Resenha: A Maldição de Domarö por John Ajvide Lindqvist

Há muito tempo que eu não lia um livro de terror, mas após ouvir vários comentários positivos sobre John Ajvide Lindqvist decidi que já estava mais do que na hora de encarar alguma leitura do gênero. E posso dizer não me arrependi nenhum pouco, principalmente depois do autor ter entrado para lista dos meus favoritos...

Título: A Maldição de Domarö
Autor: John Ajvide Lindqvist
Editora: Tordesilhas
Páginas: 496
Ano: 2013
Onde comprar: Saraiva | Submarino
Um jovem casal e sua filha visitam o gélido arquipélago de Domarö. Durante um passeio noturno ao farol, a menina desaparece como num passe de mágica. As pegadas que ela deixa na neve cessam abruptamente, e não há lugar onde ela possa ter se escondido. Dois anos depois, destruído pelo trauma daquela noite, o pai retorna á ilha e descobre que o sumiço inexplicável da filha não é única coisa estranha naquele lugar que abriga segredos antigos e um poder sobrenatural.

Anders e Cecilia estão juntos desde a adolescência e seu amor parece forte o bastante para suportar qualquer tormenta, eles têm uma filhinha de 6 anos de idade e moram no arquipélago de Domarö na Suécia. O lugar que permanece frio a maior parte do ano, é cercado pelo mar que mantém uma sólida barreira entre quem vive ali e o restante do país, os poucos moradores do lugar são unidos e tem como a mais importante atividade econômica a pesca de arenques. E é nessa comunidade aparentemente tranquila e inóspita que o desaparecimento inexplicável de Maja põe à prova a calmaria de todos. Tanto que sem saber o paradeiro de sua filha, Anders e Cecilia se separam e saem do arquipélago com promessas de jamais voltar. No entanto, passados alguns anos Anders continua se sentindo atormentado pela perda da filha e após se entregar ao vício em álcool decide que precisa investigar o sumiço de Maja para poder obter algum tipo de paz. É assim que ele volta para Domarö e se empenha em descobrir pistas que o levem até sua menina. Contudo, essa não é tão tarefa tão fácil, pois o lugar guarda segredos que não podem ser revelados, capazes até, de enviar forças sobrenaturais para manter toda a comunidade sob controle.

John Ajvide Lindqvist é um escritor sueco conhecido no mundo todo pelo livro “Deixe ela entrar”. Sempre comparado a autores bestsellers como o Stephen King, suas tramas costumam ser carregadas de um terror que se infiltra de modo sutil na mente do leitor e de dramas capazes de deixar qualquer um conectado à sua história por horas a fio. Em “A Maldição de Domarö” é possível notar essas características muito bem, já que ele não só construiu uma narrativa rica e por vezes poética para contar todo o drama pelo qual Anders está passando em decorrência do sumiço da filha, como também, montou um quebra-cabeça difícil de ser decifrado a respeito dos eventos sobrenaturais que a maioria dos moradores de Domarö já presenciou no arquipélago. A maneira com que ele faz isso é realmente genial, pois ele consegue manter a empolgação do leitor ao fornecer pistas importantes sobre os acontecimentos, mas sem nunca entregar totalmente suas verdadeiras intenções, deixando sempre um elo entre sua trama e quem está lendo que só é desfeito quando a última página chega ao fim.

Com personagens bem construídos, ele volta ao passado sempre que necessário para explicar de forma mais precisa o que está acontecendo no presente e o porquê dos seus personagens agirem ou pensarem de determinada maneira. Mas o melhor de tudo é que ele faz isso sem deixar a trama confusa e sem acrescentar cenas desnecessárias – podem ter certeza, tudo que ele narra tem um papel importante para o entendimento de todo o mistério que assola os moradores de Domarö. Narrado em terceira pessoa, ele muda de ponto de vista constantemente apesar de manter Anders e Simon como os principais narradores da história. Para mim, essa foi a melhor decisão que ele poderia ter tomado, porque eu simplesmente não consegui gostar do Anders. O seu jeito egoísta de só pensar em seu próprio sofrimento foi o que mais me irritou nele. Ainda mais porque em nenhum momento ele pensa nas consequências dos seus atos e age movido pelo sentimento de culpa que tem (me nego a aceitar que tenha sido pelo amor) após anos de total inércia. Meu desgosto com ele foi tanto que acabou afetando a maneira como eu lidei com o final do livro.

De verdade, estou até hoje tentando entender as razões pelos quais o autor decidiu dar tanto poder ao Anders, tenho certeza absoluta que teria sido muito melhor se as coisas tivessem acontecido através das decisões do Simon, pois carismático e inteligente do que jeito que ele era, seria muito mais fácil ele encaixar todas as peças do enigma sem destruir tudo ao seu redor. Com relação as forças sobrenaturais que agem no enredo, o escritor foi muito criativo. Eu nunca tinha lido nada parecido com o que ele trouxe para a sua trama e isso só deixou a leitura mais imprevisível do que estava sendo. Foram tantos momentos de tensão em que eu ficava olhando ao meu redor para conferir se não tinha nada estranho me observando que me surpreendi ao ficar com a sensação de vazio ao término do livro. Certamente John Ajvide Lindqvist ganhou um lugar cativo na minha estante e espero que também ganhe um espaço na de vocês, já que características que os fãs de suspense adoram não faltam nesse livro. Leitura mais do que recomendada!

Aquela não era a vida que ele esperava. As coisas funcionavam, e só. A felicidade tinha se perdido em algum lugar ao longo do caminho. Pág. 124

Playlist:


--- Isabelle Vitorino ---

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