Resenha Especial: Senhor das Moscas por William Golding
Marcadores:
Alfaguara,
Clássico da Literatura,
Drama,
Horror,
Literatura Inglesa,
Nobel de Literatura,
Resenha,
Resenha Especial,
Senhor das Moscas,
William Golding
Realizar
uma leitura impactante e ficar com ela rondando sua mente nos transcorrer dos
dias, é uma das sensações mais intensas que um leitor pode ter. “Senhor das
Moscas” faz isso com tanta maestria, que logo é possível entender porque foi
premiado com o Nobel de Literatura.
Título: Senhor das Moscas
Autor: William Golding
Editora: Alfaguara
Páginas: 224
Durante a Segunda Guerra Mundial, um avião cai numa ilha deserta, e seus únicos sobreviventes são um grupo de meninos em idade escolar. Eles descobrem os encantos desse refúgio tropical e, liderados por Ralph, procuram se organizar enquanto esperam um possível resgate. Mas aos poucos — e por seus próprios desígnios — esses garotos aparentemente inocentes transformam a ilha numa visceral disputa pelo poder, e sua selvageria rasga a fina superfície da civilidade, que mantinham como uma lembrança remota da vida em sociedade.
Eles não sabem o que aconteceu,
eles sabem apenas que agora estão ilhados em um lugar paradisíaco sem a
presença de nenhum adulto para controlá-los. Animados com a possibilidade de
viver do modo como quisessem, os vários garotos em idade escolar que estavam em
uma avião e que estranhamente sobreviveram após a sua queda, não se assustam
por estar tão longe de casa, mas sim, sentem-se livres. Distribuídos entre
pré-adolescentes e crianças, pouco a pouco o grupo começa a se organizar para
viver na ilha da melhor maneira possível. Liderados por Ralph, a princípio tudo
parece ser perfeito, mas logo a dura realidade de terem de prover seu próprio
sustento e segurança começa a revelar a verdadeira identidade desses garotos.
Cercados pelo mar e circundados
por uma floresta que de dia lhes fornece seus alimentos e de noite os seus
pesadelos, os visitantes da ilha passam cada vez mais para um estado de selvageria
visto apenas nos primórdios da civilização. Apesar de jovens, eles são levados
a tomar medidas extremas para conseguir aquilo que desejam. Disputando a
liderança de forma ferrenha, o poder sobre os mais fracos passa a cegar a razão
de alguns e transformá-los de maneira irrevogável. Afastando-se cada vez mais
daquilo que eles foram um dia, os garotos tornam-se um retrato fiel do
questionamento: o homem é produto do meio ou o meio é produto do homem?
Repleto de alegorias, “Senhor das
Moscas” é portador de uma história intensa que surpreende o leitor pela maneira
que o envolve em suas amarras até ele se ver sem saída diante do poder das
palavras ali contidas. Aliás, poder é uma palavra realmente importante nesse
livro. Pois é retratando o retrocesso de um grupo de crianças até que elas
cheguem a um estágio de profundo instinto selvagem que o autor vencedor do
prêmio Nobel de Literatura, convida o leitor a observar o desnudar da alma
humana – através de uma narrativa simples em sua estrutura, mas macabra em sua
finalidade – em busca daquilo que ele considera importante em sua vida, mesmo
que seja sob uma óptica distorcida.
Sobre esse ponto, mal posso dizer
o quão estarrecedor foi observar a decadência da civilidade e o fortalecimento
da selvageria entre os garotos. Principalmente, do Jack. Ele que a princípio
mostra-se um jovem cheio de orgulho e com espírito de dominação, ao longo do
enredo ele vai se transformando em alguém com sede de sangue e poder, que não
mede esforços para suplantar sua consciência e deixar que o lado vil de sua
personalidade se apodere dele até que ele faça coisas que talvez se tivesse em
outro meio, não fosse capaz de realizar. No entanto, não há como ter certeza
disso, já que ele poderia sim fazer coisas terríveis mesmo que ficasse cercado
de civilização, mas em outros termos que não pura selvageria animalesca.
Como contraponto dessa figura, o
autor explora muito bem os personagens Ralph e Porquinho. O primeiro, apesar de
ter mais noção de senso comum e trabalhar para que as coisas funcionem de modo que todos eles tenham a chance de sair daquela ilha com vida, falta nele a
inteligência de desencadear ideias e elaborar planos antes de fazer as coisas
funcionarem. Esse papel acaba ficando a cargo de Porquinho, que com seu jeito
sabe-tudo, conquista o leitor aos poucos com a sua maneira de se ater a
civilidade tão necessária para viver em uma comunidade. Ademais, mesmo que haja
outros personagens na história, essa tríade acaba se tornando o pilar dessa
sociedade repleta de responsabilidades e desejos.
E é quando se trata desse
paralelo que o enredo se torna sombrio. Pois se de um lado vemos a luta de uma
minoria para fazer o que é melhor para o bem de todos, vemos uma maioria que
não mede esforços para realizar os desejos mais obscuros de suas almas. E
quando digo obscuro, quero dizer que essas crianças revelam um mal que se não
for inerente as suas essências, são ao menos foco dos seus pensamentos mais íntimos,
já que é quase inconcebível que eles sejam capazes de fazer coisas como sacrifícios
e rituais estarrecedores apenas porque se viram assolados pelo medo de uma
figura mítica que os assolava naquele lugar.
É por isso que mesmo o livro
sendo geralmente associado ao gênero “drama”, eu considero “Senhor das Moscas”
também como pertencente ao “horror”... O horror advindo não só das atribulações
de uma vida dura, como também, daquilo que está intrínseco ao ser. Em suma, uma
história extraordinária que deve ser lida por todo aquele que busca por
leituras que não só o deixem estarrecido, como também, perplexo diante de todos
os questionamentos sugeridos direta e indiretamente por um autor genial como William Golding.
“[…] Se você está se afogando e alguém joga uma corda. Se o médico diz que você precisa tomar um remédio para não morrer – você aceita, não é?” Pág. 153
Playlist:
--- Isabelle Vitorino ---
Postar um comentário
Obrigada pela visita, dê sua opinião, participe e volte sempre.
- Caso tenha uma pergunta deixe seu e-mail abaixo que respondo assim que o comentário for lido.
- Caso sua mensagem não tenha relação com o post, envie para o e-mail.