Resenha Especial: João e Maria por Jacob e Wilhelm Grimm


Título do Conto: Chapeuzinho Vermelho
Autores: Jacob e Wilhelm Grimm
Título do Livro: Contos de Fadas
Editora: Zahar
Ano: 2013
Páginas: 60 a 73 (452)
Onde comprar: Amazon | Saraiva | Submarino
Branca de Neve, Cinderela, João e Maria, Rapunzel, O Gato de Botas, O Patinho Feio, Pele de Asno, A Pequena Sereia, O Pequeno Polegar... Essa bela Edição Comentada e Ilustrada traz as mais famosas histórias infantis em suas versões originais, sem adaptações. São ao todo 26 contos de Grimm, Perrault e Andersen, entre outros, enriquecidos por centenas de notas que exploram suas origens históricas e complexidades culturais e psicológicas, além de uma apresentação, elaboradas por Maria Tatar, eminente autoridade no campo do folclore e da literatura infantil. O volume conta também com uma extraordinária coleção de cerca de 240 pinturas e desenhos, muitos deles raros, de ilustradores célebres como Arthur Rackham, Gustave Doré, George Cruikshank, Edward Burne-Jones, Edmund Dulac e Walter Crane. E traz ainda biografias de autores, compiladores e ilustradores, além de apêndices com diferentes versões de alguns contos.

A vida não estava sendo fácil. A fome parecia assolar todos os lugares e o pai de João e Maria já não sabia o que fazer para continuar fornecendo os alimentos necessários para os seus filhos e a sua esposa sobreviverem durante esse período difícil. Inquieto com o terrível futuro que os aguardava, o patriarca da família compartilha dos seus temores com a madrasta das crianças, que, por sua vez, lhe faz uma sugestão horrenda, mas talvez, a única que poderia salvá-los da morte certa: abandonar João e Maria na floresta.

Essa não era uma alternativa que o pai quisesse aceitar, mas após muita insistência, ele concorda com a sua esposa e decide que vai fazer o que ela lhe pediu. O que nenhum deles esperava, era que João estivesse ouvindo toda a conversa e que tivesse um plano para voltar para casa. Assim, ele sai furtivamente e apanha diversas pedrinhas, colocando-as no bolso, de modo que na manhã seguinte quando saem para buscar lenha com os pais e a sua irmã, ele marca todo o caminho, de modo que os irmãos estão de volta no próximo raiar do dia.

A alegria do pai em vê-los se contrapõe com a raiva da madrasta, que acredita piamente que a volta das crianças será a ruína da família que perecerá pela fome. Por um tempo, o patriarca conseguiu sustentar a todos, ainda que de maneira precária, mas logo as coisas foram complicando a ponto dele ceder mais uma vez a iniciativa da esposa e deixar para trás as crianças na floresta. No entanto, diferente da tentativa anterior, o plano de João não foi bem sucedido, o que o fez vagar com a sua irmã pelo local até encontrar uma cabana feita doces e que era habitada por uma bruxa.

Escrever sobre contos de fadas é um verdadeiro desafio, pois com um texto conciso e com um conteúdo de conhecimento comum, é difícil estabelecer um limite sobre o que dizer e como abordar as temáticas relativas ao texto. No caso de "João e Maria", há temas extremamente relevantes por trás das linhas dos Irmãos Grimm, pois além de falar de canibalismo, um assunto recorrente nesses contos, ele também trata de abandono familiar.

Acerca deste último ponto, muitas são as interpretações a respeito da atitude dos pais dos irmãos. Isso, porque, há quem entenda que João e Maria só foram deixados na floresta em virtude do reconhecimento da família sobre a incapacidade de fornecer os meios necessários para o seu desenvolvimento, especialmente, por causa da pobreza, que se tornava cada vez mais acentuada. No entanto, alguns leitores acreditam que a história demonstra a frieza e o egoísmo da madrasta, que, ao ter sua sobrevivência colocada à prova, prefere se livrar das crianças e garantir o seu próprio alimento.

Apesar de eu me filiar a esse último grupo, também acho interessante observar a postura do pai na narrativa, já que apesar de demonstrar um profundo afeto pelos filhos, também deixa-se conduzir pelos argumentos da esposa. Se por desespero, ou por falta de fibra, essa também é uma questão de interpretação. No entanto, é sabido que os Grimm ao encerrar a narrativa permite que o pai de João e Maria não só consiga se redimir com os filhos, como também, ser recompensado por estes, que apesar de tudo o que passaram, não guardam rancor do patriarca.

No que diz respeito as interações das crianças com a bruxa, percebe-se a inteligência latente de ambos. Isso, porque, se na floresta geralmente João assumia o protagonismo ao tentar livrá-los das situações de perigo, na cabana da velha bruxa, Maria também se mostra muito perspicaz, astuta e ágil, ao planejar a fuga dela e de seu irmão. O ato de heroísmo de Maria é de suma importância pois os livra de um destino cruel, já que seriam devorados pela bruxa, bem como os permite uma nova chance de voltar para casa.

Diante disso, posso dizer que o que mais me atraiu em "João e Maria" foi o incentivo a coragem, a cumplicidade e a audácia, e porque não, uma boa dose de benevolência com relação aos atos do patriarca, mas, sobretudo, o trato das dificuldades em lidar com as questões mais prementes da vida humana como a fome e a pobreza. É um conto que traz consigo a necessidade de ser refletido e ponderado, pois há muito mais a ser oferecido do que a velha história de crianças aterrorizadas por uma bruxa má.
Nunca encontrarão o caminho de volta para casa e ficaremos livres delas. - Pág. 62

--- Isabelle Vitorino ---

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