Resenha: Um Rato de Três Cabeças – Retratos da Juventude Carioca por Thales Tebet

Na época da escola, eu era o tipo de leitora que adorava livros que possuíssem uma conotação social. Tanto que os meus professores juravam que eu iria fazer alguma graduação nessa área. Infelizmente, eles se enganaram nesse quesito. Mas isso não quer dizer que a temática literária que eu tanto gostava naquela época não seja mais capaz de me encantar, pois foi justamente com um enredo que se encaixa nesses parâmetros que eu descobri o poder da narrativa do autor Thales Tebet.

Título: Um Rato de Três Cabeças – Retratos da Juventude Carioca
Autora: Thales Tebet
Editora: Multifoco
Páginas: 112
Ano: 2013
Carlinhos deveria ser apenas mais um jovem abastado morador de Ipanema. Vindo de uma família destruída, vítima da perda de seu pai ainda na infância, o que lhe sobra de dinheiro falta em amor, afeto e atenção. Pelo menos segundo sempre lhe pareceu. Ao completar dezoito anos, Carlinhos finalmente recebe, com a maioridade, o direito de administrar sua própria parte na herança. A partir desse momento, a vida rica da alta sociedade carioca, almejada e perseguida por tantos, se transforma na sua maldição.

Carlinhos poderia ser apenas mais um playboy carioca que tinha tudo para curtir aquilo que de melhor o dinheiro poderia proporcionar a alguém, mas com um passado marcado por perdas e negligência, dia após dia ele vai se afastando dessa realidade e se aproximando de uma ainda mais perigosa. Tudo começa quando ele recebe a parte que lhe cabe da herança de seu pai e coloca em marcha um ousado plano que foi iniciado por acaso, mas que passa a lhe render bons frutos a partir de então: a agiotagem. Contudo, o dinheiro não o faz feliz como era o esperado, pelo contrário, a cada dia que passa ele se torna mais violento e desconfiado daqueles que estão ao seu redor e começa a trilhar um caminho que parece ser sem volta, porém eis que ele conhece uma mulher que mexe com ele de forma profunda e o leva ao encontro de uma realidade que poderia ser melhor, se não fossem as loucuras, mentiras e incertezas que cercam a vida de ambos.

Um livro curto, uma narrativa direta e uma história de tirar o fôlego. É assim que posso começar a descrever o livro do autor estreante Thales Tebet. Não esperava que fosse sentir tamanha empatia pelo texto dele, mas foi justamente o que aconteceu. Principalmente porque foi através de um enredo bem trabalhado que ele traçou um paralelo entre a abastada sociedade carioca com a realidade vivenciada por pessoas que não possuíam tantos recursos financeiros mas que faziam o possível para conseguir alcançar seus objetivos. Contudo foi a forma que ele explorou as facetas de ambos os lados que mais me deixou intrigada, já que não vemos personagens perfeitos e com histórias de vidas que causam apenas comoção no leitor. Pelo contrário, ele trabalha de forma muito peculiar a dualidade presente em cada um dos seus personagens tão contraditórios.

E é quando se trata dos personagens desse livro que eu tenho algumas ressalvas a fazer, pois por mais que o enredo tenha me agradado com um todo, senti que faltou um pouco mais de imersão detalhada na vida deles para que eu me apegasse a algum de verdade. Essa ausência de maiores detalhes se tornou particularmente incomoda para mim, quando o romance que acontece entre o Carlinhos e a Reidjane começa a ser desenvolvido, já que tudo ocorre de maneira tão rápida que se tornou difícil de acreditar que ele realmente existia em algum nível. É claro que saber que por trás da fachada de durão, o Carlinhos era um jovem carente de afeto e por isso poderia muito bem se apaixonar rápida e intensamente, contribui para que isso se suavize, porém acredito que o autor poderia ter feito melhor neste ponto da história.

Entretanto, ele se redime com o leitor de maneira absolutamente genial quando traz um desfecho que apesar de ser esperado, consegue ser surpreendente e chocante. Ainda mais, porque apesar de insinuar algumas de suas intenções para o final, as coisas acontecem de maneira tão incrível que eu não tive alternativa que não fosse me render completamente a essa história que trata a vida real sob um prisma menos sonhador, onde o “felizes para sempre” não é algo que realmente está em jogo. Em suma: uma leitura mais do que recomendada!


– [...] Seguir em frente e viver plenamente não é esquecer. Na verdade, é a maior atitude de respeito e amor. Pág. 55

Playlist:


--- Isabelle Vitorino ---

Postar um comentário

Obrigada pela visita, dê sua opinião, participe e volte sempre.

- Caso tenha uma pergunta deixe seu e-mail abaixo que respondo assim que o comentário for lido.

- Caso sua mensagem não tenha relação com o post, envie para o e-mail.