Resenha: Bom Dia, Verônica por Andrea Killmore (Raphael Montes e Ilana Casoy)

Depois de um longo tempo longe das minhas queridas tramas policiais, tive acesso a um livro cujo plote me chamou a atenção suficiente para eu largar as demais leituras que eu tinha e mergulhar na promessa que girava em torno da autora Andrea Killmore. O que eu achei? Bom, vamos lá...

Título: Bom Dia, Verônica
Autora: Andrea Killmore (pseudônimo de Raphael Montes e Ilana Casoy)
Editora: DarkSide Books
Ano: 2016
Páginas: 256
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Em "Bom dia, Verônica", acompanhamos a secretária da polícia Verônica Torres, que, na mesma semana, presencia de forma chocante o suicídio de uma jovem e recebe uma ligação anônima de uma mulher desesperada clamando por sua vida. Com sua habilidade e sua determinação, ela vê a oportunidade que sempre quis para mostrar sua competência investigativa e decide mergulhar sozinha nos dois casos. No entanto, essas investigações teoricamente simples se tornam verdadeiros redemoinhos e colocam Verônica diante do lado mais sombrio do homem, em que um mundo perverso e irreal precisa ser confrontado. 

Verônica Torres tem uma vida pacata. Casada e mãe de dois filhos, seu ponto alto é ser a secretária de um delegado de polícia na DHPP na cidade de São Paulo. Entretanto, ela queria mais. Sonhando com o dia em que ela poderia investigar e levar justiça para as milhares de vítimas da criminalidade, ela se sente pessoalmente tocada quando uma mulher ensadecida suicida-se na sua frente ao se jogar do andar em ela trabalha. Isso porque o seu passado era nebuloso e o suicídio fazia parte de alguma forma disso tudo. Motivada a fazer mais porque aquela mulher desesperada ainda que esse não fosse o desejo do seu chefe, ela dá início a uma investigação particular para descobrir o que levou aquela mulher a cometer o maior ato de desespero de um ser humano: tirar a sua própria vida. O que ela não esperava era que outro caso caísse no seu colo, mas foi justamente o que aconteceu. 

Ao ver uma rápida aparição da policial na televisão, Janete sentiu que aquela poderia ser a pessoa ideal para ouvir a sua história. Ela não esperava que alguém fosse acreditar nela, afinal, o que tinha a dizer tinha como protagonista um homem da lei, um policial que era o seu marido. As dúvidas pairavam na sua mente e tentavam mitigar o lapso de coragem que havia tido quando pegou o tefelone e tentou contatar Verônica. No entanto, quando a policial retornou a sua ligação, ela falou rápida e precisamente que seu marido iria matá-la, assim como, havia feito com diversas mulheres. Mas foi só Brandão chegar em casa para que ela não soubesse mais se tinha tomado a melhor decisão. Em alguns momentos o seu marido era um homem brutal, porém, ele também sabia ser bom e mimá-la. Ela era capaz de suportar o seu mau humor se ele continuasse a amá-la, mas será que ela conseguiria conviver com a culpa de não fazer nada sobre a morte de tantas mulheres?

Andrea Killmore é o pseudônimo de alguém que nós não sabemos quem é. Há todo um mistério em torno de quem ela seja que acaba se confundindo com a própria identidade da protagonista dessa história. É uma excelente jogada para atrair os leitores, mas que em mim não exerceu especial influência, por isso optarei por deixar esse aspecto de lado e me voltarei para o que vocês poderão encontrar no livro "Bom Dia, Verônica". Narrado tanto em primeira pessoa quanto em terceira pessoa, o livro tem os pontos de vistas alternados de acordo com os pensamentos da protagonista Verônica e da personagem Janete. Essa mistura pode parecer confusa no início, mas é possível se acostumar com ela no decorrer das páginas, isso porque temos o vislumbre de duas mulheres com essências e vidas completamente distintas.

