Resenha Especial: A Invenção de Morel por Adolfo Bioy Casares

Um livro curto, denso e deveras desafiador. Sem sombra de dúvidas essa foi uma das leituras que mais me causaram reflexões depois de conclui-la, o porquê,  vocês descobrem hoje!

Título: A Invenção de Morel
Autor: Adolfo Bioy Casares
Editora: Biblioteca Azul
Ano: 2016
Páginas: 112
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Romance publicado originalmente em 1940, foi considerado por Jorge Luis Borge “uma trama perfeita”. Um cidadão venezuelano torna-se recluso em uma ilha deserta para fugir de uma condenação judicial. Enquanto se alimenta de raízes psicotrópicas, o expatriado vê se apagar cada vez mais o limite entre a imaginação e a realidade.

Um livro com história cativante, mas que apresenta algumas dificuldades para o leitor que busca conquistá-lo. É assim que posso iniciar uma definição sobre o livro "A Invenção de Morel" do autor argentino Adolfo Bioy Casares. Publicada pela editora Biblioteca Azul no Brasil, esta foi a primeira obra de Casares a ser lançada e traz para os seus leitores um relato em forma de diário de um fugitivo da justiça que está se escondendo em uma ilha que deveria estar deserta. Sendo uma das histórias que serviram de inspiração para o seriado "Lost",  é possível acompanhar o personagem durante a sua estadia no local. Ao que se sabe, ele encontrou a ilha através de uma indicação de um homem que o avisou previamente que aquele local apesar de mantê-lo a salvo dos agentes da justiça, poderia matá-lo pois apesar de inabitada, possuía uma estranha doença que acometia aqueles que ali se estabelecessem.

O seu medo da prisão era tão maior do que o de enfrentar o que quer que fosse, que ele encara essa jornada mesmo que isso represente o total isolamento da civilização. Chegando ao lugar, percebe as construções recentes e não entende como alguém abandonaria tal empreendimento. Entretanto, por mais sofisticado que tudo pudesse parecer, não há comida nem bebidas para que ele satisfaça as necessidades do seu corpo. Se alimentando de bulbos entre outras plantas, ele ainda tem que lidar com as inconstâncias da maré do mar que o cerca. Mas isso não era tudo já que um dia, ele foi surpreendido com a presença de outras pessoas na ilha que pertubavam não só o seu isolamento como também representavam uma ameaça a sua fuga. Sem saber como lidar com os exploradores, ele passa a observá-los cada vez mais de perto até que se encanta pela figura de Francine. Perturbado pela força dos seus sentimentos, ele passa a tentar algum contato com ela, mas sem nenhuma demonstração de reconhecimento da parte dela, ele passa a questionar a sua sanidade, bem como, a verdade por trás da realidade que o cerca.

Eu não considero "A Invenção de Morel" como uma leitura fácil e despretenciosa, por isso, apesar da pouca quantidade de páginas, certamente esse é um livro que não é para ser lido em um único dia. Isto porque há tantas implicações e camadas nesse texto que se faz necessário uma dedicação especial para que se possa entender até onde pode ir as respostas para os questionamentos que invariavelmente são levantados durante a leitura. Um dos meios de imersão que temos para essa história se dá através do intimismo proporcionado pela estruturação do texto, pois sendo escrito em forma de diário, percebemos o mundo através do olhar deste homem que nos conta o que quer e põe nesses relatos uma boa dose de sentimentos pessoais. A cada entrada que se lê, é possível notar como a história se expande até chegar ao seu ápice que é a completa confusão sentida pelo narrador acerca do mundo a sua volta.

Sendo caracterizado como um romance psicológico, ele também pertence ao gênero da ficção científica e o porquê disso vai sendo revelado paulatinamente e é, sem sombra de dúvidas, uma das grandes revelações trazidas por Casares. Não mentirei e direi que a história me prendeu desde o início porque a verdade é que eu demorei um longo tempo para me acostumar com a escrita de Casares e a maneira como o autor expunha a história, tanto que foi necessário que eu concluísse o livro e refletisse sobre ele para só então entender tudo o que li. Ademais, uma das coisas mais impactantes que pude sentir com esse livro foi o poder que a solidão tem um indivíduo. Quando se está longe de tudo e de todos, não é fácil manter a sua sanidade, ainda mais quando há tantos elementos que o empurram para o precipício da loucura.

Pensar e repensar em todas as hipóteses possíveis para encontrar a verdade, é, portanto, um exercício que se dá ainda que incoscientemente, pois a necessidade de uma certeza absoluta que aquilo que se vê e que se vive não é uma mera ilusão, acaba se sobrepondo as demais nuances que circundam a existência desse indivíduo. A confusão que se apresenta na história em decorrência dessas incerteza do personagem, nos faz questionar, invariavelmente, se de fato não estamos lidando com uma mente insana. Todavia, prefiro optar por acreditar em seu relato a vê-lo como alguém louco e que não tinha nenhum mecanismo capaz de influenciar aquilo que estava à sua volta. Todos esses elementos formaram um quadro na minha mente na posterioriedade que não me permitiu negligenciar o poder da narrativa do autor argentino, por isso, por mais que eu tenha tido dificuldades durante a leitura do livro, sem sombra de dúvidas alço "A Invenção de Morel" a uma das leituras mais impactantes e poderosas que tive nesse ano.

Onde não há ecos o silêncio é tão horrível como o peso que não deixa fugir, nos sonhos. Pág. 21

--- Isabelle Vitorino ---

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