Resenha: Desventuras em Série – Mau Começo por Lemony Snicket

Quem me conhece sabe que literatura infanto-juvenil é uma das minhas favoritas. Além de sua escrita rápida, simples e fácil, amo quando a trama é bem elaborada e o autor coloca uma pitada de humor sarcástico, que torna o livro perfeito para qualquer idade. E é com imenso prazer que vos trago a resenha do primeiro livro de uma série que considero como uma das natas desse gênero: Desventuras em Série!


Título: Mau Começo
Série: Desventuras em Série #1
Autor: Lemony Snicket
Editora: Seguinte
Ano: 2014
Páginas: 152
Onde comprar: 
Saraiva | Submarino
Mau começo é o primeiro volume de uma série em que Lemony Snicket conta as desventuras dos irmãos Baudelaire. Violet, Klaus e Sunny são encantadores e inteligentes, mas ocupam o primeiro lugar na classificação das pessoas mais infelizes do mundo. De fato, a infelicidade segue os seus passos desde a primeira página, quando eles estão na praia e recebem uma trágica notícia. Esses ímãs que atraem desgraças terão de enfrentar, por exemplo, roupas que pinicam o corpo, um gosmento vilão dominado pela cobiça, um incêndio calamitoso e mingau frio no café da manhã. É por isso que, logo na quarta capa, Snicket avisa ao leitor: "Não há nada que o impeça de fechar o livro imediatamente e sair para uma outra leitura sobre coisas felizes, se é isso que você prefere".

Esse livro começa assim como todos os demais da coleção, dando o seguinte aviso: Se você, leitor, gosta de histórias alegres e animadas, recheadas de finais felizes, esse livro não é para você.

Começamos o livro conhecendo nossos protagonistas que se tornarão preciosidades ao longo de toda a trama: Violet Baudelaire é a mais velha dos três. Ela tem 14 anos de idade e é uma inventora, sendo responsável sempre por criar as mais diversas geringonças que ajudarão tanto ela quanto seus irmãos sempre. Klaus é o irmão do meio. Com 12 anos, ele tem uma memória incrível, sendo um leitor voraz e, pasmem, nunca se esquecendo de nenhuma palavra do que lê (Isso sou eu tendo crises de inveja)Sunny, a mais jovem, é apenas um bebê que mal consegue falar, mas tem dentes extremamente afiados e tem como passatempo morder tudo que encontrar.

Nossos jovens protagonistas logo no começo se veem em uma situação triste, pois, em um passeio pela praia, sozinhos, são abordados pelo advogado da família, o Sr. Poe, que avisa às crianças sobre uma terrível tragédia: seus pais morreram em um incêndio que aconteceu em suas casas. Numa só tacada, eles não são apenas órfãos, mas também estão sem um lar.

Após uma curta estada com o Sr. Poe, eles são transferidos então para a casa do parente mais próximo, que também será tutor das crianças. Trata-se do Conde Olaf, que, diferente de um certo boneco de neve de uma famosa animação, é um vilão mau caráter e da pior estirpe.

Acontece que os pais Baudelaire eram donos de uma grande fortuna, que poderá ser utilizada pelos irmãos apenas quando estes atingirem a maior idade. Porém, nosso persistente vilão fará de todo o possível para que essa fortuna passe para ele, em prol de seus objetivos mais obscuros. 

Como plano inicial, sob sua tutela, Olaf e sua trupe de circo organizam uma peça de casamento, onde Violet seria a noive e o Conde, o noivo. Só que os jovens descobrem que, na verdade, os papéis do forjado casamento são verdadeiros e que, casando-se com Violet, o vilão poderá enfim ter acesso à fortuna Baudelaire. Cabe então aos jovens descobrir um meio de impedir essa cerimônia e mostrar ao mundo o verdadeiro caráter do mesquinho Conde.

O que falar dessa série que, no primeiro livro, me cativa de uma maneira tão incrível?

A começar pela joia de todo o livro, que são os personagens! Este primeiro livro tem um caráter introdutório, onde somos apresentados aos protagonistas, ao carismático vilão que amamos odiar, dentre demais personagens que estarão sempre nas histórias. Apesar de escrito de uma forma bem infantil, tanto os protagonistas como vilões e personagens secundários são bem caracterizados. Você tem medo do Olaf junto com as crianças, enquanto desbrava toda a aventura com elas, sorri quando a Juíza Strauss aparece e se ressente com o Sr. Poe.

Fora isso, temos um dos elementos mais incríveis, que é o narrador. Lemony Snicket é apenas um pseudônimo do verdadeiro autor, que é um narrador-personagem! Toda a trama, narrada por Snicket, na verdade são conjuntos de prova que o mesmo encontrou e envia ao seu editor. Ou seja, a história toda é um relato não de uma pessoa que esteve em tempo real com os personagens, mas sim de alguém que apurou dados sobre as situações! Além disso, o narrador é um dos melhores personagens, explicando expressões e palavras de uma maneira tão lúdica e incrível que eu me sentia uma criança e sorria muito quando sabia que ele ia se intrometer na história novamente.

Não o bastante, esse livro de meras 150 páginas e fontes grandes tem uma diagramação FANTÁSTICA e ilustrações belíssimas. Isso fora que cada livro traz uma crítica a diversas situações de nossa sociedade. O primeiro, por exemplo, faz uma crítica ao funcionamento das leis (matrimoniais e civis) e como essa pode acabar interferindo na vida de nossos pequeno heróis. É uma clara crítica às leis contraditórias e estranhas da sociedade, bem como nos mostra que as leis tem brechas, onde pessoas espertas podem burlá-las. O livro é uma sátira ao comportamento humano, nos mostrando como adultos podem ser cegos e tontos.

Diferente do que o narrador prega, o livro não vai te fazer chorar e querer cortar os pulsos, muito pelo contrário. Ele tem diversos alívios cômicos, mesmo o vilão te faz dar gargalhadas. Mas tenham em mente que nada dá certo na vida dos órfãos. Por mais provações que eles sofram, quando achamos que tudo irá melhorar, as coisas ou voltam à estaca zero, ou ficam bem piores. É um conto infantil, sem dúvidas, mas seus temas recorrentes são extremamente atuais e convém para a todos lerem.

Fica então a dica para aqueles que gostam de uma boa literatura infatojuvenil. Esse primeiro livro é uma aventura divertida e descontraída, que vai te prender desde e a primeira página. É um livro extremamente curto, que se pode ler em uma hora ou duas. A única coisa que se torna desafiante é não querer partir direto para o próximo, logo em seguida!


“O carro foi se afastando, até a Juíza Strauss se tornar um pontinho de nada na escuridão, e a impressão que ficou nos garotos foi que o rumo que a sua vida ia tomando era uma aberração, que aqui quer dizer ‘não tinha o menor sentido e traria muito desgosto’” Págs. 147 a 148

--- Marcel Elias ---

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