Se por um lado há Verônica, uma mulher que apesar de parecer apática em um primeiro momento vai revelando aos poucos as suas potencialidades e os seus segredos, por outro, temos Janete que apesar de levar uma vida medíocre não esconde do leitor e entrega o que está acontecendo logo nos primeiros pensamentos. Como protagonista, Verônica demorou a cativar, pois com um egoísmo e um toque de egocentrismo um tanto quanto irritantes, vemos ela tomar uma decisão errada seguida de outra a partir da motivação que ela tem de ser algo mais que alguém que fica com toda a burocracia enquanto que os investigadores e o delegado colhem todos os louros para si. Na sua empreitada de busca por justiça para si e para outros, ela não se importa com os riscos que imputará aqueles que estão à sua volta. Por aí vocês já podem perceber que ela não conseguiu conquistar muito da minha simpatia, porém, ela piora esse fato com o desleixo que tem com as vítimas que lhe procuram.

Esse ponto se acentuou na sua relação com Janete, pois ao jogar toda a responsabilidade para a mulher de investigar o próprio marido mesmo quando a vida dela estava em risco, ela não parou para pensar um minuto sequer nas consequências da sua atitude. O que não significa que Janete não tenha a sua cota de culpas e erros, afinal, sabendo e sentindo na própria pele a influência de Brandão, ela continua se iludindo uma e outra vez com relação a sua "melhora". Todavia, não se pode esquecer que este também é um retrato muito típico do quadro psicológico que é possível perceber em uma grande parcela das mulheres que sofrem violência doméstica. Há sempre uma desculpa para as explosões do parceiro, um modo de enxergar aquilo sob um prisma de merecimento do castigo e uma autodepreciação que não se apega facilmente da memória -  muito disso vem como uma forma de se autopreservar. Essa humanidade da personagem me tocou profundamente.

A partir da análise desses pontos é possível perceber que há muita coisa acontecendo, por isso a dificuldade em escrever um texto curto sobre o livro, Entretanto, tentarei sintetizar ao máximo meus comentários. A verdade é que ambas as investigações que são propostas em "Bom Dia, Verônica" são deveras interessante. Uma porque há uma perseguição a um homem que é necrófilo e outra porque temos a presença de um serial killer que possui um ritual bastante intrigante. Acompanhar o desenrolar desses casos é ao mesmo tempo que angustiante, um vício. O que torna a coisa mais complicada é justamente a protagonista. Achei ela alguém tão hipócrita e com valores tão deturpados que sinto que os seus atos do início ao fim foram dignos do que ela era, de fato, capaz de fazer - ainda que eu relute em aceitar o final da história.  

Sim, este definitivamente é um livro poderoso e que vai fazer com que o leitor questione a si mesmo sobre o que ele considera como sendo certo ou errado na busca por justiça. No entanto, confesso que as inconstância que pude observar nele me incomodaram por eu conhecer um pouco da realidade retratada. Especialmente por saber que muita coisa descrita caiu no senso comum ao invés de possuir um toque de veracidade que deixaria a trama ainda mais rica. E apesar de tudo isso ter me deixado na corda bamba com relação a minha avaliação final sobre o livro, ainda assim, sinto que esses pontos não tiram o mérito de "Bom Dia, Verônica" ser uma história capaz de agradar aos fãs do gênero e de sua autora ser uma das promessas para a literatura policial no país. Desse modo, para não ser injusta com os acertos nem negligenciar os deslizes, encerro dizendo que na dúvida, deem uma chance. Ou no melhor jargão jurídico: in dubio pro reo.

O ser humano é podre e egoísta, prefere o problema que já conhece a enfrentar o desconhecido com honra. Pág. 191

UPDATE: Li a obra em 2016, antes da revelação de que o livro tinha sido escrito por Raphael Montes e Ilana Casoy, bem como de que obra seria a adaptada para a Netflix. No entanto, isso não muda o que senti quando li o livro, razão pela qual o texto permanece inalterado.

--- Isabelle Vitorino ---

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