Resenha Especial: Capitães da Areia por Jorge Amado
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Queridos leitores, depois de seis meses de ausência devido a
vários problemas nessa vida atribulada de estudos e pouco tempo, estou aqui pra
apresentar uma das melhores obras da literatura brasileira que já tive o prazer
de ler. Tenho somente uma coisa a dizer: EMOCIONANTE! Vamos à resenha?
Autor: Jorge Amado
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2008
Páginas: 296
Esta obra narra a história da vida urbana de meninos pobres e infratores que moram num trapiche abandonado no areal do cais de Salvador, vivendo à margem das convenções sociais. O livro vai revelando os personagens, cada um deles com suas carências e suas ambições - do líder Pedro Bala ao religioso Pirulito, do ressentido e cruel Sem-Pernas ao aprendiz de cafetão Gato, do sensato Professor ao rústico sertanejo Volta Seca.
Salvador, cidade de grande beleza e felicidade, onde sambas
são cantados em suas ladeiras e as pessoas que aqui vivem esbanjam alegria por
seus grandes sorrisos nesse céu azul. Mas esta cidade vive aterrorizada pela
grande onda de furtos vinda dos Capitães da Areia – grupo de meninos
abandonados que moram no areal. Estes não desfrutam dessa felicidade, pois
passam fome e solidão, vivendo em condições precárias quase subumanas. Mas
mesmo diante de tantas dificuldades, mostram toda a garra e vontade de viver,
para aqueles que subestimam suas capacidades.
“Capitães da Areia” é um livro encantador. E bastante
polêmico, por sinal. Em 1937, ano em que foi lançada, a obra de Jorge Amado
teve exemplares apreendidos e queimados em praça pública, depois de censurado
por autoridades da ditadura. Porém, a partir de 1944, uma nova edição é lançada
e acaba entrando para a história da literatura nacional, como tantas outras
obras do autor.
O livro narra a história de crianças que moram em um
trapiche e vivem de pequenos furtos aterrorizando a população da cidade de
Salvador, na Bahia. Essas crianças, a grande maioria órfãs, são submetidas a um
mundo cruel e impiedoso, seja pela pobreza em que vivem nas ruas, seja pela
tortura que passam quando vão para algum orfanato ou, no pior dos casos ao
reformatório. O autor enfatiza a sociedade extremamente opressora onde vivem,
onde o rico se sobrepõe sobre o pobre, vidas distintas que delimitam o que cada
um tem que ser ao longo da vida. Essa sociedade é um dos grandes motivos para
que essas crianças sejam do modo como são, já que são desvalorizadas por
nascerem em cortiços ou morros, não terem muito que comer e acabarem por viver
de furtos, onde a oportunidade era quase inexistente.
Embora tenha se passado 78 anos desde que o livro foi
lançado, o tema abordado não deixa de ser atual, tendo em consideração que
existem milhares de crianças na mesma situação em que os personagens dessa
ficção viviam. Jorge Amado foi o primeiro a denunciar de forma panfletária o
problema dos menores abandonados e dos menores infratores que desafiavam a polícia e a própria sociedade. O
romance cheio de um realismo, de modo cômico e dramático, consegue introduzir o
leitor a um mundo bastante diferente do que estamos acostumados a vivenciar,
seja na realidade ou na ficção.
Essas crianças, privadas de carinho e atenção pela vida, vão
em busca de qualquer forma de conforto, seja no ódio sentido por viverem na
miséria, seja em santos, seja na esperança de um dia conseguirem algo melhor
para si mesmos, e até mesmo uns nos outros, onde o autor consegue inserir o
homossexualismo vindo da carência de amor que a maioria sentia. Conseguir
abordar um tema envolvido em um imenso tabu como este, que embora seja mais
aceito nos dias de hoje, mas na época deveria ser abominado, cheio de
preconceito, foi algo extremamente difícil, gerando mais polêmica do que já
havia conseguido.
O livro também relata uma grande busca religiosa dos seus
personagens, já que os únicos amigos que estas crianças têm são um padre e uma
mãe de santo. Por mais distintos que estes personagens sejam um do outro, são
neles que as crianças abandonadas conseguem ajuda, respostas e até mesmo um
pouco de conforto para suas vidas tão solitárias e sofridas. Não há traição
entre os moleques do grupo, independente da cor ou sexo dos personagens. Você
consegue observar por outros olhos a felicidade nas coisas mais simples, como
em correr na liberdade das ruas a um carrossel velho de música velha e triste,
mas que trás consigo um escape para a vida das crianças.
Sem nenhuma piedade ou condescendência, seus personagens são
dotados de energia, inteligência e vontade, mesmo diante das circunstancias que
vivem, tornando as suas personalidades ainda mais fortes e marcantes. A história
vai acompanhá-los de pequenos até seus desfechos, onde cada um vai seguir um
caminho diferente, uns continuando na vida de crime, outros contrariando tudo o
que a sociedade estava impondo, levando o leitor a ficar íntimo dos seus
personagens a cada demonstração da gana de viver e ser alguém de quem se
orgulhem.
Eu sempre tive bastante preconceito com livros nacionais,
principalmente por sermos obrigados a ler alguma obra para atribuir pontuação
no nosso currículo escolar. É bastante complicado ter que ler algo por
obrigação e, muitas vezes, acabamos por não gostar da obra por esse motivo. Eu
já passei por isso e não é algo muito agradável. Mas, quando você consegue
tornar essa “obrigação” em algo agradável, tudo fica mais confortável e
prazeroso. Este foi um dos livros que meu professor disse que eu tinha que ler
e eu simplesmente amei.
Apesar de ter uma linguagem um pouco rude, o que enfatiza as
crianças que não foram a escola, não sabem ler e se expressar de maneira mais
educada, eu achei o livro de uma leitura bastante fácil, envolvente. Rico em
detalhes, “Capitães da Areia” entrou para a minha lista de favoritos. Acho que
ainda estou falando pouco sobre esta grande obra, mas terão que ler para
descobrir as emoções que este livro trás consigo. Espero que vocês tenham
gostado da resenha e que se deixem envolver por essa literatura tão próxima e
ao mesmo tempo tão distante de nós como é a literatura nacional. Até a próxima,
desculpa ter estado em falta com vocês tanto tempo. :D
... Lembrava-se da canção que os presos cantavam na madrugada que nascia. Dizia que a liberdade é o bem maior do mundo. Que nas ruas havia sol e luz e nas células havia uma eterna escuridão porque ali a liberdade era desconhecida. Liberdade. Pág. 201 a 202
Playlist:
--- Juliana Gueiros ---
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