Resenha: Carrie, a Estranha por Stephen King

Stephen King é conhecido como o mestre do terror e esse título é mais do que merecido, já que é sempre com maestria que ele costuma desenvolver enredos verdadeiramente assombrosos. No entanto, quando o assunto a drama, ele também é o rei!

Título: Carrie, a Estranha
Autor: Stephen King
Editora: Suma de Letras
Páginas: 200
Ano: 2013
Onde comprar: Saraiva | Submarino
Até 1972, Stephen King ainda era um professor cujo salário mal dava para sustentar a mulher, Tabitha, e os dois filhos. Nas horas vagas, escrevia histórias de suspense, sempre rejeitadas pelas editoras. Foi então que finalizou mais uma obra. Em seguida, porém, desiludido com o mercado editorial, King arremessou-a pela janela. Foi Tabitha quem o convenceu de recuperar os originais e tentar outra vez. Enviado a um editor, o livro foi aceito. Nascia Carrie, a Estranha, obra que lançou Stephen King no cenário literário mundial. O livro narra a atormentada adolescência de uma jovem problemática, perseguida pelos colegas, professores e impedida pela mãe de levar a vida como as garotas de sua idade. Só que Carrie guarda um segredo: quando ela está por perto, objetos voam, portas são trancadas ao sabor do nada, velas se apagam e voltam a iluminar, misteriosamente. Com tantos ingredientes de suspense, Carrie, a Estranha logo se transformou num enorme sucesso internacional. Ao ser transportado para as telas, em 1976, pelas mãos de Brian de Palma, teve a atriz Sissy Spacek e John Travolta em seus papéis principais.

Além das pessoas que não curtem um bom e velho filme de terror, é raro encontrar pessoas que nunca assistiram as adaptações de "Carrie, a Estranha" que surgiram década após década. Por isso, também é difícil alguém não saber ao menos um pouco do enredo dessa história. E se por um lado isso é bom, já que essa história incrível pôde alcançar mais pessoas, por outro é complicado, pois quando o leitor finalmente se rende a escrita de King há uma certa expectativa para ver o mesmo que já foi abordado nos filmes. E de verdade, o que o autor traz para esse livro é muito mais poderoso do que as câmeras puderam captar.

O que mais me impressionou nessa narrativa é que mais do que trazer o retrato de uma jovem diferente dos padrões estabelecidos pela sociedade que é tão hipócrita em seus julgamentos, King trata de modo muito profundo as relações humanas, bem como, a ideia de que sempre há algo por trás do comportamento de uma determinada pessoa. No caso de Carrie, mais do que sofrer com os bullyings constantes daqueles que estavam ao seu redor, ela também sofria com os abusos psicológicos e físicos de sua mãe. Na verdade, a personagem da mãe dela é muito mais complexa do que imaginamos a princípio, já que ela acaba sendo o principal motivo para Carrie tomar todas as atitudes de sua vida.

Isso está muito relacionado ao fato de sempre ter sido ela e sua mãe, e de a figura do seu pai ter sido muito breve e fugaz para causar qualquer tipo de impressão nela. Desse modo, por mais que ela tente lutar contra aquilo que sua mãe impõe, ela não tem forças para se desligar desse cordão umbilical que as liga de maneira tão doentia. Essa relação se torna ainda mais problemática porque a mãe de Carrie possui um fanatismo religioso que tornam as coisas mais intensas e os seus sentimentos assustadores diante de situações simples na vida, como vestir uma roupa bonita ou conversar com um garoto. Para ela, tudo é errado, um pecado que pode corromper a alma e comprometer a salvação eterna.

O mais incrível disso tudo é que seu fanatismo religioso não tem uma ligação com uma religião em específico, é mais com um sentimento de que há um Deus e que esse Deus é vingativo e pune a seu bel prazer diante do menor desvio que seja. Ela me deixou uma impressão tão forte quanto a própria Carrie, que desde o começo se mostra vítima das circunstâncias e da incompreensão das pessoas. É impossível não se comover com a sua história e não entender que tudo o que ela fez foi ocasionado por um desespero e um desejo de ser amada e aceita que ia muito além do que ela mesmo imaginava. Sofri muito com ela, pois a cena do que aconteceu com ela se repete, de algum modo, todos os dias, já que não é raro as pessoas sofrerem descriminação não só por sua cor de pele, mas também por sua classe social, por seu estilo de vida, por sua aparência e por tantas outras coisas que revelam a podridão que se esconde na mente das pessoas.

Um outro aspecto importante da narrativa do King nessa história, é que desde o começo sabemos como tudo vai terminar mesmo que não saibamos exatamente como as coisas irão acontecer. É quase um spoiler soltado pelo próprio autor, mas que não diminui em nada as surpresas que ele reserva em suas páginas. Nesse livro em específico, ele alterna os pontos de vistas dos personagens e dá uma totalidade de todas as situações e motivações. Mas não é só isso, em meio a essas narrações, há interrupções de entrevistas, trechos de jornais, artigos e inquéritos policiais que abordam o caso de Carrie de uma perspectiva tanto científica, como também, humana. 

Apesar de ser um livro pequeno, ele é realmente grandioso, pois além de trazer a história de uma menina com poderes telecinéticos, ele revela várias facetas do instinto humano de forma crua e cruel. Sem sombra de dúvidas, nós leitores temos muito o que agradecer a Tabatha King, visto que se não fosse ela provavelmente não teríamos a possibilidade de apreciar essa leitura. No entanto, uma coisa é certa: Stephen King não poderia ter escrito um melhor livro de estreia do que esse. "Carrie, a Estranha" não só vale uma primeira leitura, como também, várias releituras. Simplesmente sensacional!

Mas a expressão ‘sinto muito’ é o xarope das relações humanas. É o que se diz quando se derrama uma xícara de café ou se joga uma bola fora numa partida de boliche com as garotas da turma. Mas sentir realmente o que aconteceu é raro como o amor verdadeiro.

--- Isabelle Vitorino ---

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