Resenha: A Canção de Aquiles por Madeline Miller

Que a Ilíada de Homero é um dos maiores clássicos da literatura mundial, isso todos já sabemos, mas que tal ouvir parte da história, narrada do ponto de vista de um personagem secundário? Com essa premissa, vamos todos para a mítica terra grega, em um dos períodos históricos mais famosos do mundo. Preparem-se para o lado da guerra de Tróia que vocês nunca viram!

Título: A Canção de Aquiles
Autor (a): Madeline Miller
Editora: Jangada
Ano: 2013
Páginas: 392
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Baseada na Ilíada, esta obra é uma reconstituição da épica Guerra de Troia. O tímido príncipe Pátroclo é exilado no reino de Fítia, onde cresce à sombra do rei Peleu e de seu extraordinário filho, Aquiles. Apesar de suas diferenças, os meninos logo se tornam companheiros inseparáveis. Os laços entre eles se aprofundam à medida que se tornam adolescentes e hábeis nas artes da guerra e da medicina - para desagrado e irritação da mãe de Aquiles, Tétis, uma cruel deusa marinha que odeia os mortais. Quando se espalha a notícia de que Helena de Esparta foi raptada, os homens da Grécia, ligados por um juramento de sangue, têm de partir para invadir Troia e salvar Helena. Seduzido pela promessa de um destino glorioso, Aquiles junta-se à causa. Pátroclo, dividido entre o afeto e o temor por seu amigo, acompanha-o. Mal sabem eles que os deuses do destino os colocarão à prova como nunca antes, exigindo deles um terrível sacrifício.

O trabalho de releitura é algo árduo, pois o autor dessa nova obra precisa estar em total sintonia com o original, tomando cuidado para não se desvincular da ideia original, enquanto cria toda a trama que deseja passar. Nesse quesito, considero que autora foi bastante feliz em suas decisões.

A história então vai se forcar nos versos da Ilíada, mas não temam se, como eu, vocês não tiveram a oportunidade de ler a obra do Homero. Além de ser um universo auto-explicativo sobre as situações em que se passam, a própria edição contém um glossário no final, explicando dobre cada personagem (mas, caso você não conheça a história da Guerra de Troia, irá receber alguns spoilers se ler o glossário antes do final).

A trama então se passa do ponto de vista do Pátroclo, que é um personagem secundário da Ilíada e melhor amigo do herói da mesma, Aquiles. Sendo um príncipe exilado para os domínios de Rei Peleu, esse jovem terá seu destino compartilhado com o misterioso, belo e, por falta de um vocábulo mais aprimorado de minha parte, divino Aquiles.

Aqui começa o que considero ser a primeira genialidade da autora. Ela pegou um personagem pouco representado na história original e transformá-lo em seu protagonista. Em entrevista ao The Guardian, a autora fala que sempre considerou esse personagem um mistério e quis dar vida a aquele que foi tão importante para Aquiles.

Aquiles é o filho do Rei Peleu com a Ninfa do Mar, Thetis. É um rapaz de formosura invejável e beleza radiante, admirado por muitos como um dos mais belos e poderoso guerreiros da Grécia. Não o bastante, carrega consigo a profecia de que se tornará o mais poderoso guerreiro da mitologia, algo que sua orgulhosa mãe vive a se gabar, apesar de ser uma criatura a quem todos temem.

Pátroclo, diferente de Aquiles, é um rapaz tímido e franzino, sem qualquer tipo de atributo físico que mereça destaque, mas eis que ele e Aquiles passam a ter uma amizade profunda e verdadeira, ocasionando assim em um romance.

Isso mesmo, vocês não leram errado, a história é sobre dois amigos que se tornam amantes,mesmo contra os reveses como a profecia do semideus e a mãe mega controladora do rapaz. A priori, achei bem ousado da autora fazer um romance homossexual utilizando o herói que foi eternizado por muitos como um mulherengo, graças a adaptação de "Tróia", com o Brad Pitt, mas, parendo para pesquisar sobre o personagem, esse envolvimento com o Pátroclo é real e, como sabemos, nas civilizações greco-romanas, esse tipo de relacionamento era bastante comum, até a cristianização dos mesmos.

A história tem então essa pano de fundo bastante conhecido, porém o olhar que ela dá para o narrador torna toda a história mais sensível e bela. Pátroclo é um rapaz que cresceu destinado ao fracasso. Nem mesmo seu pai esperava algo de grandioso do rapaz e, ao tornar-se um exilado, sua vida parecia ter terminado ali. Porém, conhecer e se envolver com Aquiles dá um novo ânimo na vida do rapaz. Por várias vezes consegui e identificar com ele, seja seu edo de seguir em frente, ou mesmo o fato dele só pensar numa resposta para uma discussão quando a mesma já foi finalizada (Aliás, ele e a Thetis tem umas cenas que beiram o hilário, dignas do filme "A Sogra").

Algo que me incomoda, como quem me acompanha a algum tempo no blog deve imaginar, é o romance. o fascínio do protagonista pela fgura do Aquiles é em alguns omentos tão intenso que me lembrou em alguns instantes toda a problemática que vejo na Saga Crepúsculo, onde "O amor nos torna idiotas". Mas essa ideia não persiste por muito tempo na historia, pois Pátroclo demonstra ter sim domínio de si e toma decisões próprias, mesmo que elas acabem pondo em cheque o relacionamento dos dois.

Intenso, ao mesmo tempo que belo e instigante, A Canção de Aquiles é um romance curioso, que deixa o leitor ávido por cada vez mais!

Nosso mundo era um mundo de sangue e de honra conquistada com sangue, só covardes não lutavam. Para um príncipe, não havia escolha. Guerrear e vencer ou guerrear e sucumbir [...].

--- Marcel Elias --- 

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