Resenha: A Loba Vermelha por Liza Marklund

Sou uma pessoa bem problemática quando o assunto é personagens. Ou eu os amo, ou os odeio. O que é um pouco radical, eu sei. Ainda mais porque eles são um dos pilares para o leitor se entrosar ou não com uma história. Posso estar errada, mas nunca fui testada com relação quanto em “A Loba Vermelha”. Um livro de contrastes e contradições extraordinárias que vocês poderão saber mais nessa resenha.

Título: A Loba Vermelha
Série: Annika Bergtzon #5
Autor (a): Liza Marklund
Editora: Bertrand Brasil
Páginas: 476
Ano: 2014
Onde comprar: Saraiva
Um jornalista é atropelado no cenário congelante de uma cidadezinha ao norte da Suécia. Enquanto isso, Annika Bengtzon, repórter de um tabloide de Estocolmo, planeja escrever uma série de artigos sobre um ataque terrorista ocorrido há mais de trinta anos contra uma base aérea próxima daquele lugar remoto. Ela pretendia entrevistar o repórter, e agora desconfia de que sua morte tenha alguma relação com o atentado. Indo contra ordens explícitas de seu chefe, Annika começa a investigar o caso, que logo é sucedido por uma série de assassinatos chocantes.

Annika Bengtzon é uma jornalista conhecida por ir sempre até o fim quando se propõe a fazer alguma coisa. Por ter passado por uma situação traumática recentemente e por ter ajudado a colocar o jornal nos holofotes da mídia internacional, seu chefe lhe deu liberdade para que ela escrevesse sobre aquilo que ela quisesse e ela estava determinada a transformar o jornal em uma ferramenta para fazer da verdade uma realidade ao alcance de todos. E é através desse ideal que ela inicia uma investigação para entender melhor o que aconteceu em um evento doloroso ocorrido no seu país e que até então estava encoberto por pessoas influentes.

No entanto, quando um jornalista é morto e outros assassinatos o sucedem, ela nota que algo a mais está acontecendo e pode estar ligado de alguma forma ao terrorismo cometido tantas décadas antes. Se empenhando cada vez mais em cobrir essa matéria, os fantasmas que a perseguem, começam a fazer com que ela seja desacreditada no trabalho e posta de lado pelo seu marido que a cada dia parece passar mais tempo no escritório. Vivendo um inferno pessoal e profissional, Annika tenta não se deixar abalar, mesmo quando sua vontade é sucumbir às vozes que clamam por ela.

“A Loba Vermelha” é definitivamente um livro de contrastes e contradições. Com muita melodia fornecida na disposição de suas palavras e frases de efeito impactantes, ele possui também um texto fluido que impulsiona o leitor a ler uma e outra página mesmo quando não há nenhum grande acontecimento ocorrendo. Entretanto, durante todo o tempo em que estive lendo e observando o desenrolar dos fatos da história, automaticamente fui listando várias coisas que me desagradavam na construção realizada pela autora Liza Marklund mesmo quando a narrativa era agradável.

Sendo bem sincera, nenhuma delas me incomodou tanto quanto a falta de uma boa resolução para o problema que a protagonista estava tendo com o seu marido. Como mulher, não achei nenhum pouco crível a maneira como a problemática foi abordada, muito menos o modo passivo com a qual a Annika reagiu diante da situação e o súbito arrependimento que o seu marido teve nos quarenta e cinco do segundo do tempo. Sei que por fazer parte de uma série, a autora ainda abordará nos próximos livros mais questões pessoais da protagonista, mas acho que nas suas páginas cabia muito bem uma boa conversa de casal onde ambos colocassem às claras seus sentimentos, pensamentos, indecisões e qualquer outra coisa que tivesse tornando essa relação tão conflituosa.

Talvez por já estar tão desgostosa com essa postura da autora, maximizei ainda mais os outros pontos que me irritaram na construção do seu enredo, pois não contente em deixar de explanar melhor esse ponto da vida da personagem, a autora ainda deu a ela uma mente livre de culpas por não pensar tanto nos seus filhos ao se expor a perigos letais, bem como, a dotou de um senso dedutivo digno de Sherlock Holmes. Sobre esse último ponto, posso dizer que fiquei completamente estarrecida com a quantidade de vezes em que Annika conseguiu transformar uma simples palavra em uma informação de suma importância para a investigação que ela estava fazendo acerca de um ato terrorista no seu país e em como ela convenientemente acertava a maioria dos seus palpites e conseguia extrair informação de todas as fontes que ela procurava.

É certo que jornalistas têm uma rede de contatos absurdamente grande, mas eu nunca vi na vida pessoas tão dispostas a falar com a imprensa depois de passar por uma situação difícil como em “A Loba Vermelha”. Além disso, ainda tive certa dificuldade em entender qual a importância de alguns personagens e o peso de alguns acontecimentos para a história como um todo. Isso nunca havia acontecido comigo antes em se tratando de uma série policial, mas com Annika Bengtzon fez falta ler os livros antecessores da série para não só entender quem é quem na trama, como também, para entender a própria mente da protagonista que a maior parte do tempo possui ares de louca.

Diante de tantos problemas que tive com a construção e a exposição da história, foi com certo alívio que acompanhei os pormenores do caso que Annika estava investigando. Pois começando como quem não quer nada com um artigo para reavivar a memória dos leitores do jornal sobre a explosão de um avião em uma base militar ocorrido há alguns anos, logo a jornalista se depara com informações que a colocam na pista de um serial killer que tem uma ligação muito forte com esse acontecimento.

Dessa forma, o leitor logo é sugado para dentro de uma história complexa que mistura duas épocas distintas através de uma narrativa quase poética. Por ser narrado em terceira pessoa, é possível ter uma melhor noção dos sentimentos de alguns dos envolvidos – mesmo que ilusoriamente – e isso acaba dando um vislumbre muito bacana sobre política, corrupção e terrorismo em um país com uma cultura bem distinta da nossa, mas que também sofre o mal de ser vítima do jogo de interesses daqueles que estão no poder. E foi por gostar tanto do tema que a autora abordou que não pude deixar de ansiar por continuar acompanhando as jornadas da personagem e o desenvolvimento de sua vida pessoal. Só espero que nos demais livros da série (que somam o total de nove volumes), a autora tenha conseguido conduzir melhor o leitor por entre o estranho labirinto que é a mente e a vida da jornalista Annika Bengtzon.

– Você não pode ser amado por todo mundo – dizia ela. – É melhor defender aquilo em que acredita do que tentar agradar a todos. Pág. 251

Playlist:
--- Isabelle Vitorino ---

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