Resenha: O Demonologista por Andrew Pyper


Muito cuidado ao aceitar convites de estranhos.

Título: O Demonologista
Autor: Andrew Pyper
Editora: DarkSide
Páginas: 320
Ano: 2015
Onde comprar: Submarino | Saraiva
David Ullman, renomado professor da Universidade de Columbia, especializado na figura literária do Diabo – principalmente na obra-prima de John Milton, Paraíso Perdido. Para David, o Anjo Caído é apenas um ser mitológico.Ao aceitar um convite para testemunhar um suposto fenômeno sobrenatural em Veneza, David começa a ter motivos pessoais para mudar de opinião. O que seria apenas um boa desculpa para tirar férias na Itália com sua filha de 12 anos se transforma em uma jornada assustadora aos recantos mais sombrios da alma. Enquanto corre contra o tempo, David precisa decifrar pistas escondidas no clássico Paraíso Perdido, e usar tudo o que aprendeu para enfrentar O Inominável e salvar sua filha do Inferno.

É em meio a textos bíblicos e referências barrocas que acompanhamos a jornada de David Ullman, um melancólico, e porque não dizer sombrio, professor de inglês da Universidade de Columbia, especialista em mitologia e narrativa religiosa judaico-cristã, mas, acima de tudo, um especialista na obra Paraíso Perdido de John Milton.

Na Universidade ele conhece Elaine O'Brien, uma professora de psicologia que possui um humor sarcástico e duro. Com uma xícara de café e uma perspicácia ímpar, O'Brien é a voz da sensatez e lucidez na vida de David. Ambos, no auge dos seus 43 anos, compartilham de uma camaradagem sem igual, digna daquelas amizades construída ao longo dos anos com cervejas e conversas francas ao final do dia. Elaine é favorecida de caráter observatório, devido a sua carreira. Por vezes a interação entre os dois torna-se algo próximo a uma sessão em um divã, destrinchando as minúcias dos pensamentos um do outro.

Desde a sua infância, acompanhado por uma presença inexplicável que lhe imputava inquietude e pesar, David observa o mundo ao seu redor com uma película turquesa de solitude e caligem. Com um casamento falido pulverizando-se em suas mãos, sua filha Tess é sua única fagulha de luz nesse mundo de trevas, sua última esperança de felicidade. E o que fazer quando essa felicidade é tomada de você por braços escuros e motivos ocultos?

Tudo começa quando, chegando a seu escritório, David recebe um convite de uma mulher misteriosa, interessada em seus conhecimentos em demonologia, afirmando que suas perícias na área são de fundamental importância para ele observar um fenômeno que está acontecendo em Veneza. Então após Tess presenciar a última briga de separação entre seus pais, David decide aceitar o convite da Mulher Magra e ir passar o final de semana em Veneza na tentativa de fortalecer os laços afetivos entre pai e filha. Porém, o que era para ser uma viagem tranquila e cheia sorrisos acaba-se revelando uma busca desesperada pela alma de Tess.

Em ritmo bem parecido com as buscas de Robert Langdon em Anjos e Demônios e Código Da Vinci, David corre contra o tempo pelo país atrás de sinais para encontrar Tess antes que O Inominável a tome de vez, quando um Perseguidor com intenções turvas e identidade desconhecida quer impedi-lo a todo custo de concluir sua demanda. Em sua jornada, Ullman começa a fazer conexões com pessoas mortas e então, quando a realidade acaba se confundindo com o espiritual, velhas histórias são desenterradas, espíritos amargurados despertados, almas cheias de pesar cruzam o véu da existência e demônios te sussurram ao ouvido.

Vale salientar que, durante toda a jornada, versos do livro Paraíso Perdido, escrito no Século XVII por John Milton, vem à tona. Paraíso Perdido retrata a rebelião de Lúcifer contra Deus, sua queda, seus seguidores e todo o conflito angelical até a expulsão de Adão e Eva do Jardim do Éden. O livro trata sobre diversas perspectivas moral, caráter, orgulho e ego, brotando sementes que se enraizaram na cultura e puderam influenciar obras como Frankstein, de Mary Shelley, e o fantástico Sandman, do genial Neil Gaiman.

Com ilustrações que Gustavo Doré (1832-1883) fez para A Divina Comédia de Dante Alighieri, as quais retratam bem a busca solitária do personagem e a melancolia de seus pensamentos, o livro te da aquela sensação de que haverá uma continuação pelas muitas pontas soltas deixadas ao longo da história. Porém, para quem se apetece daquele gosto do inexplicável pairando ao redor dos personagens, é de um sabor incrível. 

A linguagem é fluida, entretanto às vezes a história parece arrastar-se e estender-se mais que o necessário. Apesar de ter todo um ocultismo em volta da história, não deixa aquele frio na espinha durante a leitura, sabe? Sendo tratado muito mais como uma aventura do que um mistério, diferente das obras de Lovecraft, por exemplo. Mas cuidado ao dormir, cubra bem os pés e afaste-se da janela, pois talvez O Inominável tenha uma proposta pra te fazer.

A mente é onde eles habitam, e nela podemos fazer do inferno um paraíso, do paraíso um inferno. Pág. 19

--- Juão Lucas ---

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