Resenha Especial: A Morte de Ivan Ilitch por Leon Tolstói

Antes de iniciar o texto propriamente dito, gostaria de esclarecer que o que está escrito aqui são apenas impressões que tive enquanto leitora, logo, está longe de ser uma crítica elaborada por especialistas em literatura russa, são apenas reflexões a respeito do que senti durante a leitura de um dos livros mais impactantes que pude ler na minha vida. Com vocês, "A Morte de Ivan Ilitch".

Título: A Morte de Ivan Ilitch
Autor: Leon Tolstói
Editora: L&PM Pocket
Ano: 2017
Páginas: 112
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Sinopse: "Esta obra mostra a história de um burocrata medíocre, Ivan Ilitch, um juiz respeitado que depois de conseguir uma oferta para ser juiz em uma outra cidade, compra um apartamento lá, para ele, sua mulher, sua filha e seu filho morarem. Ao ir para o apartamento, antes de todos, para decorá-lo, ele cai e se machuca na região do rim, dando início à uma doença."

Ivan Ilitch está morto e todos aqueles que conviveram com ele estão pensando nas implicações da sua morte. Por trás da tristeza proporcionada pelas convenções sociais, os seus colegas de trabalho se perguntam quem ficará com o seu antigo posto, a sua esposa quer saber qual a forma de obter o maior valor da pensão e alguns colegas mais próximos sentem até certa satisfação por ser o Ivan quem está ali no caixão e não eles próprios. A verdade é que a sua morte é um espelho de sua vida: pura mediocridade.

Burocrata desde muito jovem, Ilitch guiou a sua vida para ser aceitável socialmente. Desenvolveu um trabalho dentro das expectativas enquanto juiz, casou com uma mulher que não amava, teve filhos que não se importavam muito com ele, mudou-se para uma bela casa e sempre se esforçou para mostrar que era um homem bem-sucedido. E é na monotonia de sua existência que Ivan sofre um acidente doméstico que gradualmente o transforma em um recluso, obrigando-o a refletir pela primeira vez sobre o que fez até aquele momento e o que faria se fosse lhe dada uma nova chance.

Em "A Morte de Ivan Ilitch" duas questões centrais podem ser observadas na narrativa de Tolstói: os contornos da vida e as implicações da morte. Isso, porque, ao tempo em que o autor anuncia que o protagonista morreu já nas primeiras páginas da obra, ele constrói um texto que busca mostrar como foi a sua vida e os tormentos que o perseguiram nos seus dias finais, o que demonstra o teor existencialista desta narrativa. Esse desenvolvimento ocorre de maneira gradual e ao leitor é concedido recortes de como Ivan se tornou alguém frívolo e superficial.

Nos primeiros instantes é quase desinteressante ver o protagonista se dedicando às suas atividades habituais, já que não há nele nada que insinue uma complexidade que nos instigue a querer saber mais sobre quem ele é, no entanto, isso se choca de maneira muito profunda com o advento de sua enfermidade. Interessante observar que o acidente que culminou na sua morte foi descrito com certa ironia por Tolstói, visto que este ocorreu justamente quando ele estava decorando a sua nova casa, símbolo da sua ascensão social.

A superviência dos desdobramentos da sua doença são o que firmam essa novela como uma grande narrativa, pois à guisa da ironia inicial, o texto se torna cada vez mais denso ao apontar como Ivan passou de um homem robusto e "querido", para alguém isolado em um quarto, definhando pouco a pouco e com a companhia constante tão somente de um jovem e devotado empregado. Esses elementos que dão o tom do final da trajetória do protagonista, somados com as questões existenciais que passam a rondar a sua mente formam um quadro complexo e que retratam com maestria os tormentos da mente humana.

Afinal, a descoberta de uma moléstia, ainda que não plenamente identificada como a de Ivan, traz consigo reações instintivas que vão desde refutar a sua situação até questionar o porquê de ter sido ele a criatura escolhida para passar por tal calvário. O medo da morte e do que virá depois, a retrospectiva de todos os atos que realizou durante a sua vida, o olhar mais apurado a respeito das pessoas de seu convívio e a companhia frequente da dor, são apenas alguns dos pontos que o protagonista percorre em seu ato final.

É um livro quase doloroso de ser lido, porque é impossível não fazer uma autorreflexão, tal qual o faz Ivan Ilitch, a respeito das suas decisões e do impacto delas no seu futuro. Apesar das poucas páginas, "A Morte de Ivan Ilitch" é uma obra poderosamente transformadora, do tipo que não há como terminar a leitura sem ser impactado por ela.

Quando finalmente me despedi do protagonista, não conseguia distinguir os meus sentimentos do dele, de modo que o seu olhar se tranformou no meu olhar e eu senti certo ressentimento pelo desprezo ao qual foi relegado quando deixou de ser um homem poderoso para ser um homem doente. E isso se acentuou ainda mais por saber que ainda que Ivan tenha conseguido alcançar algumas verdades até o seu último suspiro, ele não teria mais a chance de tomar uma nova postura diante das situções que lhe fossem postas.

Ao final, desejei apenas não ser mais uma Ivan Ilitch, que deixa para refletir sobre a forma que está conduzindo a sua vida quando não há mais chances de viver, restando apenas aceitar o aprendizado final e transcender tão somente no plano espiritual, já que na terra os seus dias findaram. Em suma, este é um livro forte, impactante e transformador. Leiam.

“E se na verdade toda minha vida tiver sido errada?”. Ocorreu-lhe, pela primeira vez, o que lhe tinha parecido totalmente impossível antes – que ele não teria vivido como deveria.

Esse livro foi lido para a categoria "conto/crônica/novela/poema" do Desafio Literário Mundo dos Livros.

--- Isabelle Vitorino ---

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