Resenha: O Livro dos Mil Dias por Shannon Hale
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Contos de fadas sempre mexem com o nosso
imaginário. Ainda mais quando são repletos de lendas, maldições e uma boa dose
de romance. E é recheado dessas características tão conhecidas que a autora Shannon
Hale nos conduz por uma bela história em “O Livro dos Mil Dias”.
Título: O Livro dos Mil Dias
Autor (a): Shannon
Hale
Editora: Galera
Record
Páginas: 288
Ano: 2014
Onde comprar: Saraiva
Lady Saren ficará sete anos trancada em uma torre. O castigo, imposto por seu pai, é uma resposta à sua recusa de casar-se com o noivo escolhido pela família. Mas seu isolamento não será total, uma vez que Dashti, sua fiel criada, voluntariamente se fará prisioneira para servi-la e fazer-lhe companhia. O silêncio voluntário e as lágrimas constantes de Lady Saren tornam-se parte da dinâmica monótona dos dias. As únicas companhias verdadeiras da miserável criada são o gatinho Meu Senhor e as páginas de um diário. Com a chegada de dois pretendentes da nobre, um deles muito bem-vindo enquanto o outro nem tanto, as garotas serão confrontadas com a esperança e o medo.
Lady Saren é uma nobre cujo odioso pai a
sentenciou a ficar presa em uma torre durante sete anos por ela não ter
cumprido com a sua obrigação de casar com o noivo que ele escolheu.
Aterrorizada com a perspectiva de viver sem liberdade, sua criada mais antiga a
abandona e a solidão seria sua única companhia se ela não tivesse recebido
Dashti, uma criada miserável que se voluntaria a lhe acompanhar durante seu
aprisionamento. Vivendo em uma profunda tristeza, Lady Saren não faz mais do
que chorar e se lamentar de algo que ninguém sabe. Dashti já não sabe o que
fazer para animar a sua senhora, por isso dedica o seu tempo a narrar todos os
parcos acontecimentos ao seu diário e a tentar descobrir uma canção de cura
forte o suficiente para tirar Saren do seu estado lastimável. Mas a chegada de
dois homens que pertencem à nobreza promete ameaçar a rotina de ambas,
fazendo-as confrontar os seus sentimentos mais profundos e os limites impostos
por suas próprias crenças.
Narrado em forma de diário, Shannon Hale traz
para “O Livro dos Mil Dias” um conto de fadas onde a criada é o destaque da
trama mesmo existindo uma donzela em perigo pronta para ser salva. Repleto de
tradições a serem seguidas e de deuses a serem adorados, a autora nos explica
pouco a pouco a importância de cada um dos elementos que ela colocou em sua
trama, de modo que ao final, nós também entendemos a divisão de reinos e castas
que existe no lugar e o porquê de cada um desses pontos serem importantes para
a história como um todo. Segundo as informações que a própria autora forneceu
no livro, ela se inspirou no conto de fadas “A Donzela Malvina” – na versão
narrada pelos Irmãos Grimm – e na estrutura da Mongólia medieval para a criação
dos seus Oito Reinos e para a elaboração da trama. No entanto, o livro não é
uma releitura do conto, mas sim uma forma livre de recontar essa história pouco
conhecida entre os leitores.
A forma como autora conduz a história é muito
peculiar, mas também muito encantadora. Acredito que isso esteja ligado
intimamente a prosa poética que dá vida a personagem da Dashti, uma garota que
o leitor ver crescer no decorrer de mais de mil dias e que conquista e confunde
em igual proporção. Digo isso porque do mesmo modo que me senti envolvida com
suas fortes crenças religiosas e culturais, não entendi porque ela agia de
maneira tão passiva diante de algumas situações ligadas a Lady Susan. Ela deixa
claro que o vínculo de senhor e servo deve ser preservado ao máximo, mas se
tornou irritante ler e reler a descrição de que a sua senhora estava depressiva
e chorando, e que ela tinha sido humilhada por esta de alguma forma. Ao final,
as intenções da autora ficaram bem claras, mas enquanto estive lendo essas
passagens fiquei realmente chateada com a passividade da personagem.
Além disso, como em um bom conto de fadas “O
Livro dos Mil Dias” também possui o seu príncipe encantado. Esse por sua vez, é
explorado em todos os seus aspectos. Pois ao invés da autora só mostrar toda a
glória e pompa de um candidato a rei, nessa história também vemos todas as
falhas que compõe sua trajetória de vida. Apesar de ser sutil, esse foi um
diferencial que me deixou com os olhinhos brilhando diante do desenrolar dos
fatos. Ainda mais porque o que eu suspeitei se confirmou mesmo quando tudo
indicava que não iria acontecer. Outro ponto que vale a pena ser ressaltado é a
riqueza cultural que a autora aborda tão bem na história, pois mesmo que seja
visível algumas pinceladas de coisas já conhecidas, ela foi muito criativa ao
abordar determinadas crenças religiosas e sociais sob uma nova perspectiva,
tornando assim, o livro mais rico quando poderia ser apenas um romance com uma
leve insinuação da cultura oriental. Em suma, um livro gostoso de ser lido, que
traz em sua essência a origem dos contos de fadas: a de dar lições de vida
através de uma história fantástica.
Quando estou no meio de uma jornada, o final é ainda desconhecido e possivelmente maravilhoso. Mas quando chego, é difícil continuar sonhando. Pág. 125
Playlist:
--- Isabelle Vitorino ---
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