Resenha Especial: Chapeuzinho Vermelho por Jacob e Wilhelm Grimm


Título do Conto: Chapeuzinho Vermelho
Autores: Jacob e Wilhelm Grimm
Título do Livro: Contos de Fadas
Editora: Zahar
Ano: 2013
Páginas: 33 a 43 (452)
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Branca de Neve, Cinderela, João e Maria, Rapunzel, O Gato de Botas, O Patinho Feio, Pele de Asno, A Pequena Sereia, O Pequeno Polegar... Essa bela Edição Comentada e Ilustrada traz as mais famosas histórias infantis em suas versões originais, sem adaptações. São ao todo 26 contos de Grimm, Perrault e Andersen, entre outros, enriquecidos por centenas de notas que exploram suas origens históricas e complexidades culturais e psicológicas, além de uma apresentação, elaboradas por Maria Tatar, eminente autoridade no campo do folclore e da literatura infantil. O volume conta também com uma extraordinária coleção de cerca de 240 pinturas e desenhos, muitos deles raros, de ilustradores célebres como Arthur Rackham, Gustave Doré, George Cruikshank, Edward Burne-Jones, Edmund Dulac e Walter Crane. E traz ainda biografias de autores, compiladores e ilustradores, além de apêndices com diferentes versões de alguns contos.

Walter Crane - 1875
Em um povoado não muito distante da floresta, uma garotinha vivia com a sua mãe. Ela era chamada pelo nome de Chapeuzinho Vermelho graças ao maravilhoso presente que sua querida avó havia lhe dado. Certo dia, sua mãe preocupada com o estado de saúde da senhora, lhe pediu para que levasse alguns bolinhos e uma garrafa de vinho a fim de ajudá-la na recuperação. Sem saber o que lhe aguardava lá fora, a jovem menina entrou na floresta e seguiu rumo a casa da sua avó. 

No entanto, logo ela encontrou o lobo, que animado com a perspectiva de fazer uma bela refeição interrompeu a sua jornada e a não só a fez revelar qual era o seu destino, como também, induziu-a a desvia-se do caminho que a sua mãe havia orientado-a a seguir. Após despedir-se da criatura maliciosa, Chapeuzinho resolveu aproveitar o dia no bosque e observou cada detalhe a sua volta sem se preocupar com o tempo. Quando ela finalmente lembrou-se de sua avó e voltou para o caminho certo, ela não sabia que uma tragédia já tinha acontecido e que uma terrível surpresa a aguardava na cabana da vovó.

Warwick Goble - 1923
A ideia que se tem de um conto de fadas está muito ligado a algo maravilhoso, fantástico, extraordinário e que só acontece com as pessoas que tem muita sorte. No entanto, lendo não só os contos propriamente, mas também as breves análises feitas pela Maria Tatar – a acadêmica e especialista em literatura infantil que editou o livro “Contos de Fadas” da editora Zahar–, notei que esse pensamento é um dos mais equivocados que se pode ter.  Eu, por exemplo, sempre pensei em “Chapeuzinho Vermelho” como a história de uma garotinha que por causa de sua juventude e vida pacata, caiu na lábia do lobo que mais era esperto do que mal e teve a grande sorte de ser salva pelo bondoso caçador. Meus pensamentos nunca foram muito além disso, porém, quando a Tatar plantou a semente da curiosidade em mim e eu fui fazer uma pesquisa acerca do assunto, me surpreendi com o que encontrei.

Isabel Naftel - 1857
Além das variações contidas entre as versões dos irmãos Grimm e Charles Perrault, os estudiosos que analisaram esse conto em específico, frisaram dois pontos que podem ser encontrados em ambas as visões desses autores: a simbologia sexual e a violência. Livros como “A Psicanálise dos Contos de Fadas” do autor Bruno Bettelheim abordam de maneira longa esse assunto e traz muitas possibilidades para se enxergar alguns elementos contidos no texto, como a cor do chapéu da menina, o verdadeiro significado do lobo e do caçador, o que está por trás de passagens como a que o lobo convida a menina a se deitar na cama com ele completamente nua, o incentivo ao canibalismo ao oferecer a carne e o sangue de sua avó, bem como, uma possível relação incestuosa entre a avó e a neta (nesse caso, a abordagem da psicanálise analisa o complexo de Édipo).

Arthur Rackham - 1902
Se formos olhar por este ângulo, percebemos que o conto dos irmãos Grimm é muito mais suave, já que pouco dos elementos supracitados podem ser encontrados nele. Talvez por isso, ela seja a mais utilizada entre leitores em geral. Uma importante diferença entre o conto dos irmãos Grimm para o do Charles Perrault é o final, visto que em um a garota é salva e tem uma segunda chance, enquanto que em outro ela e sua avó são completamente devoradas. Por terem um papel de educar as crianças da época, pode ser que a moral dessa história independente da forma como ela foi contada, esteja ligada a obediência e as consequências de não seguir os conselhos dos que são seus responsáveis. Pensando por esse lado, talvez o verdadeiro significado de “Chapeuzinho Vermelho” seja muito mais simples do que os estudiosos acreditam e não algo tão complexo, violento e sexual.


Walter Crane - 1875
Mas quando o assunto é a modernidade, o conto continua sendo explorado pelo cinema, televisão e música. Um bom exemplo disso é o filme "A Garota da Capa Vermelha" que traz a história de um vilarejo que está sendo atacado por um lobo e em que uma garota precisa decidir se vai casar com um homem que não ama e obter segurança para si e sua família, ou ir em busca daquele por quem seu coração pulsa. Quando o assunto é televisão, recentemente estreou duas séries de TV que trata desse conto. A primeira é Grimm, cujo episódio piloto aborda o conto, bem como, introduz um dos protagonistas que é um tipo de lobo. Outra série que possui uma personagem deste conto é "Once Upon a Time", cujo enredo envolve uma maldição. No que tange a música, a autora Lana Del Rey escreveu "Big Bad Wolf", onde ela relata a história de uma garota que está apaixonada pelo grande lobo mal e pede para ser devorada por ele. Como vocês podem ver, "Chapeuzinho Vermelho" é um conto que ultrapassou as barreiras do tempo e que continua despertando sensações, interpretações e inspirações.
Nunca se desvie do caminho. Pág. 41

Playlist:


--- Isabelle Vitorino ---

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