Resenha: Talvez Um Dia por Colleen Hoover

Tem algo na escrita de Colleen Hoover que sempre me impulsiona a querer saber o que se passa em seus pensamentos mesmo quando eu não aguento mais ler uma só palavra que caracterize um romance juvenil. Pensei que teria sido sorte eu ter gostado de "Métrica" e posteriormente de "Um Caso Perdido", mas depois de ler "Talvez Um Dia" percebi que esse lance de odiar new adults não tem chance de acontecer entre Colleen Hoover e eu.

Título: Talvez Um Dia
Série: Maybe #1
Autor (a): Colleen Hoover
Editora: Galera Record
Ano: 2016
Páginas: 368
Onde comprar: Saraiva
Sydney acabou de completar 22 anos e já fez algo inédito em sua vida: socou a cara da ex- melhor amiga. Até hoje, ela não podia reclamar da vida. Um namorado atencioso, uma melhor amiga com quem dividia o apartamento... Tudo bem, até Sydney descobrir que as duas pessoas em quem mais confiava se pegavam quando ela não estava por perto. Até que foi um soco merecido. Sydney encontra abrigo na casa de Ridge. Um músico cujo talento ela vinha admirando há um tempo. Juntos, os dois descobrem um entrosamento fora do comum para compor e uma atração que só cresce com o tempo. O problema é que Ridge tem uma namorada, e a última coisa que Sydney precisa agora é se transformar numa traidora.


Esse livro sem sombra de dúvidas traz algo mais que o romance. Principalmente para quem se esforça um pouco para perceber que as dificuldades desse relacionamento esbarram em algo difícil de ser ignorado: a moral. Para começar, temos uma garota que teve a profunda infelicidade de descobrir que o seu namorado estava tendo um caso com a sua melhor amiga. Essa traição a deixa em um estado de negação tamanho, que ela acredita que jamais será capaz de confiar em alguém de novo. Mas quando recebe a ajuda de seu vizinho e se muda temporariamente para o apartamento dele, ela percebe que nem tudo pode ser colocado em termos tão absolutos como "sempre" ou "jamais".

Vivendo com o cara que ela sempre observou a distância, ela passa a perceber coisas nele que permitem que ela escape da dor provocada pelo seu ex. Mergulhando na música, ela passa a ver um lado dela que até então era desconhecido, já que a sua concepção acerca de si mesma nunca teve que esbarrar em dilemas que a faziam questionar seu próprio caráter. E é justamente nesse ponto que eu me rendo a escrita de Colleen Hoover. É comum escritores abordarem um triângulo amoroso em suas histórias, mas em "Talvez Um Dia" as coisas vão além de um simples desejo sexual que teve que ser satisfeito e gerou toda uma situação de traição, mágoa e alguns corações partidos no caminho.

O que acontece com Sidney e Ridge vai além do que podemos julgar. Eles se conhecem por uma coincidência da vida e nenhum sabe muito sobre o outro. E pasmem, essa descoberta acerca das qualidades e defeitos são todas obtidas quando ambos passam a viver debaixo do mesmo teto. É uma situção muito extraordinária e fictícia, já que é pouco provável que alguém tome uma atitude tão precipitada quanto a de Syd, porém, os acontecimentos que se sucedem são bastante plausíveis. Principalmente aqueles que mostram como às vezes a vida lhe coloca em determinadas circunstâncias que você se pega fazendo coisas que antes julgou como sendo totalmente erradas.

Pessoalmente, acredito ser impossível ler esse livro sem refletir nas implicações morais dele. Sei que muita gente vai pensar: "é só uma história de amor, porque sentir esse incômodo todo?". À esse pensamento gostaria de responder que penso nos livros como uma fonte de conhecimento e reflexão, e isso me leva a buscar algo mais mesmo nos livros de entretenimento. Enxergo isso como algo positivo, porque histórias como essas são as mais consumidas pelos jovens e se eu não for capaz de fazer o meu leitor refletir um segundo sequer sobre o que está lendo através dos textos que escrevo, o propósito do meu trabalho se perde completamente.

Por isso gostaria de pedir a quem quer que for ler esse livro que veja mais do que está escrito nas páginas dele. Pensei tanto a respeito dele desde que o li que tenho a certeza que uma solução perfeita para o caso complicado deles não há, muito menos para o que senti por eles. Como a sinopse do livro bem entrega, Sidney se vê diante de um dilema moral de proporções épicas, pois ela acabou de sofrer o duro golpe de ser traída e mesmo assim está lentamente mergulhando em uma história que fará dela uma traídora. Isso porque o Ridge apesar de fazer todo um esforço para relembrar os motivos pelos quais ama a namorada, não consegue impedir o seu coração de dar algumas batidas pela bela garota que sabe dar voz as suas melodias.

Se comparado a outros livros de Hoover, esse tem um ritmo mais lento. Ela vai mostrando ao leitor passo a passo a construção desse amor que moralmente não deveria existir por causa do compromisso que o Ridge tem. Creio que ela escolheu fazer isso como uma forma de aplacar os sentimentos de repulsa que alguém pudesse ter por trazer protagonistas que estão no limiar do que a sociedade considera como sendo certo e errado. É difícil julgar as atitudes dos personagens, até porque, nada comprometedor acontece durante o tempo em que eles estão descobrindo esse amor. Entretanto, há o amor. E só isso já é prova o suficiente de que o limite da lealdade foi ultrapassado - mesmo quando ele só foi confessado através de canções.

Ainda sinto um peso no peito com o que li. Sinto um profundo pesar pela terceira pessoa que Maggie, a namorada do Ridge, se tornou numa relação em que ela deveria ser a protagonista. E por mais que o Ridge tenha dito várias vezes que sempre a escolheria em detrimento da Syd, fiquei com a sensação de que essa foi uma desculpa dele para jogar para as mulheres da sua vida a responsabilidade de fazer a escolha que ele não tinha coragem de fazer e isso me fez perder um pouco da admiração que tinha por ele. Digo isso, pois mesmo reprovando várias de suas atitudes, ele me emocionou muito com a sua sensibilidade para a música (mesmo quando nasceu com uma deficência auditiva total) e a sua história de vida.

Sei que não devo mais continuar a escrever sobre isso, mas como encerrar essa resenha quando ainda há tanto que quero dizer? Eu sinceramente não sei. O que posso dizer a cada um que chegue ao meu texto é que apesar de Colleen utilizar aquelas fórmulas repletas de clichês para estruturar a sua história, ela compensa isso com um conteúdo que faz com que o leitor pense ao passo em que é tomado por empatia. Os personagens dessa história estão longe da perfeição, mas eles têm algo muito bacana dentro deles, que é a capacidade de notarem seus próprios defeitos e de tentarem contorná-los mesmo nas situações mais desafiadoras. Ainda não sei se concordo ou não com as decisões que eles tomaram, porém, sei hoje - mais do que nunca - que para tudo existe uma primeira vez. 

[...] os sentimentos são a única coisa em nossas vidas que nós não temos absolutamente nenhum controle.

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