a beleza e a paz que podem ser encontradas na simplicidade. 

Uma das coisas novas que as pessoas começaram a descobrir no último século é que os pensamentos — nada mais que simples pensamentos — têm tanta força quanto baterias elétricas e podem ser tão benéficos para uma pessoa quanto a luz do sol, ou tão nocivos quanto um veneno. Deixar que um pensamento triste ou ruim entre na cabeça é tão perigoso quanto deixar que um germe da escarlatina entre no corpo. Se ele entrar na cabeça e a gente deixar que ele fique lá, talvez não consiga se livrar dele pelo resto da vida.

Esse livro foi lido para a categoria "história que lembra a infância"do Desafio Literário Mundo dos Livros.

--- Isabelle Vitorino ---

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