Resenha: A Dança da Morte por Stephen King
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Tome muito cuidado com a sua próxima gripe. Ela pode ser
fatal.
Título: A Dança da Morte
Autor: Stephen King
Editora: Suma de Letras
Páginas: 1247
Ano: 2015
Poucos livros merecem ser chamados de fenômeno editorial, mas A Dança da Morte sem dúvida é um deles. Aclamado pela crítica e pelo público, o romance é considerado uma das melhores obras de Stephen King. Após um erro de computador no Departamento de Defesa, um milhão de contatos casuais formam uma cadeia de morte: é assim que o mundo acaba. O que surge é um lugar árido, privado de suas instituições e esvaziado de 99% de sua população. Um lugar onde sobreviventes em pânico escolhem seus lados ou são escolhidos por eles. Onde os bons se apoiam nos ombros frágeis de Mãe Abagail, com seus 108 anos de idade, e os piores pesadelos do mal estão incorporados em um indivíduo de poderes indizíveis: Randall Flagg, o homem escuro.Valendo-se da imaginação sem limites que caracteriza sua obra, King criou uma história épica sobre o fim da civilização e a eterna batalha entre o bem e o mal. Com complexidade moral, ritmo eletrizante e incrível variedade de personagens, A Dança da Morte merece um lugar entre os clássicos da literatura popular contemporânea.
Dança
da Morte foi o quarto romance do autor Stephen King. Publicado em 1978, a
história se passa no final dos anos 80, onde um vírus extremamente contagioso e
letal escapa do Centro de Epidemias de Atlanta e, graças a ação inconsequente
de um dos seguranças, numa tentativa de salvar a si mesmo e a sua família,
acaba por espalhar-se por toda a população mundial, dizimando cerca de 99% da
mesma.
Inspirado
no livro A Terra Permanece, de George
R. Stewart, mas com a pretensão de tornar-se um clássico épico aos moldes de
Senhor do Anéis, o livro conta com uma divisão de 3 partes bem definidas, onde
vamos acompanhar desde o cataclisma que destruiu o mundo como conhecemos, a tentativa
de reestruturar a sociedade, culminando em uma batalha entre forças do bem e do
mal.
Na
primeira parte do livro temos então a propagação desse vírus. Chamado de Capitão
Viajante, esse vírus tem cerca de 95% de risco de contágio e seus sintomas são muito
similares a de uma gripe, que vai se agravando em um tempo muito rápido. Aqui conhecemos boa parte da gama de protagonistas de nossa história e segue o
padrão Stephen King: Páginas e páginas com ambientação e apresentação dos
personagens, até que aconteça algo que mude totalmente a história.
Essa
parte do livro é, sem dúvidas, a minha favorita. Aqui o Mestre usa tudo que já
vínhamos acompanhando em seus três primeiros romances, como a ambientação, seus
personagens incríveis e a conversão de uma coisa relativamente banal em algo
macabro e tenebroso (Afinal, quem nunca pegou uma gripe?). Outra qualidade
dessa parte é a dinamicidade que ela tem. Com muita coisa acontecendo em
diversas partes do país, com um narrador que constantemente muda de Onisciente Seletivo¹ para Onisciente Neutro², ficamos por dentro não apenas do que
acontece com os personagens, mas do que ocorre com o país e o mundo, como
um todo.
Stephen
King aproveita, como sempre, para fazer uma crítica às políticas governamentais
e também ao uso do poderio militar como forma de conter a massa. O alto escalão
governamental não queria que a informação de que uma praga americana estava
matando mais que os Nazistas, na Segunda Guerra Mundial, então a tentativa de
alienar a população chega a atingir níveis estúpidos.
Na
segunda parte, após toda a catástrofe apocalíptica causada pela
deflagração dos vírus, temos então a fase de calmaria. Aqui, aqueles que, por
razão desconhecida, ficaram imunes da gripe (todos os protagonistas estão
inclusos, vale ressaltar) começam a procurar por demais sobreviventes e se agruparem. Temos
aqui também inclusão de elementos fantásticos dentro da história, pois todos
então começam a ter dois tipos específicos de sonhos: No primeiro deles temos sempre
a ideia de uma sensação de medo e terror, cujo fator em comum em todos é a
presença de um homem encapuzado, não sendo possível ver seu rosto, apenas seus
olhos vermelhos e medonhos, enquanto no outro sonho temos um humilde e simples
casebre no Nebraska, onde uma senhora negra, de idade bastante avançada e aura
de pura bondade, convida a todos a visitarem em seu lar.
