Resenha: A Loba Vermelha por Liza Marklund
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Sou uma pessoa bem problemática quando o assunto é personagens. Ou eu
os amo, ou os odeio. O que é um pouco radical, eu sei. Ainda mais porque eles são
um dos pilares para o leitor se entrosar ou não com uma história. Posso estar
errada, mas nunca fui testada com relação quanto em “A Loba Vermelha”. Um livro
de contrastes e contradições extraordinárias que vocês poderão saber mais nessa
resenha.
Série: Annika Bergtzon #5
Autor (a): Liza Marklund
Editora: Bertrand Brasil
Páginas: 476
Um jornalista é atropelado no cenário congelante de uma cidadezinha ao norte da Suécia. Enquanto isso, Annika Bengtzon, repórter de um tabloide de Estocolmo, planeja escrever uma série de artigos sobre um ataque terrorista ocorrido há mais de trinta anos contra uma base aérea próxima daquele lugar remoto. Ela pretendia entrevistar o repórter, e agora desconfia de que sua morte tenha alguma relação com o atentado. Indo contra ordens explícitas de seu chefe, Annika começa a investigar o caso, que logo é sucedido por uma série de assassinatos chocantes.
Annika Bengtzon é uma jornalista conhecida por ir sempre até o fim
quando se propõe a fazer alguma coisa. Por ter passado por uma situação
traumática recentemente e por ter ajudado a colocar o jornal nos holofotes da
mídia internacional, seu chefe lhe deu liberdade para que ela escrevesse sobre
aquilo que ela quisesse e ela estava determinada a transformar o jornal em uma
ferramenta para fazer da verdade uma realidade ao alcance de todos. E é através
desse ideal que ela inicia uma investigação para entender melhor o que
aconteceu em um evento doloroso ocorrido no seu país e que até então estava
encoberto por pessoas influentes.
No entanto, quando um jornalista é morto e outros assassinatos o
sucedem, ela nota que algo a mais está acontecendo e pode estar ligado de
alguma forma ao terrorismo cometido tantas décadas antes. Se empenhando cada
vez mais em cobrir essa matéria, os fantasmas que a perseguem, começam a fazer com
que ela seja desacreditada no trabalho e posta de lado pelo seu marido que a
cada dia parece passar mais tempo no escritório. Vivendo um inferno pessoal e
profissional, Annika tenta não se deixar abalar, mesmo quando sua vontade é
sucumbir às vozes que clamam por ela.
“A Loba Vermelha” é definitivamente um livro de contrastes e contradições.
Com muita melodia fornecida na disposição de suas palavras e frases de efeito
impactantes, ele possui também um texto fluido que impulsiona o leitor a ler
uma e outra página mesmo quando não há nenhum grande acontecimento ocorrendo. Entretanto,
durante todo o tempo em que estive lendo e observando o desenrolar dos fatos da
história, automaticamente fui listando várias coisas que me desagradavam na
construção realizada pela autora Liza Marklund mesmo quando a narrativa era
agradável.
Sendo bem sincera, nenhuma delas me incomodou tanto quanto a falta de
uma boa resolução para o problema que a protagonista estava tendo com o seu
marido. Como mulher, não achei nenhum pouco crível a maneira como a problemática
foi abordada, muito menos o modo passivo com a qual a Annika reagiu diante da
situação e o súbito arrependimento que o seu marido teve nos quarenta e cinco
do segundo do tempo. Sei que por fazer parte de uma série, a autora ainda
abordará nos próximos livros mais questões pessoais da protagonista, mas acho
que nas suas páginas cabia muito bem uma boa conversa de casal onde ambos
colocassem às claras seus sentimentos, pensamentos, indecisões e qualquer outra
coisa que tivesse tornando essa relação tão conflituosa.
Talvez por já estar tão desgostosa com essa postura da autora, maximizei
ainda mais os outros pontos que me irritaram na construção do seu enredo, pois
não contente em deixar de explanar melhor esse ponto da vida da personagem, a
autora ainda deu a ela uma mente livre de culpas por não pensar tanto nos seus filhos
ao se expor a perigos letais, bem como, a dotou de um senso dedutivo digno de
Sherlock Holmes. Sobre esse último ponto, posso dizer que fiquei completamente
estarrecida com a quantidade de vezes em que Annika conseguiu transformar uma
simples palavra em uma informação de suma importância para a investigação que
ela estava fazendo acerca de um ato terrorista no seu país e em como ela
convenientemente acertava a maioria dos seus palpites e conseguia extrair
informação de todas as fontes que ela procurava.
É certo que jornalistas têm uma rede de contatos absurdamente grande,
mas eu nunca vi na vida pessoas tão dispostas a falar com a imprensa depois de
passar por uma situação difícil como em “A Loba Vermelha”. Além disso, ainda
tive certa dificuldade em entender qual a importância de alguns personagens e o
peso de alguns acontecimentos para a história como um todo. Isso nunca havia
acontecido comigo antes em se tratando de uma série policial, mas com Annika
Bengtzon fez falta ler os livros antecessores da série para não só entender
quem é quem na trama, como também, para entender a própria mente da
protagonista que a maior parte do tempo possui ares de louca.
Diante de tantos problemas que tive com a construção e a exposição da
história, foi com certo alívio que acompanhei os pormenores do caso que Annika
estava investigando. Pois começando como quem não quer nada com um artigo para
reavivar a memória dos leitores do jornal sobre a explosão de um avião em uma
base militar ocorrido há alguns anos, logo a jornalista se depara com
informações que a colocam na pista de um serial killer que tem uma ligação muito
forte com esse acontecimento.
Dessa forma, o leitor logo é sugado para dentro de uma história
complexa que mistura duas épocas distintas através de uma narrativa quase
poética. Por ser narrado em terceira pessoa, é possível ter uma melhor noção
dos sentimentos de alguns dos envolvidos – mesmo que ilusoriamente – e isso
acaba dando um vislumbre muito bacana sobre política, corrupção e terrorismo em
um país com uma cultura bem distinta da nossa, mas que também sofre o mal de
ser vítima do jogo de interesses daqueles que estão no poder. E foi por gostar
tanto do tema que a autora abordou que não pude deixar de ansiar por continuar acompanhando
as jornadas da personagem e o desenvolvimento de sua vida pessoal. Só espero
que nos demais livros da série (que somam o total de nove volumes), a autora tenha
conseguido conduzir melhor o leitor por entre o estranho labirinto que é a
mente e a vida da jornalista Annika Bengtzon.
– Você não pode ser amado por todo mundo – dizia ela. – É melhor defender aquilo em que acredita do que tentar agradar a todos. Pág. 251
Playlist:
--- Isabelle Vitorino ---
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