Resenha: O Sal da Vida por Françoise Héritier
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Você já parou para pensar em
todas as pequenas coisas que moldam quem você é, mas que não se encaixam nas
suas descrições físicas e nas definições de sua personalidade? Não? Então, você
precisa conhecer “O Sal da Vida” para
perceber que os pequenos acontecimentos de nossa vida são os verdadeiros e
grandes responsáveis por sermos quem somos.
Autor (a): Françoise
Héritier
Editora: Valentina
Páginas: 112
Ano: 2013
Nesta meditação, nessa espécie de poema em prosa em homenagem à vida, totalmente íntimo e sensorial, a renomada antropóloga Françoise Héritier vai atrás das pequenas coisas agradáveis (às vezes nem tanto) às quais aspira o mais profundo do nosso ser: as imagens e as emoções, os momentos marcados de recordações que dão sabor à vida, que a tornam mais rica e mais interessante do que muitas vezes acreditamos que ela seja e que nada nem ninguém poderá nos tirar, nunca, jamais!
Recordar
os acontecimentos de nossas vidas é uma forma de revivê-los uma e outra vez sem
jamais esquecer as alegrias, as tristezas, os sorrisos, as lágrimas, o tempero
que faz a nossa vida tão peculiar e que nos torna especial em meio a uma
multidão. Com relatos de seus próprios momentos a antropóloga Françoise Héritier nos mostra através de “O Sal da Vida”
que cada um de nós possui tesouros que pertencem somente a nós. Sempre evocando
imagens, ela traz um quê de poesia em seu livro que nos encanta, diverte e que
nos faz refletir e viajar. Sua ode a vida e a existência é uma encantadora
forma de não se deixar abater pela correria do dia a dia e pela mesmice que nos
ronda constantemente. Apesar de curto, é um livro rico que tocará de forma
muito particular a cada um de seus leitores.
E como não poderia ser diferente, deixo aqui o meu próprio
registro. Espero que vocês se animem e também deixem os seus.
O Sal da Vida
para mim é...
sentir o cheiro da chuva e ouvir o seu gotejar, relembrar aquela partida de
futebol com amigos cuja língua você não conhecia e que aconteceu em um país
longínquo com pés descalços tocando a grama, admirar a grandeza criada pelo seu
arquiteto favorito, sorrir de antecipação toda vez que o carteiro chega,
desbravar lugares inóspitos e perceber que todo o cansaço para chegar até ali
valeu a pena, beber água quando se está com muita sede, iniciar uma conversa
com alguém sobre livros e notar que ao fim você fez um monólogo, magoar-se
diante das injustiças feitas, ter um humor terrível quando se é acordado e
ainda está com sono, saborear um café fresco em um dia particularmente frio,
comemorar cada etapa conquistada no processo de aprendizagem de um novo idioma,
acariciar um livro só porque gostou da sua textura, gargalhar com a forma doce
que seu cachorro tem de chamar a sua atenção.
... confortar-se
com o abraço apertado da sua mãe, admirar a coragem do seu pai, amar as suas
irmãs de forma incondicional e apreciar suas peculiaridades, fechar os olhos
para não ver o precipício pela janela do seu lado do carro, notar que
finalmente sua alma achou o seu lugar quando sentiu a carícia do vento em
território espanhol, ter a sensação de frio no estômago com o decolar do avião
por saber que uma nova aventura lhe aguarda, tentar decorar a letra de uma música
que você gosta muito, apaixonar-se por uma cidade de arquitetura encantadora e
de pessoas ainda mais encantadoras, conhecer pessoas que lhe completam, brincar
com as crianças de uma amiga e ter vontade de ter seus próprios bebês, dançar
até o sol raiar e passar todo o dia posterior sem conseguir levantar da cama
com dores pelo corpo, deliciar-se com o sabor rico do chocolate nos dias de
TPM, rir de piadas que ninguém entende, ficar desesperada com o número de
coisas que estão querendo sair do seu armário e ainda assim querer aquele
suéter de cor bonita que viu na vitrine.
E ainda... passar noites
de insônia na companhia de um bom livro, amar com fervor o personagem de uma
história fictícia, comemorar quando encontra as palavras certas para dizer ou
escrever, preocupar-se com o seu futuro, mentalizar a casa dos seus sonhos e
fazer projetos arquitetônicos que nunca ganharão forma real, dormir no sofá
porque não teve coragem de se levantar para ir para o quarto, fechar os olhos
ao sentir a brisa do mar em seu rosto, corar ao receber um olhar de admiração
de alguém que você própria admira, saber de cor todas as letras de sua banda
favorita, ter poucos e bons amigos, querer fazer uma tatuagem mas nunca ter
coragem de fazê-la, conservar um cabelo comprido e invejável, apertar os
olhos para enxergar alguma coisa em um ambiente muito claro, fechar um livro
com a certeza que ele lhe proporcionou uma experiência memorável.
O acontecimento se vai, levanta voo, mas o essencial fica gravado no corpo e ressurge com o charme furtivo de uma evocação, com o frêmito de uma sensação, com a força surpreendentemente viva e às vezes incompreensível de uma emoção. Págs. 94 e 95
Playlist:
--- Isabelle Vitorino ---
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