Resenha: Julieta por Anne Fortier

O meu tipo de leitura favorito é aquele que me conduz para um mundo mágico do qual eu não seria capaz de voltar nem mesmo que eu quisesse. Infelizmente, durante minha vida de leitora, poucos foram os autores que me fizessem sentir isso. Entretanto, sou grata por Anne Fortier ter sido uma delas.

Título: Julieta
Autor (a): Anne Fortier
Editora: Arqueiro
Ano: 2010 (2ª Edição)
Páginas: 440
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Julie Jacobs e sua irmã gêmea, Janice, nasceram em Siena, mas, desde que seus pais morreram, foram criadas nos Estados Unidos por sua tia-avó Rose. Quando Rose morre, deixa a casa para Janice. Para Julie restam apenas uma carta e uma revelação surpreendente - seu verdadeiro nome é Giulietta Tolomei. A carta diz que sua mãe havia descoberto um tesouro familiar muito antigo e misterioso. Intrigada, Julie parte para Siena. Mas tudo o que a mãe deixou foram papéis velhos - um caderno com diversos esboços de uma única escultura, uma antiga edição de Romeu e Julieta e o velho diário de um famoso pintor italiano, Maestro Ambrogio. O diário conta uma história trágica; há mais de 600 anos, dois jovens amantes, Giulietta Tolomei e Romeo Marescotti, morreram vítimas do ódio irreconciliável entre os Tolomei e os Salimbeni. Desde então, uma terrível maldição persegue as duas famílias. E, levando-se em conta sua linhagem e seu nome de batismo, Julie provavelmente é a próxima vítima. Tentando quebrar a maldição, ela começa a explorar a cidade. À medida que se aproxima da verdade, sua vida corre cada vez mais perigo.

Julie Jacobs não se acha nenhum pouco parecida com a sua irmã gêmea, Janice. Comedida e tentando ao máximo levar a sua vida de maneira tranquila fazendo o que ama, ela nunca procurou aventuras para si que envolvesse homens ou escândalos. Criada por uma tia-avó, Rose, ela nunca pensou em si mesmo como protagonista de uma história de aventura, mas quando a única referência materna que tem morre, ela se vê às voltas com revelações surpreendentes a respeito da sua origem. Isso porque ao falecer, Rose deixa um testamento onde a casa que sempre viveu ficaria apenas para Janice, enquanto que para ela só restou uma carta com um conteúdo estranho demais para que ela pudesse confiar. Descobrindo que passou a vida toda vivendo uma mentira, sua tia-avó lhe revela que o seu nome verdadeiro era Giullieta Tolomei e que a sua mãe deixará exclusivamente para ela pistas que a conduziriam até um tesouro na cidade de Siena na Itália.

Ainda que sua razão lhe implorasse para que ela não acreditasse naquilo, ela parte para a Itália ainda que esperasse que nada resultasse dali. Durante o voo acaba conhecendo Eva, uma elegante mulher de meia idade que ao saber a família da qual Julie descende, se preocupa com a sua segurança e lhe dá vívidos avisos para que tivesse muito cuidado a quem fosse revelar a sua identidade, pois para os italianos, o passado era tão importante quanto o presente. Ao chegar em Sienna, ela espera verdadeiramete que sua mãe tenha lhe deixado algo de valor, mas ao encontrar apenas papéis antigos, um livro e um diário em um velho baú no cofre do banco, seu mundo parece que vai ruir mais. Entretanto, decidida a pelo menos tentar verificar a história ali contida, ela mergulha no passado de sua ancestral de mesmo nome mesmo sem saber o porquê de suas vidas estarem tão intricadas. Mas o que ela descobre acaba levando-a até a história trágica de Julieta Capuleto de William Shakespeare. Seria tudo uma grande coincidência ou havia mais de si mesma naquele passado do que era capaz de imaginar?
- Tudo o que dizemos é uma história. Mas nada do que dizemos é apenas uma história. Pág. 22

