Resenha Especial: Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda por Howard Pyle
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Escrever sobre lendas não deve
ser uma coisa fácil. Imagino todo o esforço em pesquisar todas as referências históricas,
literárias e até mesmo contos orais para que um autor possa pegar determinado personagem lendário e dar forma ao mesmo. É uma pena quando, mesmo admirando
trabalhos de homens como Howard Pyle, a história acabe não tendo um resultado
tão interessante assim.
Título: Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola
Redonda
Autor: Howard Pyle
Editora: Zahar
Páginas: 328
Ano: 2013
Howard Pyle revive, em palavras e imagens, a saga do rei desde o momento em que Arthur estabelece seu direito ao trono, ao retirar de uma bigorna a espada nela cravada. Estão aqui relatadas suas batalhas com o Cavaleiro Negro e com o Duque da Nortúmbria, e seus esforços para manter consigo a mágica espada Excalibur. Seu amor por lady Guinevere e as origens da Távola Redonda. Merlin, traído pela feiticeira Vvien, além de Morgana e a Dama do Lago. Sir. Pellias, Sir Gawaine e tantos outros nobres cavaleiros. Por fim, é formulado o enigma de cuja resposta depende a vida de Arthur... Um livro para todas as gerações.
Howard Pyle foi um grande
ilustrador, nascido em 5 de março de 1853. Tinha completa paixão pela arte de
ilustrar e ficou conhecido por ter sua arte impressa nos mais diversos livros infanto-juvenis
de sua época. Boa parte de suas ilustrações tinham como propósito compor seus
próprios trabalhos, sendo os mais famosos deles, além das Crônicas Arturianas,
seu relato sobre "As Aventuras de Robin
Hood".
Vale ressaltar que o autor
escreveu um total de quatro livros sobre o Rei Arthur (o que a professora Lênia
Márcia Mongeli, em sua instrutiva e incrível introdução definiu como “uma espécie de tetralogia cíclica”),
sendo esta edição da Zahar apenas a primeira dessa série de quatro livros. Fica
aí o indício de que talvez a editora nos traga as demais edições.
O romance então é dividido em
duas partes, a primeira sendo a história do rei Arthur, de sua origem, a
profecia feita pelo mago Merlin sobre o rapaz e a provação que teria que passar
para tornar-se o Rei da Inglaterra. Na segunda parte, tendo já seu reinado e
poder fixados, teremos o relato de três de seus mais importantes e leais
companheiros: o mago Merlin, Sir Pellias, o Gentil e Sir Gawaine, o Eloquente.
A história relatada por Pyle a
respeito de um dos reis mais conhecidos das lendas inglesas, já é velha
conhecida de muitos, sendo até parte do material usado para a adaptação do
filme “A Espada Era Lei” (embora essa
seja uma adaptação direta de outra série de livros, escrita pelo autor T. H.
White). O livro nos relata, além de cenas como seu nascimento e coroação, a
consolidação do rapaz como rei, a criação da Távola Redonda e nomeação de
alguns de seus leais cavaleiros, o confronto contra um de seus mais poderosos
inimigos, o Cavaleiro Negro, seu encontro com Lady Guinevere e sua relação com
sua meia-irmã, Morgana.
Porém, como mencionado, apesar de
um livro extremamente belo e bem bolado, com ilustrações originais de seu autor,
uma introdução de uma riqueza de conteúdo estonteante e notas muito válidas,
que dão um entendimento mais amplo ao leitor (marcas registradas do cuidadoso e
atencioso trabalho da editora Zahar para com seus leitores), a história é, na
melhor de suas tentativas, fraca.
Talvez o maior problema, a meu
ver, é que o livro nos dá a ideia de um romance mais maduro, nos dando a
expectativa de ser algo sério e de teor mais requintado. A verdade é que esse é
um livro infantojuvenil, sua linguagem é deveras simplificada e os personagens
são tão pouco cativantes e mal construídos que beiram a superficialidade.
O conteúdo é muito repetitivo.
Batalhas são sempre descritas da mesma forma, tornando os duelos e embates
iguais. Falando neles, chega a ser quase cômico como o mais banal dos motivos vira
motivo para as “justas”. Provas de lealdade são situações tão infantis e bobas
que me faziam revirar os olhos a todo instante de leitura.
Não o bastante, cada história vem
com um prefácio, resumindo TODA a história, e, ao lado dos textos, uma pequena
nota contando o que acontece em cada parte (deixarei um exemplo abaixo, para
que possam entender melhor o que digo).
![]() |
Notem as pequenas notas à direita. |
Ou seja, além de títulos enormes
que praticamente entregam parte da história e um prefácio que explica tudo,
temos essas notas que nos contam exatamente onde cada coisa acontece! Isso me
causou um desânimo tão grande que quase abandonei a leitura.
Outro fator que me irritou ao
longo da narrativa foi a cristianização do conto. Peço que não me interpretem
mal, não tenho nenhum tipo de preconceito com o cristianismo (afinal, eu sou
cristão), mas gera uma estranheza um conto em que temos tantas figuras da
cultura celta sendo vinculada a moral cristã, incrustada no Arthur de
uma maneira tão exagerada que ao invés de atingir seu propósito, que imagino
ser a idealização do herói bom, justo e reto, o torna um personagem repetitivo
e insosso.
Falando dos personagens e ainda
sobre o soberano, ele torna-se um personagem tão artificial que mesmo seus
ideais de bondade e justiça se tornam um tanto exagerados. Ao invés de vê-lo
como algo mais próximo de uma personalidade como a da Cinderela, que é
bondosa, gentil e empática, acabava por vê-lo como uma caricatura da mesma.
Mas a personagem que
definitivamente me irrita durante toda a narrativa é sua rainha, Lady
Guinevere. Enquanto Pyle tentava extrair algo de bom, ou mesmo bravio da
personagem, ele acabava por tornar a personagem como uma jovem mimada e
irritante, que me dava um desgosto tamanho que por vezes queria pulava as cenas em
que a mesma aparecia.
Os personagens mais
interessantes, ao meu ver, acabam por ser Merlin e Gawain, apesar de mesmo
estes não terem uma história tão bem trabalhada assim.
No fim das contas, o Rei Arthur de
Howard Pyle acaba por ser uma boa ideia, com boas partes em sua história, mas
que infelizmente não foi aproveitado e peca por sua superficialidade e
repetição exagerada. Ele torna-se uma excelente pedida para uma leitura noturna
para um menor, até mesmo contribuindo para a formação moral de uma criança.
“Portanto, s quiserem ser como o Rei Arthur, devem encarar todos os triunfos como ele encarou essa vitória, pois assim não se desviarão de seus objetivos finais por grandes aplausos que muitos podem lhe dar, mas terminarão o trabalho que se propuseram a fazer antes que se permitam sentar e usufruir dos frutos de sua vitória.” Pág. 126
--- Marcel Elias ---
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