Resenha: Ecos da Morte por Kimberly Derting

Livros juvenis com temática sobrenatural foram a grande aposta das editoras em meados de 2010 por causa do grande sucesso de séries como Crepúsculo e Harry Potter. Mas como todo boom, as coisas depois se acalmaram e as pessoas puderam analisar melhor o tal modismo que esteve operante até então. Como fã do gênero posso dizer que essa calmaria serviu para duas coisas: para os leitores refletirem sobre o gênero e para as editoras elevarem a qualidade desses livros a um novo patamar. Contudo, infelizmente isso não fez com que ambos os pontos andassem lado a lado... pelo menos não em Ecos da Morte.

Título: Ecos da Morte
Série: The Body Finder #1
Autor (a): Kimberly Derting
Editora: Intrínseca
Páginas: 272
Ano: 2011
Onde comprar: Saraiva | Submarino
Violet Ambrose tem dois problemas – o dom mórbido e secreto que carrega desde a infância e Jay Heaton, seu melhor amigo, por quem está apaixonada. Aos dezesseis anos e confusa com os novos sentimentos em relação a Jay, ela começa a ficar cada vez mais incomodada com sua estranha habilidade – Violet encontra cadáveres. Desde pequena ela percebe os ecos que os mortos deixam neste mundo. Ruídos, cores, cheiros. Mas não todos, apenas os das vítimas de assassinato. Para ela, isso nunca foi um grande talento. Na maioria das vezes, tudo o que encontrava eram pássaros mortos, deixados para trás pelo gato da família. Mas, agora que um serial killer está aterrorizando a pequena cidade onde mora e os ecos das garotas assassinadas a perseguem dia e noite, Violet se dá conta de que talvez seja a única pessoa capaz de detê-lo. Em pouco tempo ela estará no rastro do assassino. E ele, no dela. 


Violet não é uma garota normal em muitas coisas, mas se tem algo que a torna semelhante as demais de sua idade é o fato de estar apaixonada pelo seu melhor amigo. Ela não sabe quando isso começou, mas de repente aquele garoto comum sumiu e deu lugar a um que não só tinha todas as qualidades que ela tanto admirava, como também, tinha se tornado bonito o suficiente para que todos os olhares femininos se voltassem para aonde quer que ele fosse. Isso estava mexendo com sua cabeça de uma forma que ela não era capaz de se concentrar em muita coisa, mas quando ela vê o eco de um morto na água do lago, ela sabe que não será capaz de ignorá-lo até que parte do mistério envolvendo aquele corpo estivesse resolvido. O que ela não esperava era que o caso fizesse parte de um crime praticado por um serial killer que passa a deixar um rastro de corpos e ecos para trás, colocando-a diante de um grande impasse: o de se tornar a caça ou o caçador.

Em ‘Ecos da Morte’ a autora Kimberly Derting se propôs a conduzir o leitor por uma trama repleta de suspense, mas com um toque de romantismo que deixaria a história imperdível. Contudo, tenho que dizer que o que vi no livro foi a inversão dessa proposta, já que o que encontrei foi um romance que se prolonga até não poder mais e um caso policial que apesar de ser bem interessante é posto em segundo lugar para que o leitor vislumbre um pouco mais de drama adolescente. Sei que descrevendo-o dessa maneira a história parece ser mais do mesmo, mas é justamente o que ela se tornou quando a autora preteriu o dom que a Violet tinha de ouvir ecos das almas daqueles que partiram para focar nos sentimentos que ela nutria pelo seu melhor amigo. Ao fazer isso, Derting não só colocou em jogo o bom desenrolar de sua trama, como também, condicionou a sua protagonista a vivenciar situações intermináveis que só posso nomear como sendo de “donzela em perigo”.


E sendo bem sincera, o dom de capturar resquícios da alma de pessoas mortas não combina em nada com uma personalidade fraca e que não usa a razão na hora de tomar decisões, mas foi o que eu vi incontáveis vezes durante o livro e isso me incomodou sobremaneira. À parte disso, a autora também cometeu o deslize de não dar melhores explicações sobre o dom de Violet, já que os únicos detalhes que o leitor tem sobre o assunto foram rasos demais. E por falar em temas mal explorados, não tenho como deixar de pontuar a maneira completamente insatisfatória com que ela solucionou os crimes que estavam ocorrendo na cidade. Principalmente porque não satisfeita em deixar o final previsível, ela ainda destruiu qualquer esperança do leitor de entender quais eram as razões que levaram o serial killer a cometer tais crimes.


Outro ponto que me chateou com relação ao desenvolvimento do enredo foram as infindáveis reclamações que a protagonista fez no decorrer da narrativa sobre o fato de estar apaixonada pelo Jay e por ele estar chamando a atenção das meninas da escola. Ainda mais porque foi nesse ponto que a autora caiu nas garras do clichê ao trazer para o seu livro o pior do estilo “high school” na literatura, esquecendo-se que o ambiente escolar só funciona bem em thrillers se o autor se propuser a abordá-lo fora da zona de conforto (lembrem-se de “Carrie, a estranha” ao ler isso). Não dá mais para ficar fazendo piadinhas sobre a garota popular do tipo “abelha rainha” e ainda querer que o leitor ache graça disso, sinto muito.

E se você estiver prestes a riscar o livro da sua lista de desejados, não faça isso – ainda –, porque o livro tem sim suas qualidades. Uma delas é a narrativa da autora, já que mesmo com diálogos simples, ela consegue envolver o leitor de forma que você lê uma e outra página sem sequer perceber. Principalmente porque a sua forma de descrever os cenários tem certa delicadeza que deixa a leitura mais fluída e o clima da cidade bem interiorano. Como o livro é escrito em terceira pessoa, há certa flexibilidade na mudança de pontos de vista e apesar da autora não explorar isso muito bem, ela consegue instigar a leitura ao inserir alguns capítulos curtos do ponto de vista do criminoso em questão. 


Ou seja, em matéria de equilíbrio entre erros e acertos até que ela não foi mal. O que faltou mesmo foi ponderação na hora de acrescentar ou retirar algo do enredo, já que foi nesse quesito que mais pude observar a sua inexperiência como escritora. Tenho certeza que se a Kimberly tivesse deixado a sua ideia amadurecer mais um pouco antes de declarar esta como sendo sua versão final do livro, ela teria conseguido entregar algo mais semelhante ao que foi prometido por ela, pelos meios de comunicação e pelas editoras, aos leitores da série ‘The Body Finder’. Dito isso, não posso concluir essa resenha sem antes dizer que 'Ecos da Morte' é uma leitura para distrair nas tardes de ócio e não um thriller para fazer você temer a sua própria sombra. Em suma: antes de considerar a leitura do livro, pondere sobre aquilo que você espera dele para não se decepcionar depois.



Aqueles eram corpos que estavam em paz. Arrancados do mundo antes da hora, mas postos para descansar eternamente por aqueles  que mais o amavam. E estavam em harmonia. Pág. 130

Playlist:


--- Isabelle Vitorino ---

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