Resenha: A Vida Privada das Árvores por Alejandro Zambra

Lembro que quando a Cosac Naify anunciou o encerramento de suas atividades, iniciou-se uma corrida às livrarias para comprar as edições publicadas pela editora. Alguns títulos, principalmente os clássicos, se esgotaram rapidamente e se transformaram em verdadeiras raridades - que, diga-se de passagem, estão sendo vendidos a preços inimagináveis. No entanto, há exemplares, como os do Alejandro Zambra, que ainda podem ser encontrados e que valem a leitura.

Título: A Vida Privada das Árvores
Autor: Alejandro Zambra
Editora: Cosac Naify
Páginas: 93
Ano: 2013
Onde comprar: Amazon
Sinopse: Segundo livro do escritor chileno Alejandro Zambra, 'A vida privada das árvores' é a história de uma espera. Julián, um professor de literatura e aspirante a escritor, aguarda a chegada de Verónica, sua mulher. Mas ela não chega e a espera se alonga. Junto com a enteada, a pequena Daniela, Julián distrai as horas contando histórias de árvores para a menina. Enquanto a mulher não chega, Julián recompõe na memória seu passado e, na imaginação, inventa um futuro possível no qual sua companheira já não existe.

Julián é um professor de literatura e escritor nas horas vagas. Seu desejo de escrever um livro se entrelaça no decurso da sua vida que, permeada de altos e baixos, encontra-se em uma fase de aparente acalmaria. Em um dia como outro qualquer, ele está junto a Daniela contando-lhe mais uma história sobre a vida privada das árvores enquanto Verónica retorna das suas de arte. Naquele período de espera, Julián divaga sobre a sua vida, permitindo o vislumbre não só do seu presente, como também do seu passado e do seu futuro.

"A Vida Privada das Árvores" traz em um pequeno espaço, uma história grandiosa e com o imenso poder de manter o leitor aprisionado em suas páginas do início ao fim da obra. Alejandro Zambra possui uma capacidade estarrecedora de condensar sentimentos em poucas palavras, de modo que seu texto é enxuto e preciso. Sendo essa a minha primeira experiência com o autor, fiquei verdadeiramente surpresa com a forma que ele conseguiu me manter vinculada a história, ansiando cada vez mais por detalhes que me permitissem conhecer de fato o narrador e a sua vida.

Acredito que grande parte desse encantamento promovido pela obra está atrelada a exploração do fator tempo. Isso, porque, a história inicia com um recorte no cotidiano de Julián que se amplia para nos mostrar relances do seu passado, em especial, da sua relação com os pais e do seu antigo relacionamento, bem como as possibilidades quanto ao futuro. Esse último ponto, em particular, é interessante porque a todo momento o autor conversa com o leitor informando que o livro durará enquanto a esposa do narrador, Verónica, não voltar ou até quando ele tiver certeza de que ela não voltará. Logo, o autor mantem seu leitor fiel por sugerir situações que podem ou não acontecer.

A aparente simplicidade do enredo ganha complexidade justamente por causa desses aspectos, no entanto, nem sempre eles são utilizados de forma positiva e por vezes deixam a leitura um pouco maçante, já que não permite que o leitor tenha certeza daquilo que aconteceu mesmo quando a situação já tenha se desencadeado na linha temporal do personagem. Por isso, mesmo sendo uma leitura instigante, no final, não consegui me sentir completamente satisfeita em virtude da sensação de que o autor escondeu do leitor questões importantes e que deveriam ser expostas, ainda que não fossem pormenorizadas.

Assim, a minha experiência com "A Vida Privada das Árvores" pode ser considerada como repleta de altos e baixos, assim como a vida de Julián. Há diversos pontos positivos que tornam a leitura muito prazerosa, em especial, o estilo de narrativa que parte de uma premissa simples e que se aprofunda pouco a pouco. Todavia, há também aspectos negativos que podem aborrecer leitores que gostam de histórias que ao final forneçam um vislumbre do panorama geral daquilo que se desenrolaria após o ponto final. E é considerando todas essas perspectivas que indico para vocês a leitura desse livro, pois somente conhecendo aquilo que o autor propõe que poderão identificar as sensações causadas por essa obra peculiar e decidir se apreciam ou não esse formato.

Seria preferível fechar o livro, fechar os livros, e enfrentar, sem mais, não a vida, que é muito grande, mas a frágil armadura do presente. Pág. 31

--- Isabelle Vitorino ---

Postar um comentário

Obrigada pela visita, dê sua opinião, participe e volte sempre.

- Caso tenha uma pergunta deixe seu e-mail abaixo que respondo assim que o comentário for lido.

- Caso sua mensagem não tenha relação com o post, envie para o e-mail.