Resenha: Caçadora de Unicórnios por Diana Peterfreund

Após muito tempo fora de minha “zona de conforto”, desbravando o mundo dos clássicos e demais gêneros, volto a fantasias com esse livro leve e despretensioso, com um toque de humor único!

Título: Caçadora de Unicórnios
Série: A Ordem da Leoa #1
Autor (a): Diana Peterfreund
Editora: Galera Record
Páginas: 364
Ano: 2013
Onde comprar: Saraiva | Submarino
Nada de asas translúcidas. Ou relinchos suaves como o tilintar de sinos. Os unicórnios são bestas venenosas, comedoras de carne humana. Seu chifre, uma espada sempre pronta para o combate. Só um detalhe da lenda parece ser verdadeiro. Apenas virgens podem se aproximar desses monstros. Mas é preciso mais do que um belo sorriso para matá-los. Muito, muito mais. Ainda bem que estão extintos há mais de um século. Será?

Astrid é uma jovem de 16 anos que não tem nada de muito extraordinário em sua vida. Estudante e com um relacionamento que está se tornando sério, carrega as inseguranças clássicas de uma adolescente americana. O único fato curioso a seu respeito é sua mãe. Quando jovem, Lilith (nome da mãe de nossa protagonista) acreditava cegamente na existência de unicórnios, usando de seus conhecimentos para provar sua crença ao mundo. Como não obteve sucesso, acabou tornando-se uma pária até mesmo dentro da família, sendo considerada excêntrica. Astrid então cresceu ouvindo sua mãe relatando sobre as antigas caçadoras, uma ordem que existia com o intuito de matar esses seres mágicos que, diferente do que o mundo acredita, são bestas carnívoras, cruéis e venenosas, que assassinam qualquer humano que vejam. 

Obviamente a garota cresce acreditando que sua mãe carrega uma espécie de patologia psicótica, derivada de alguns transtornos e decepções que teve ao longo da vida, mas isso tudo muda quando ela mesma se vê diante da criatura mágica que sua mãe tanto falou durante toda sua vida. Agora cabe a Astrid, enviada para Roma, a antiga cidade das Caçadoras, e as demais garotas que carregam as habilidades por descenderem diretamente de Alexandre, o Grande, treinarem e descobrirem o porquê dessas mitológicas criaturas estarem de volta a e quais são seus propósitos.

Como alguns podem ter notado ao longo da rápida sinopse, a história segue uma famosa “receita de bolo” que foi iniciada com Harry Potter: jovem com poderes extraordinários que não faziam ideia de suas habilidades e que se deslocam para determinado local, onde além de conhecer outros jovens igualmente habilidosos, irão aprender a como controlar e fazer uso de seus conhecimentos.

Apesar da óbvia referência, a história tem um excelente destaque e montagem numa mitologia própria deveras fascinante e personagens muito bem trabalhados. O livro é todo narrado em primeira pessoa, sobre o ponto de vista da protagonista, que tomei como minha contra parte feminina. Ela tem um humor sarcástico que sou apaixonado e uma personalidade muito forte, fazendo com que me afeiçoasse à personagem em poucos parágrafos. Mesmo as cenas mais internas, em que ela lida com certos conflitos, soam bastante naturais e, a meu ver, fogem de uma dramatização infinita e ininterrupta, que são bem características de garotas nesse tipo de temática.

Por se tratar de um livro com grande foco para garotas adolescentes e a virgindade ser condição si nem qua non* para se tornar uma caçadora, assuntos como sexo, relacionamentos e a importância dos mesmos na vida de uma jovem são tratados a todo o momento, mas de forma tão natural e pouco didática, que flui muito bem e não se torna aquele discurso moralista e enfadonho do qual o pessoal dessa idade acusam os adultos.

A mitologia dos unicórnios criada pela autora é, como comentei anteriormente, bastante pertinente e interessante. Nunca havia visto tais criaturas sobrenaturais de uma maneira tão feroz como a Diana Peterfreund se propôs a apresentar. Tanto os tipos, quantos comportamentos, desenvoltura e natureza desses seres são tão interessantes que eu fiquei ávido para saber cada vez mais sobre essas versões fofinhas de bestas assassinas. A própria mitologia das Caçadoras é bem única, apesar de que, quando descobrimos como as mesmas reforçam suas habilidades, me foi exigido uma suspensão de realidade** para dar continuidade à trama.

Os personagens secundários também são muito bem trabalhados, seja a prima da Astrid (a Phil), as demais caçadoras (mesmo as que aparecem pouco conseguem nos passar traços de suas características próprias) e os homens da história. Claro que teve um personagem ou outro que não consegui simpatizar (a mãe da Astrid, por exemplo, me dá nos nervos), mas não há como negar que a autora foi feliz com suas caracterizações em cenas.

Outro tópico bastante positivo é a volta turística por Roma que a autora nos leva, enquanto nos é narrado pela Astrid, enquanto a mesma explora alguns cenários da bela cidade.

Como nem tudo são flores, a trama secundária acaba ficando muito a desejar. O “vilão” da história é bem óbvio, para os já acostumados com alguma espécie de trama com suspense, mas suas motivações, para mim, continuam totalmente nubladas e a batalha final tornou-se uma cena de pura luta, sem um porque muito evidente. Fora alguns erros de continuação que foram esquecidos por completo. Como esse e o primeiro livro do que será uma trilogia (pois o terceiro volume ainda não foi lançado), espero que possamos saber mais sobre as motivações desse adversário.

Em suma, Caçadora de Unicórnios é um livro divertido e leve, uma aventura mágica bem construída que tem tudo para dar certo. É a comprovação de que garotas podem fazer parte de um universo fantástico e que é possível usar criaturas fantásticas geralmente subestimadas em uma trama bem bolada.


*si nem qua non - Expressão em latim que faz referência a uma ação o condição que é indispensável, imprescindível ou essencial. 
**Suspensão de Realidade - Ato de, enquanto leitores, abrirmos mão de nossa lógica racional para podermos embarcar no mundo que o autor nos propõe.

--- Marcel Elias ---

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