Resenha: Nó do Diabo por Mara Leveritt

Desde que iniciei a graduação em Direito que livros de não ficção que abordam a temática "justiça" me chamam a atenção. Gosto de lê-los independente de que país a história aconteceu, pois acho bacana poder conhecer como o poder judiciário funciona em cada um deles. Como vocês sabem, não são raras as arbitrariedades cometidas pelo nosso sistema, mas será que é só no Brasil que isso acontece? "Nó do Diabo" me mostrou que não. 

Título: Nó do Diabo
Autor (a): Mara Leveritt
Editora: Record
Páginas: 490
Ano: 2015
Onde comprar: Saraiva | Submarino
Nó do diabo traz para o leitor a perturbadora história do caso conhecido como “Os Três West Memphis”, em que os jovens Damien Echols, Jason Baldwin e Jessie Misskelley Jr. — membros de uma suposta seita satanista — foram acusados pelo assassinato brutal de três meninos de oito anos em West Memphis, uma pequena cidade do Arkansas, em 5 de maio de 1993. Condenados pelos assassinatos, os jovens passaram mais da metade da vida na cadeia até que o caso fosse revisado e provas de DNA fossem aceitas em um novo julgamento, mas o crime permanece sem solução.

Tudo começa em 5 maio de 1993, quando a polícia foi informada do desaparecimento de três crianças. West Memphis é uma pequena cidade do estado de Arkansas, o seu índice criminalidade é baixíssimo e os moradores parecem todos se conhecer. Cercada por uma floresta, era a típica cidade que inspira segurança, não acontecimentos macabros. Mas foi ali que as três crianças desaparecidas foram encontradas mortas.

Os seus nomes eram Christopher Byers, Michael Moore e Stevie Branch, os três tinham oito anos de idade e haviam saído para brincar na floresta que eles e as demais crianças do lugar chamavam carinhosamente de Robin Hood. O que aconteceu lá pode ser descrito como algo digno de uma mente doentia, já que quando a equipe de busca da polícia encontraram os pequenos mortos no rio, foi constatado que os menininhos haviam sofrido violência sexual, estavam com seus membros superiores e inferiores amarrados, um deles tinha sido mordido e outro tinha tido sua genitália cortada.

A cidade clamava por justiça, todos queriam saber quem na comunidade era capaz de cometer assassinatos tão terríveis, mas as pistas não só eram poucas, como também, a polícia não sabia quais os procedimentos necessários para agiar diante de uma situação como essa. A imprensa passou a tecer vários conjecturas e essas teorias associadas a falta de um caminho a seguir, colocaram um novo protagonista em cena: o diabo. A partir desse momento passou-se a acreditar que as crianças haviam sido sacrificadas em um ritual de satanismo. Essa possibilidade acabou levando a três nomes: Damien Echols, Jason Baldwin e Jessie Misskelley.

A autora de "Nó do Diabo" é a premiada jornalista Mara Leveritt. Segundo ela, o que a inspirou a escrever esse livro foi o absurdo que permeou não só a investigação do caso como o julgamento dos três jovens acusados de cometar os brutais assassinatos. Ela compara a maneira como esse caso foi encarado a caça as bruxas de Salém, já que o que motivou a polícia e posteriormente, a promotoria, a acreditar na culpa de Damien, Jason e Jessie foi o comportamento e estilo que cada um deles tinha. O fato de gostarem de rock, se vestirem de preto e serem considerados estranhos por alguns moradores, os tornaram alvos perfeitos para mostrar o bom serviço de investigação da polícia.

No entanto, ao acompanhar os detalhes do caso, é fácil perceber que há erros graves por parte da polícia local que não só não teve o menor cuidado na busca e preservação de provas, como também, se deixou levar pela comoção popular e preferiu seguir uma rota mais fácil de fechamento para essa história a fazer uma investigação séria que conseguisse ao menos constituir provas que fosse algo mais que circunstanciais e que não deixasse tão evidente que o que estava acontecendo ali era uma total arbitrariedade do sistema.

É possível perceber o quanto tudo isso transforma cada um dos acusados que durante todo o período em que o processo aconteceu ficaram sob os holofotes do poder judiciário e da sociedade. Eles se tornaram figuras conhecidas nos Estados Unidos graças a atenção que eles conseguiram de cineastas que levaram os acontecimentos de suas vidas para documentários. "Nó do Diabo" também chegará aos cinemas, a própria autora será a roteirista dessa dramatização que sem sombra de dúvidas mexe com a cabeça de qualquer pessoa.

A escrita de Mara é crua e ela não tem puderes em descrever cenas de modo que elas se tornem realistas o suficiente para que o leitor sinta um soco no estômago com tudo o que acontece não só as crianças, como também, aos três acusados. Eu fiquei devastada com a maldade que fizeram com os menininhos, enquanto eu lia, podia ver claramente a situação em que eles foram encontrados e isso acabou comigo muito mais do que as injustiças causadas aos acusados, pois uma coisa ficou muito clara na minha mente: os pequenos não tiveram ninguém por eles, eles não puderam se defender. 

Diante disso, só posso dizer a você que se interessa por histórias reais que leia esse livro. A leitura dele não só é esclarecedora para quem sempre teve curiosidade com relação ao caso dos três de Memphis, como também, deixa claro o quanto o sistema pode ser influenciado. Por mais que seja uma leitura dolorosa, é um ótimo exemplo de que nem sempre as aparências determinam o caráter das pessoas.


--- Isabelle Vitorino ---

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