Resenha: Nosferatu por Joe Hill

Falar de Joe Hill não é fácil (quem já leu Stephen King, espera do filho a mesma escrita intensa e criativa do pai), mas mais complicado ainda é passar a intensidade e a emoção que senti ao ler "Nosferatu" sem dar spoiler. Espero que tenha conseguido passar tudo isso, se não, me perdoem, pois essa é a minha primeira resenha para um blog. Em todo caso, prazer, eu sou Juliana, a nova colunista do Mundo dos Livros.

Título: Nosferatu
Autor: Joe Hill
Editora: Arqueiro
Páginas: 624
Ano: 2014
Onde comprar: Saraiva | Submarino

Victoria McQueen tem um misterioso dom: por meio de uma ponte no bosque perto de sua casa, ela consegue chegar de bicicleta a qualquer lugar no mundo e encontrar coisas perdidas. Vic mantém segredo sobre essa sua estranha capacidade, pois sabe que ninguém acreditaria. Ela própria não entende muito bem. Charles Talent Manx também tem um dom especial. Seu Rolls-Royce lhe permite levar crianças para passear por vias ocultas que conduzem a um tenebroso parque de diversões: a Terra do Natal. A viagem pela autoestrada da perversa imaginação de Charlie transforma seus preciosos passageiros, deixando-os tão aterrorizantes quanto seu aparente benfeitor. E chega então o dia em que Vic sai atrás de encrenca... e acaba encontrando Charlie. Mas isso faz muito tempo e Vic, a única criança que já conseguiu escapar, agora é uma adulta que tenta desesperadamente esquecer o que passou. Porém, Charlie Manx só vai descansar quando tiver conseguido se vingar. E ele está atrás de algo muito especial para Vic. Perturbador, fascinante e repleto de reviravoltas carregadas de emoção, a obra-prima fantasmagórica e cruelmente brincalhona de Hill é uma viagem alucinante ao mundo do terror.

Victoria McQueen era uma garotinha especial. Aos 8 anos de idade ganhou de presente do seu pai uma bicicleta que acabou se revelando diferente de qualquer outra, já que após ouvir uma discussão dos pais a respeito de uma pulseira perdida e sair pedalando a procura dela bosque a dentro, ela conseguiu passar por um Atalho e sair exatamente no local onde tinha que procurar o objeto pertencente a sua mãe. Sem entender como conseguiu realizar esse feito, Vic desejou encontrar alguém que a explicasse o que estava acontecendo e o porquê dela conseguir fazer algo tão extraordinário. 

Em sua busca, ela acabou encontrando uma bibliotecária que tinha um dom semelhante ao dela. Só que a maneira que Margareth Leigh utilizava seus dons não era através de uma bicicleta, mas sim do seu de jogo Palavras Cruzadas. E foi por meio do jogo que Maggie avisou Vic sobre o temido Espectro: O Rolls-Royce de Charlie Manx. Charlie também tinha o dom de sair da realidade com ajuda do seu carro, mas mais do que isso, ele podia levar outras pessoas com ele para um o local onde ele fazia as regras: a Terra do Natal - um parque de diversões macabro, existente dentro de sua imaginação. 

No decorrer dos anos, Charlie Manx carregou várias crianças como passageiras e elas acabaram se tornando tão assustadoras quanto ele. Nenhuma havia escapado. Nenhuma até ele capturar Vic e ela conseguir fugir por um triz dos seus ardis com muitas lembranças terríveis em sua mente. No entanto, diferente de Vic, Charlie não queria perder essas memórias, pois ele só descansaria depois que conseguisse se vingar da garota. E é justamente quando Vic começa a tentar levar uma vida normal depois de anos entre clínicas psiquiátricas e reabilitações para viciados em álcool, que Charlie Manx volta para sua vida com promessas tenebrosas para o seu futuro.

"Nosferatu" é um livro cheio de reviravoltas emocionantes. Com um ar pra lá de perturbador, ele consegue envolver de um jeito fascinante, pois com um misto de terror e fantasia, Joe Hill leva os leitores à uma viagem alucinante num mundo inacreditável, com personagens imprevisíveis e complicados que tornam a leitura uma ótima experiência para quem gosta de livros impactantes. Porém, mesmo com tantos predicados reconhecidos após o término da leitura, a verdade é que fiquei com receio quando comecei a ler essa história, pois pelo que eu tinha ouvido falar do autor e de outros livros do próprio, as minhas expectativas estavam bem em baixa.

Acredito que isso até foi bom, já que reconhecer o talento do Joe Hill a cada página lida, foi algo ainda mais fascinante. O modo como ele misturou a realidade e a fantasia, foi sem sombra de dúvidas uma das mais impressionantes provas de que para algo se sobressair em meio a uma temática repleta de clichês, o autor tem que se arriscar. Sobre essa abordagem diferenciada que ele fez, posso dizer que em "Nosferatu" existem dois mundos: o mundo real, onde as coisas são ou não verdadeiras, sem meio termo; e o mundo que existe dentro de cada ser, uma paisagem interior, um mundo construído de pensamentos. 

Para grande parte das pessoas, esse mundo imaginário é a coisa mais prazerosa que elas poderiam ter na vida. Entretanto, o mundo de Charlie Manx é o mais tenebroso que alguém sequer poderia imaginar. Tanto que as crianças que vivem lá conseguem ser mais assustadoras do que o próprio Charlie! E é nesse ponto que Hill acerta em cheio no terror incutindo nos seus leitores, pois ele mostra que na mente de um ser psicótico como Manx, o que ele faz é o certo a ser fazer, já que em sua concepção ele está salvando as crianças que sequestra e transforma de uma vida de abusos e maus-tratos. 

Abordar esse ponto de vista, de alguma forma muda o modo como vemos o próprio vilão, já que ele é uma mistura de "inocência" e maldade, que exerce certo encanto em quem está acompanhando essa jornada.  Além da construção da dúbia dos personagens, outro ponto interessante é a escrita do livro. Relatando a história em vários ângulos, tanto dos personagens, como de modo geral, Hill mostra a maneira como as demais pessoas encaram os sequestros, como os noticiários expões os sumiços das crianças, entre outros detalhes bem interessantes de ser ver. Sempre narrando em terceira pessoa, ele não só alterna constantemente o ponto de vista dos personagens, como também, dá a entender que tudo o que acontece ali faz parte da nossa realidade.

A única coisa que eu acho que ele não deveria ter feito, foi terminar a última frase do final dos capítulos do livro com reticências para que essas que seriam as palavras finais, se tornassem o título do capítulo seguinte. Se o livro fosse curto, talvez esse "pecado" não tivesse me cansado tanto, mas considerado o tamanho do livro, isso acabou me incomodando com o decorrer da leitura. Porém, isso terminou sendo uma falha perdoável considerando todo o conteúdo da intensa história que compõe "Nosferatu", já que cheio de reviravoltas emocionantes e com a intensidade que os leitores anseiam em um livro do gênero, Joe Hill supera as expectativas e dúvidas que possamos ter com relação ao livro e nos faz desejar ler outras criações suas.

Você acredita em um lugar chamado Terra do Natal? O que você daria para passar a vida inteira em um lugar onde todas as manhãs fossem Natal e a infelicidade fosse contra a lei? Pag. 47

Playlist:
 

--- Juliana Gueiros ---

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