O
homem encapuzado, mais comumente conhecido como O Homem Escuro, atende pelo
nome de Randall Flagg (que viria a se tornar o vilão mais famoso do King, usado
em diversas outras histórias), ele é a própria imagem do mal, detendo poderes
incríveis que vão desde sua persuasão à controle de animais e até alteração da
realidade.
Sua
adversária, a doce Mãe Abagail, é uma gentil senhora de 108 anos, que com sua
aguda percepção e habilidade sobrenaturais, guia o povo em prol de se unirem
contra o mal.
Essa
parte começa bastante interessante, pois acabamos nos aprofundando ainda mais
nos personagens que já vínhamos acompanhando desde a primeira parte, enquanto
encontramos novos e misteriosos personagens, vemos também as consequências de todo
o caos de um cenário pós-guerra da primeira parte, bem como a surgimento de um
novo tipo de população. Vale ressaltar aqui que um dos melhores personagens
desse livro, a meu ver, é o sociólogo Glen Bateman. Esse senhor era um
professor universitário antes da praga, e é incrível todas as suas pontuações e
previsões sobre como será o comportamento social dessa nova civilização que
está surgindo após toda a calamidade. Porém, mesmo com novos personagens interessantes
e um começo bem interessante, é nessa parte que eu acho que a história acaba se
enrolando.
A medida que a história se desenrola, Stephen King passa a dar uma ênfase gritante na formação
de uma nova sociedade, por vezes deixando não apenas o outro lado, mas diversos
personagens muito bem trabalhados anteriormente, de fora. Creio que, numa tentativa de tornar
a história o mais verossimilhante com o que poderia acontecer, caso uma catástrofe
desse nível caísse sobre o mundo, ele acabou se perdendo um pouco na história,
tanto que o mesmo, teve problemas em concluir a história, por conta de
bloqueios mentais, que fizeram com que na história os seus heróis se tornassem
muito complacentes e se tornassem uma caricatura da civilização extinta. Por
isso, perto do final dessa parte, temos um plot
twist que fez minha mente e meu coração em pedacinhos. Mas acabou sendo
extremamente necessário, pois foi o que fez a história retornar ao eixo e dar
um seguimento.
Na
terceira parte então, temos a “batalha final”, que é quando um grupo de nossos
heróis parte para Las Vegas (local em que Randall Flagg e seu grupo estão) para
enfrentá-lo. O mais incrível em toda essa parte é acompanharmos a ascensão e
queda do poder de Flagg. Chega a ser irônico como são suas próprias escolhas e
decisões que acabam por arruinar seu tão incrível poder e império.
A
respeito de sua semelhança com Senhor dos Anéis, é bem visível as influências
de Sauron na concepção do Flagg, com a presença de um Olho que sempre espiona o
mundo, bem como a ideia do herói percorrer sempre grandes distancias para
atingirem seus objetivos.
Stephen
King consegue cumprir o que prometeu. Esse livro vai além de um terror,
contendo vários elementos que um gama ampla de leitores se identificam, como
aventura, distopia, fantasia, romance, mas sempre dando espetadas em nosso
senso crítico, com doses de realismo incríveis.
No
fim de tudo, resta-nos a pergunta: Será que, mesmo após tão calamidade, a
sociedade humana consegue aprender com seus erros, para criar um futuro melhor?
“Grafite em spray vermelho na fachada da Primeira Igreja Batista de Atlanta:‘Querido Jesus, Nos vemos em breve. Seu amigo, Estados Unidos da América. PS: Espero que ainda haja vagas para o fim da semana’” – Pág 269
¹ Narrador Onisciente Seletivo - Narra os fatos sempre com a preocupação de relatar opiniões, pensamentos e impressões de uma ou mais personagens, influenciando assim o leitor a se posicionar a favor ou contra eles
² Narrador Onisciente Neutro - Relata os fatos e descreve as personagens, mas não influencia o leitor com observações ou opiniões a respeito das personagens. Fala somente dos fatos indispensáveis para a boa compreensão da narrativa.
--- Marcel Elias ---
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