Resenha Especial: O Coração Delator por Edgar Allan Poe


Título do Livro: Contos de Imaginação e Mistério
Títulos do Conto: O Coração Delator (ou Denunciador)
Editora: Tordesilhas
Páginas: 424 (105 a 112)
Ano: 2012
Esta é a história de um homem que nega sua loucura e que está decidido a provar o leitor que é são. Para ele, o seu problema está unicamente no olho do seu amo. Sim, um olho com catarata de um velho que nunca lhe fizera mal. Decidido a fazer algo sobre isso, ele planeja com tranquilidade formas de alcançar seu intento. Se preocupando apenas com os detalhes do plano perfeito que fará com que ele se livre do maldito olho de uma vez por todas, aos poucos ele mostra como é fina a linha que separa a sanidade da loucura.

"O Coração Delator" desde o início envolve o leitor em uma trama cheia de suspense e que tem origem dentro da mente fértil de um homem que apesar de afirmar não ser louco, tem todos os indicativos de que o é. Tudo começa com a confissão do homem que se diz um servo fiel do seu amo – um velho em idade avançada –, mas que já não aguenta mais a tortura de dia após dia ter que olhar para o rosto dele e ver um olho com catarata voltado em sua direção. Aquele olho lhe enche de fúria de uma maneira tão profunda, que ele passa a tecer vários planos para se livrar dele.

Dessa forma, por várias noites seguidas ele segue para o quarto onde o velho dorme após a meia-noite e o espia por entre a fresta da porta. Em sua mente, em algum momento ele irá ver o olho com catara aberto e fará o que tem de ser feito. Contudo, nada nunca acontece. Até que em uma noite de vigia ele é descuidado e acorda o velho. O senhor mesmo que temeroso indaga quem está ali, porém como não recebe uma resposta, vai se enchendo de um pavor inominável que faz com que as batidas do seu coração já cansado, soem cada vez mais altas. Tão altas que nublam completamente a mente do seu servo e faz com que ele cometa uma grande loucura.

Assim como "O Gato Preto", o conto "O Coração Delator" foi publicado em 1843 e trouxe para o leitor uma história onde a insanidade exerce um papel preponderante nas atitudes de um homem. Sua simbologia é muito mais relativa aos aspectos psicológicos dos personagens, do que a elementos que estão aquém aos mesmos, como, por exemplo, os de ambientação. Nesse sentido, o narrador do enredo inicia sua jornada defendendo sua sanidade e explicando o porquê agiu de maneira tão violenta com um velho a quem ele dizia amar. A todo o momento ele justifica suas motivações, para ele, não há nada que possa refutar o fato de que o problema não era o velho e sim o seu olho - órgão que ele atribui uma essência maligna.

É recorrente nas obras de Edgar Allan Poe a menção aos olhos e a análise simbológica dos mesmos mostra que esse órgão é tido como uma portal para a alma do indivíduo ou mesmo, uma maneira de enxergar a verdade. Segundo o narrador do conto, o olhar do velho é um "Mau Olhado", ou seja, é tido como algo demoníaco e que pode ser encarado pelo leitor ou como um estopim para a loucura desse homem que se descreve como um criado ou como a revelação da doença que o acometia e que até então não havia se manifestado. Seu ódio pelo que sente ao observar aquele olhar é tanto que o fato de que em alguns momentos haver identificação entre ele e a sua vítima, não reduz a sua vontade de se sentir em paz novamente. Por isso, ele reduz a existência do velho ao seu olho de catarata e posteriormente ao seu coração apavorado.

O fato é que mais do que podemos supor através da análise simbológica e textual, "O Coração Delator" surpreende sobremaneira por trazer a história de alguém claramente louco, mas que não só afirma não ser louco, como também, filosofa sobre isso. É tão latente a certeza de sua insanidade que mesmo quando temos certeza do desfecho trágico do conto, ainda somos surpreendidos pelas motivações e detalhamento do ocorrido. Em função desse e de outros pontos, o considero com uma estrutura muito similar a de "O Gato Preto", mas é claro que isso não diminui suas características próprias, principalmente, aquelas relativas ao que um mente doente pode refletir através de suas ações.

Animação do conto 'O Coração Delator'
Com efeito! - nervoso - tenho andado terrivelmente nervoso, ando com os nervos à flor da pele, mas porque insistis que estou louco? A doença intensificou meus sentidos - não os destruiu - tampouco os embotou. Acima de tudo, aguçou a audição. Escutei todas as coisas no céu e na terra. Escutei muitas coisas no inferno. Pág. 105

--- Isabelle Vitorino ---

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