Resenha Especial: Metzengerstein por Edgar Allan Poe


Título do Livro: Histórias Extraordinárias
Títulos do Conto: Metzengerstein
Editora: Abril Cultural
Páginas: 430 (233 a 244)
Ano: 1978

"Metzengerstein" foi o primeiro conto de Edgar Allan Poe a ser publicado em um revista e um dos mais esquecidos trabalhos do autor em compilações de sua obra. Trazendo para o seu enredo, uma rixa antiga entre duas famílias da Hungria, o leitor é conduzido entre pensamentos e atitudes obsessivas por parte dos Berlifitizing, bem como, dos Metzengerstein. De um lado temos um velho patriarca, que em meio a sua senilidade se agarra com todas as suas forças a paixão de sua vida: os cavalos. De outro, temos um jovem herdeiro cuja volúpia e egocentrismo o fazem ir além dos limites da sanidade.

Nesse cenário, há uma antiga profecia que incita esse rancor por mais tempo, já que em uma primeira interpretação, se pode imaginar que a mais antiga e rica casa, os Metzengerstein, iria se sobrepor aos Berlifitizing. Esse ódio entre as famílias está tão claro, que quando o celeiro do velho patriarca Berlifitizing é incendiado, ninguém duvida que o responsável foi o jovem volúvel, mesmo que na ocasião ele estivesse estranhamente recluso em seus aposentos. O amor que o velho sentia pelos seus cavalos faz com que ele seja protagonista de uma grande tragédia, mas as coisas não param por aí, pois ao contemplar um quadro de um cavalo poderoso em seu quarto, logo o jovem Metzengerstein se depara com um ser semelhante em suas terras e que o conduz a um caminho que não há volta.

Sou uma leitora apaixonada pelos escritos de Edgar Allan Poe, por isso não há nada que o autor escreveu que eu efetivamente não goste. Entretanto, meu senso crítico não me permite deixar de observar determinados detalhes que fazem um trabalho dele ser melhor desenvolvido ou não. Em "Metzengerstein" eu fui pega já nas primeiras páginas, pois com descrições lúgubres e detalhamento dos ânimos que circundavam essa sociedade que vivia dividida diante da rivalidade de duas casas, me senti lendo um romance e não um conto. Devo salientar que essa é uma característica muito forte da narrativa de Poe, já que mesmo dispondo de poucas páginas, ele consegue fazer com que o seu leitor sinta de fato o que ele quer dizer.

No entanto, senti falta da continuidade desse estilo de narrativa no decorrer do conto haja vista que conforme os acontecimentos vão sendo revelados, a história decai para um ritmo mais lento e que não condiz com o que se pode ver inicialmente. Não vejo isso como uma falha do autor, mas sim como um aprimoramento de seu próprio estilo enquanto escritor. Acredito eu, que essa ainda era uma fase de ajustes com relação ao seu trabalho, já que como bem podemos analisar, as publicações posteriores trazem uma riqueza e linearidade muito maior nos textos.

Uma descoberta que tive nesse conto, foi a sua abordagem da "metempsicose". Que em uma explicação bem rasa sobre o tema seria como a volta de um espírito de alguém que já partiu através de um corpo físico que não seja necessariamente o humano, tais como, vegetais, animais etc, ou seja, uma transmigração. Ele trabalhou a temática em sua obra de modo muito forte, visto que ele não só abre o texto com algumas citações sobre o assunto, como também, norteia a trajetória de vida de seus personagens até chegar ao ponto em que ele aplica a tese da metempsicose. Particularmente, não pude observar esse elemento em especial em outros contos dele, mas farei algumas releituras a fim de analisar se essa teoria está presente em outros trabalhos seus.

Todavia, isso não quer dizer que não é possível enxergar também aquele elementos já conhecidos de seus leitores e que permeiam toda a sua obra, quais sejam: a perca paulatina da sanidade que culmina na mais completa loucura, a obsessão e por fim, a morte. Vale ressaltar ainda, que novamente nos deparamos com o significado que ele dá aos olhos em suas obras, pois é através do olhar que ele desenvolve um sentimento obsessivo em seu protagonista que acaba se tornando o fio condutor que o leva até um desfecho impactante – apesar de sua obviedade – para "Metzengerstein".


Pestis eram vivus - moriens tua mors ero.
Vivo, sou tua peste - morto, serei tua morte.
- Martinho Lutero

--- Isabelle Vitorino --- 

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