Resenha: A Cidade Murada por Ryan Graudin

Sabe aqueles livros que conseguem te encher de tantas emoções que é impossível pensar nele sem sentir um pouco de nostalgia? Pois bem, "A Cidade Murada" é exatamente esse tipo de livro. Minha relação com ele foi tão profunda que é depois de tomar uns dias para criar coragem que hoje eu venho aqui falar um pouco dele para vocês.

Título: A Cidade Murada
Autor (a): Ryan Graudin
Editora: Seguinte
Páginas: 400
Ano: 2015
Onde comprar: Saraiva
A Cidade Murada é um terreno com ruas estreitas e sujas, onde vivem traficantes, assassinos e prostitutas. É também onde mora Dai, um garoto com um passado que o assombra. Para alcançar sua liberdade, ele terá de se envolver com a principal gangue e formar uma dupla com alguém que consiga fazer entregas de drogas muito rápido. Alguém como Jin, uma garota ágil e esperta que finge ser um menino para permanecer em segurança e procurar sua irmã. Mei Yee está mais perto do que ela imagina: presa num bordel, sonhando em fugir… até que Dai cruza seu caminho. Inspirado num lugar que existiu, este romance cheio de adrenalina acompanha três jovens unidos pelo destino numa tentativa desesperada de escapar desse labirinto.


Jin nasceu nos campos de arroz e sempre teve uma personalidade feroz. Para ela era inconcebível deixar que o seu pai maltratasse a sua mãe e a sua irmã, e por isso sempre brigava com ele de modo que acabava surrada e cheia de cicatrizes. Essas memórias tristes ficaram para trás e deram lugar a uma realidade muito pior, pois após ver Mey ser vendida para homens perigosos de Hak Nam, a Cidade Murada, não lhe restou nenhuma saída a não ser se transformar em um garoto e correr pelos becos apertados do lugar em busca da sua irmã. Apesar de achar difícil conseguir encontrá-la e resgatá-la, ela não desiste do seu propósito e continua tentando. Em suas tentativas, ela conhece Dai, um garoto que parece não pertencer aquele lugar e que lhe oferece um acordo muito perigoso, mas que acaba se revelando uma das poucas chances de conseguir salvar a sua irmã.

Se há dois anos alguém dissesse para Dai que ele estaria vivendo nas ruas imundas da Cidade Murada, ele jamais acreditaria. Mas depois de tudo o que aconteceu na sua vida, não era tão difícil para ele entender porque tinha que estar ali. O que não tornava as coisas mais fáceis para ele, já que se colocando em situações cada vez mais arriscadas, ele precisa se aproximar do homem que tirou tudo dele em busca da sua redenção final. Ele imaginava que conseguiria fazer tudo sozinho, no entanto, depois de muito relutar, ele admitiu que era impossível fazer o jogo de gato e rato necessário para escapar daquele inferno e recruta Jin para ser o seu corredor. Entretanto, sua vida sofre mais um abalo. Em busca de um plano B, ele conhece uma bela garota que é mantida enclausurada pela Irmandade. A princípio ele tenta se manter focado, mas quando ela olha para ele como se ele pudesse se tornar o seu herói, ele se desfaz da covardia e se enche de coragem para ser quem ela precisa.

A história do livro "A Cidade Murada" é narrado através de uma contagem regressiva relativa ao tempo que Dai dispõe para cumprir a sua tarefa. Narrado pelos três  protagonistas, é possível perceber todas as nuances que entrelaçam a vida de Jin, Dai e Mei de uma forma única. Esse aspecto cronológico é de suma importância, pois é ele quem dita o ritmo do livro, já que cada vez que o prazo final se aproxima, as coisas começam a sair fora de controle e a história se torna vertiginosa. Particularmente, senti falta de um maior detalhamento a respeito de alguns dias finais, pois eles ficaram perdidos no espaço-tempo e não houve nenhuma explicação sobre o porquê disso. Como os dias para Dai eram preciosos demais para ficar perdidos, para mim, era necessário falar mais sobre eles.

No entanto, há uma coisa extraordinária que compensa isso: Hak Nam. O local se tornou um personagem nas mãos de Graudin e com suas descrições tão precisas, foi impossível não sentir os odores do lugar, as dificuldades dos moradores, a violência e o medo. E o mais bacana disso tudo é que realmente existiu uma cidade murada, a autora fez algumas viagens para visitar as suas ruínas e fez uma profunda pesquisa para utilizar a Cidade Murada de Kowloon – localizada na China – para montar a sua própria cidade. Entretanto, para falar de violência e poder em Hak Nam é preciso ter em mente que ela é completamente dominada pela Irmandade do Dragão chefiada por Longwai. As pessoas que vivem ali sabem do envolvimento dos seus componentes com drogas e prostituição, mas não possuem coragem o suficiente para tentar fazer alguém ouvi-los. Até porque, em um lugar sem leis, uma organização ilegal poderosa se torna a própria lei.

E essa é a grande dificuldade de Dai, Jin e Mei. Eles não só precisam encontrar a coragem necessária para enfrentar os seus próprios fantasmas, como também, para achar uma forma de escaparem da prisão que os mantém reféns. E é observando todas as lutas desses personagens que eu não pude fazer outra coisa que não amar essa história com todo o meu coração. Me apaixonei pela maneira feroz que a Jin tem de defender aqueles que ama, pela determinação de Dai em se redimir e pelo modo como Mei cresceu e se tornou alguém digna de admiração pela ferocidade com que lutou para se libertar. E mesmo que todos eles sejam muitos jovens e a história parecer ser voltada para um público mais juvenil, há momentos pesados no enredo que causam tamanha angústia no leitor, que por vezes é necessário fazer uma pausa na leitura antes de continuar. Diante disso tudo, eu não poderia dizer outra coisa para vocês que não: leiam já!

A diferença está nos olhos e na maneira como está mais perto. Como alguém perdido que reencontrou o seu caminho. Ele não é o único. Pág. 237

--- Isabelle Vitorino ---

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