Resenha: It, A Coisa por Stephen King

Quem também não está aguentando a ansiedade para o remake de It, A Coisa?

Título: It, A Coisa
Autor: Stephen King
Editora: Suma de Letras
Ano: 2014
Páginas: 1104
Onde comprar: Amazon | Livraria Cultura | Saraiva | Submarino
Sinopse: Durante as férias de 1958, em uma pacata cidadezinha do Maine, Bill, Richie, Stan, Mike, Eddie, Ben e Beverly aprenderam o real sentido da amizade, do amor, da confiança... e do medo. O mais profundo e tenebroso medo. Naquele verão, eles enfrentaram pela primeira vez a Coisa, um ser sobrenatural e maligno que deixou terríveis marcas de sangue em Derry. A Coisa volta a atacar e eles devem cumprir a promessa selada com sangue que fizeram quando crianças. Só eles têm a chave do enigma. Só eles sabem o que se esconde nas entranhas de Derry.


AVISO
Essa resenha contém 
spoilers, inclusive sobre acontecimentos finais 
do livro.



It, A Coisa mistura presente (1984/85) e passado (1957/58) para narrar os embates de sete amigos (Bill, Richie, Ben, Eddie, Stan, Mike e Beverly) contra um ser maligno que se autointitula Palhaço Pennywise. A Coisa tem o poder de transformar sua aparência física no maior medo de suas vítimas, mas faz a maioria de suas aparições, na cidadezinha fictícia do Maine que ambienta essa história, como este aterrorizante palhaço. 

Esse grupo de amigos compartilha o rótulo de losers, cada um excluído e apontado por algum fator discriminatório no meio social de Derry: Bill é gago; Richie usa óculos e não mede as consequências de suas tiradas sarcásticas; Ben é gordo; Eddie é hipocondríaco e tem uma mãe abusivamente protetora; Stan é judeu; Mike é negro e Beverly tem um pai extremamente violento e possessivo. Mas o que os uniu de verdade e de forma definitiva foram suas experiências pessoais com a Coisa que habita Derry.

Imagem retirada do site: stephenking.com.br
A trama inicia com a morte do irmão de Ben, George, que num dia de chuva saiu para brincar com um barquinho de papel e não voltou mais. A Coisa o pegou. Seria apenas o início de um novo ciclo de assassinatos, em especial de crianças, em Derry. A ânsia em descobrir o que aconteceu com George foi um dos motivos que levaram Bill a liderar o Clube dos Otários (nome irônico que os sete amigos escolheram para seu grupo) e selar com ele uma promessa de sangue: enfrentar e destruir A Coisa para sempre.

Imagem retirada do site: geektyrant.com
Juntos, eles investigaram o passado de Derry. Enquanto lutavam para escapar das tentativas de Pennywise para matá-los (e comê-los) um a um, ao mesmo tempo em que tinham de lidar com a vida cotidiana na cidade (que incluía fugir do grupo de valentões perigosos da escola que aparentemente tinha como função na terra importunar os sete amigos), descobriram como A Coisa surgiu, o ciclo de violência e morte que ela trouxe consigo, sua morada na intricada rede de esgotos da cidade e até um ritual antigo e meio absurdo para pará-la.

Até agora essa resenha tem sido linear, mas a história não é contada assim. King mescla os tempos narrativos e só ficamos sabendo de todos esses fatos da infância dos Clube dos Otários, da história de Derry e da Coisa através de capítulos de "memórias". Os sete amigos já não são mais crianças de onze anos - todos são adultos, alguns casados e muito bem sucedidos em suas carreiras, todos saíram de Derry, todos esqueceram os acontecimentos traumatizantes que viveram em 1958, exceto Mike. Mike ficou e dedicou sua vida a esperar o retorno de Pennywise para convocar o Clube dos Otários a cumprir sua promessa e parar A Coisa definitivamente.

Imagem retirada do site: cemetarydance.com
Mike percebe que um novo ciclo de violência da Coisa se iniciou quando os desaparecimentos e assassinatos brutais, quase sempre de crianças, recomeçam. Ele tem acompanhado a trajetória de seus seis amigos ao longo desses 27 anos de inatividade de Pennywise e, ao ter certeza de sua volta, imediatamente faz contato com todos para lembrá-los da promessa de tanto tempo atrás. A maioria não recorda de muita coisa, as memórias vão surgindo aos poucos, mas o sentimento de imediatismo em voltar a Derry e reunir os sete amigos é imperativo em todos, exceto em Stan. Ele foi o único que lembrou de uma vez só tudo o que aconteceu em 1958 e a retomada desse conhecimento foi demais para ele. Stan se suicida logo após a ligação de Mike e para os seis amigos restantes fica a missão de reatar laços, relembrar tudo o que enfrentaram e matar A Coisa.

Imagem retirada do site: operationkino.net
Esse calhamaço do King tem algumas características interessantes que vão além da mistura de tempos e vozes narrativas para contar a história, um recurso muito bem aproveitado e que cumpre perfeitamente o papel de prender o leitor até a última página. É atrativo acompanhar o surgimento e o fortalecimento da amizade entre os sete amigos e é muito pertinente a discussão sobre bullying que o livro traz. Os primeiros capítulos são muito bem construídos, de forma a mergulhar o leitor em todo o horror que Derry e Pennywise significam para crianças de onze anos de idade - nos permite sentir junto com os sete amigos o desespero e a impotência dessa luta desigual. King transforma objetos simples e inocentes em ferramente de terror, o melhor exemplo são os balões flutuantes de Pennywise. O horror vem do medo do próprio medo.

Mas nem tudo é perfeito nessas mil páginas. King ao longo da história vai pesando demais a mão no fantástico e se distancia um pouco da qualidade de enredo dos primeiros capítulos. É difícil aceitar o argumento da Coisa ser extraterrestre e, despida de suas máscaras, ter a forma de uma aranha fêmea gigantesca, monstruosa e grávida. No entanto, o que realmente não entendo, mesmo após ter lido justificativas dadas pelo autor em entrevistas, é a necessidade de sexo entre CRIANÇAS de onze anos. É sério que uma menina precisa fazer sexo com SEIS meninos para "criar um vínculo"? Mais ainda, Beverly teve uma infância marcada pelos abusos do pai e continuou sendo física e psicologicamente abusada por seus companheiros na vida adulta. Um pacto de sangue não é suficiente (como o Clube dos Otários fez), não é o bastante para assegurar a manutenção da promessa das crianças na vida adulta? Realmente é vital para a história Bev repentinamente acreditar que tem que fazer sexo com seus seis amigos? Na minha opinião, não, absolutamente. Esse "recurso", na falta de um termo melhor, foi o que me decepcionou um pouco na história, que no mais, é uma das melhores do Stephen King.




Comentários acerca da edição:

Essa edição é brochura, com papel e diagramação simples, nada muito emocionante nesse sentido. O que é uma pena, esse livro merecia, no mínimo, uma capa dura (para evitar que a lombada seja danificada ao longo da leitura, afinal são mais de mil páginas) e um design de capa atualizado. 


--- Mariane Brandão ---

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