Ma che bello questo libro! Se tem uma coisa que eu não sou capaz de lidar é a magia contida na história da Europa. Aquelas ruas de pedras onde você caminha sem rumo mas que acabam lhe levando para lugares encantadores é algo impossível de descrever nesse pequeno espaço. E os deliciosos cheiros vindos dos restaurantes e das casas? Sim, certamente poderia viver para sempre provando as delícias da culinária do Velho Mundo. E toda essa profusão de sentimentos inexplicáveis me invadiu enquanto eu lia "Julieta" de Anne Fortier. Como a boa descendente de italiano que eu sou, mal pude me conter diante do esplendor contido nas páginas desse livro. Eu definitivamente não estava pronta para ver tudo o que eu vi sem me apaixonar e o resultado foi claro: devorei a história com um ânsia que há muito eu não tinha. Para começar, temos a escrita deliciosa de Fortier que não só consegue caracterizar os personagens de tal modo que eles parecem palpáveis, como também, descrever os cenários de uma forma que o leitor se sente nas ruas calorosas e charmosas da bela Siena.

Uma das coisas que mais me impressionaram nesse livro foi a capacidade da autora de descrever um período histórico com tamanha desenvoltura. Fiquei o tempo inteiro presa às páginas e ansiando desesperadamente para saber mais detalhes acerca da história da primeira Giulleta Tollomei, bem como, o que havia acontecido para despertar a rixa da família de Romeo Marescotti. É importante lembrar que diferente da obra de Shakespeare, há uma terceira família, no caso, os Salimbeni, que dão o tom a toda uma trama de drama e tragédia. O toque do universo das artes foi algo que me deixou ainda mais encantada, pois vemos como a vida do Maestro Ambrogio se entrelaça com própria história desse casal que tenta de tantas maneiras encontrar uma forma de ficarem juntas. Esse aspecto histórico é muito latente na trama e temos vários flashbacks para poder entender como tudo isso se reflete na vida e na origem de Julie, o que só torna tudo muito interessante pois somos levados a ver passagens secretas, estranhos rituais, disputas emocionantes e tantas outras acontecimentos que transformam a trama em algo riquíssimo de ser acompanhado.
Agora compreendia que Frei Lorenzo sempre estivera certo. "O mundo mortal é um mundo de pó", costumava dizer. "Onde quer que pisemos, ele se esfarela bem embaixo de nossos pés e, se não andamos com cuidado, perdemos o equilíbrio e despencamos pela borda, caindo no limbo." Pág. 242

E quando não estamos na Siena dos sangrentos palios, estamos acompanhando Julie que se encontra em um período de sua vida onde nada parece estar certo. Lutando para descobrir a verdade ocultada pelos segredos que sua família sempre manteve, ela ainda tem que lidar não só com a presença de um misterioso homem que faz seu coração bater mais forte, como também, com a sua irmã Janice, que aparece repentinamente e faz o possível para não deixá-la em paz. Sendo bem sincera, a personalidade da Julie foi o que mais me incomodou na história. Enquanto que vemos uma Giullieta extremamente forte e disposta a lutar contra tudo e todos, a nossa sucessora está mais para uma donzela em perigo. Sem contar que por vezes é de revirar os olhos a maneira como ela é teimosa e birrenta. Apesar disso ter me incomodando bastante durante a leitura a ponto de eu tirar meia estrela da nota final, tenho que afimar uma e outra vez que esse livro é algo espetacular! Não se deixem abater por uma mocinha difícil de engolir porque todo o resto vale tanto a pena que é fácil esquecê-la diante da presença forte dos demais personagens. Sem sombra de dúvidas, é um dos meus livros favoritos!

Comentários acerca da edição:

A edição que eu li não está mais disponível para venda e foi substituída em 2014 por outra cuja capa eu acho belíssima. Infelizmente, ela veio no formato econômico e por isso não possui orelhas e há algumas diferenças na diagramação, bem como, no tamanho do livro. Ainda não conferi pessoalmente e em decorrência disso não sei dizer se essa questão afeta ou não a leitura, de qualquer forma, pelo conteúdo do livro acredito que valha a pena adquirir mesmo assim.

Existe a luxúria, como sabeis, e existe o amor. São coisas aparentadas, mas, ainda assim, muito diferentes. Comprazer-se com uma exige pouco mais do que uma fala melíflua e uma muda de roupa; para obter o outro, porém, o homem tem que abrir mão de sua costela. Em troca, sua mulher desfará o pecado de Eva e o reconduzirá ao Paraíso.

--- Isabelle Vitorino ---

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