Resenha: O Pacto por Joe Hill

Estando a poucos dias do Halloween senti a necessidade de ler algo que tivesse como base o terror. Dividida entre Stephen King e Joe Hill, acabei deixando o pai de lado para ver o que o filho do mestre do horror contemporâneo tinha reservado para os seus leitores. E olha, me surpreendi muito com o que eu encontrei nas páginas do seu livro...

Título: O Pacto
Autor: Joe Hill
Editora: Arqueiro (Sextante)
Páginas: 320
Ano: 2010
Onde comprar: Nobre Cultura
Ignatius Perrish sempre foi um homem bom. Tinha uma família unida e privilegiada, um irmão que era seu grande companheiro, um amigo inseparável e, muito cedo, conheceu Merrin, o amor de sua vida. Até que uma tragédia põe fim a toda essa felicidade: Merrin é estuprada e morta e ele passa a ser o principal suspeito. Embora não haja evidências que o incriminem, também não há nada que prove sua inocência. Todos na cidade acreditam que ele é um monstro. Um ano depois, Ig acorda de uma bebedeira com uma dor de cabeça infernal e chifres crescendo em suas têmporas. Descobre também algo assustador: ao vê-lo, as pessoas não reagem com espanto e horror, como seria de esperar. Em vez disso, entram numa espécie de transe e revelam seus pecados mais inconfessáveis.

Ig está a um ano vivendo em um inferno pessoal, já que além de não conseguir superar a morte de sua namorada que fora brutalmente assassinada, ele também é o principal suspeito de ter cometido esse crime terrível. Vivendo uma vida miserável, ele não lembra em nada o bom garoto que era quando sua Merrin estava viva e se mantém em um estado constante de embriaguez que não surpreende a mais ninguém. Contudo, é após uma de suas bebedeiras que ele acorda de ressaca e vê que chifres haviam crescido em sua cabeça. 

Encarando aquilo como alucinação decorrente de alguma doença terminal, ele tenta de todas as maneiras encontrar alternativas que explicassem o porquê daqueles chifres estarem ali, porém a noite anterior parece estar em algum lugar de sua mente que ele não consegue alcançar. Desse modo, ele passa a procurar várias pessoas que ele considera suas amigas para que possam ajudá-lo, mas para sua surpresa ao vê-lo, elas passam a revelar segredos escabrosos que de alguma forma contam muito sobre o que elas pensam sobre ele. Profundamente abalado com as coisas que escuta, ele percebe que ninguém – nem mesmo sua família – acredita que ele é inocente, porém, é a revelação do seu irmão Terry que mais o choca e que o impulsiona a assumir sem remorsos a sua mais nova identidade: a de ser o diabo.

Dificilmente eu pego um livro com a quantidade de páginas que esse tem e demoro mais que um dia para terminar de lê-lo, mas para contrariar minhas próprias estatísticas ‘O Pacto’ foi lido de modo lento e se tornou o responsável pelos vários sentimentos conflitantes que tive durante a leitura. Para começar, Joe Hill mostra que não está muito preocupado com a sensibilidade do leitor e já inicia a história com uma cena capaz de deixar as pessoas mais religiosas de cabelo em pé, mas ele não para por aí, pois logo em seguida ele traz uma trama viciante, que cheia de revelações deixa uma pergunta solta no ar: O que será que aconteceria se as pessoas falassem toda a verdade? 

E é através de uma escrita nua e crua que o autor explora todas as respostas para essa pergunta durante a jornada de Ig, um personagem contraditório que com o seu papel de jovem diabo transforma a história de maneira um tanto peculiar, já que apesar da figura mítica que ele representa ser sempre o vilão nos livros, em ‘O Pacto’ ele acaba se tornando o justiceiro cujos poderes são o que o protagonista necessita para combater o antagonista e assim obter a sua tão sonhada vingança.

Como isso acontece é um dos pontos que mais me deixou intrigada durante a leitura, já que apesar do Ig ter conseguido uma ajudinha extra, ele continuava sendo psicologicamente e fisicamente mais fraco que o Lee, seu amigo de infância, crápula de marca maior e o grande responsável pela tragédia que destruiu sua vida. Contudo, tenho que dizer que isso me soou estranho, pois era de se esperar que ele tivesse facilidade em arquitetar um plano maléfico e assim destruir seu inimigo, mas não foi isso que aconteceu, visto que ele preservou o que de pior tinha nele: a miséria e a autocomiseração por causa da ausência de Merrin. Foram tantas reclamações e flashbacks para explicar os motivos que o levaram até aquele ponto de sua vida, que por alguns momentos eu me senti cansada da história.

Ainda mais porque o enredo tinha tanto potencial que se ater apenas aos pontos que o autor explorou tornou o texto cansativo, pois apesar do livro ter capítulos realmente instigantes que me deixavam aflita para saber o que estava para acontecer, tinha outros que eu precisava fazer muito esforço para ler, já que eram morosos até dizer chega. Entretanto, nada me irritou mais do que o final do livro, já que Joe Hill não só escreveu vários trechos com picos de tensão máxima, como também, os desfez de maneira que ‘O Pacto’ alcançou o seu fim deixando de lado um dos pontos principais do enredo e relatando acontecimentos que deixam por conta do leitor acreditar ou não na proposta do autor. Ou seja, como um todo o livro é bom, mas não é tão extraordinário como poderia ter sido se o autor tivesse cortado alguns excessos e trabalhado melhor em alguns trechos que pareceram mais pertencentes a um livro de drama do que a um de terror.


A alma não pode ser destruída. A alma é eterna. Como o número pi, ela não tem fim nem conclusão. Como o pi, ela é uma constante. Pi é um número irracional, impossível de ser fracionado. A alma também é uma equação irracional e indivisível que expressa perfeitamente uma coisa: você. Pág. 190

Playlist:


--- Isabelle Vitorino ---

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