Resenha: Uma Carta de Amor por Nicholas Sparks

A resenha de hoje terá como foco um dos livros que mais me despertaram sentimentos conflitantes nos últimos tempos. Lindo e trágico na mesma proporção, "Uma Carta de Amor" recebeu meu amor e meu ódio em igual medida. Apesar de saber que minhas palavras terão um quê de desabafo, espero que vocês consigam compreender tudo o que eu quis dizer nessa resenha.

Título: Uma Carta de Amor
Autor: Nicholas Sparks
Editora: Arqueiro
Páginas: 288
Ano: 2014
Onde comprar: Saraiva | Submarino
Há três anos, a colunista Theresa Osborne se divorciou do marido após ter sido traída por ele. Desde então, não acredita no amor e não se envolveu seriamente com ninguém. Convencida pela chefe de que precisa de um tempo para si, resolve passar férias em Cape Cod. Durante a semana de folga, depois de terminar sua corrida matinal na praia, Theresa encontra uma garrafa arrolhada com uma folha de papel enrolada dentro. Ao abri-la, descobre uma mensagem que começa assim: “Minha adorada Catherine, sinto a sua falta, querida, como sempre, mas hoje está sendo especialmente difícil porque o oceano tem cantado para mim, e a canção é a da nossa vida juntos.” Comovida pelo texto apaixonado, Theresa decide encontrar seu misterioso autor, que assina apenas “Garrett”. Após uma incansável busca, durante a qual descobre novas cartas que mexem cada vez mais com seus sentimentos, Theresa vai procurá-lo em uma cidade litorânea da Carolina do Norte. Quando o conhece, ela descobre que há três anos Garrett chora por seu amor perdido, mas também percebe que ele pode estar pronto para se entregar a uma nova história. E, para sua própria surpresa, ela também. Unidos pelo acaso, Theresa e Garrett estão prestes a viver uma história comovente que reflete nossa profunda esperança de encontrar alguém e sermos felizes para sempre.

Theresa é uma mulher de vida agitada. Sendo mãe solteira e tendo que lidar com as pressões da sua rotina de jornalista, cada dia parece mais cansativo que o outro. Por isso mesmo contra sua vontade ela aceita tirar uma semana de férias e se junta a um casal de amigos em uma casa perto da praia. Após sua corrida matinal, ela encontra uma garrafa na areia e cede a tentação de ler a carta que está lá. Sentindo-se profundamente tocada pelas palavras apaixonadas do homem que assina como “Garrett”, ela passa a buscar mais informações a respeito dele. E é quando está munida de parcos conhecimentos sobre aquele homem misterioso que ela sai de Boston à sua procura. Ela não sabe o que acontecerá quando encontrá-lo, ela só precisa conhecê-lo para enfim tentar entender os sentimentos que ele expressa de forma tão emocionada em sua carta. Mas quando finalmente se encontra frente a frente com Garrett, ela percebe que mais do que curiosidade sobre a sua escrita, ela queria ter a oportunidade conhecê-lo verdadeira e profundamente. O problema é que as lembranças do passado estão vivas na mente dele de tal forma que nem mesmo uma mulher bela como Theresa seria capaz de apagá-las.

Eu não sei exatamente o que escrever nessa resenha. Diferente de outras leituras que eu tive, depois de terminar “Uma Carta de Amor” eu não consegui extrair do livro todas as questões mais técnicas que eu costumo abordar para avaliar um livro. A única coisa que eu sei é que eu amei e odiei o livro. Sei que ainda vai demorar um pouco para que vocês leiam o que estou escrevendo, mas queria que vocês soubessem que não faz nem dois minutos que eu acabei de ler o livro e já estou aqui teclando furiosamente no notebook enquanto o dia amanhece lá fora. Acredito que isso está acontecendo por um simplesmente motivo: apesar de eu ter assistido grande parte dos filmes baseados nos livros do Sparks, eu não estava preparada para a quantidade de sentimentos que a sua escrita iria despertar em mim, muito menos no vazio que eu fosse sentir depois que tudo tivesse terminado.

Nessa história, acompanhamos a difícil trajetória de Theresa em se reestabelecer após um divórcio conturbado e o estado de letargia que Garrett vive após perder a sua esposa. Ambos são tão diferentes quanto o sol e a lua. Ela vive uma vida corrida e passa a maior parte do tempo vivendo sob a pressão de ser uma jornalista que precisa gerar um conteúdo diferenciado todos os dias, enquanto ele trabalha com o que ama e consegue estar em contato com uma de suas maiores paixões todos os dias: o mar. Sendo tão distintos um do outro é surpreendente que a vida os unisse em algum momento, mas é justamente isso que acontece. Só em notar a abordagem das diferenças desse provável casal, eu fiquei curiosa. Entretanto, eu também me senti desconfiada das intenções do autor. Afinal, conhecendo a fama do Nicholas Sparks eu sabia que podia esperar que uma profusão de sentimentos me inundasse e me fizesse ansiar e temer pelo fim em igual proporção. Mas eu também sabia da tendência para o trágico que o autor tem e que afasta alguns leitores que não querem se desfazer em lágrimas e se encolher em posição fetal até esquecer as cenas que ficaram impressas em sua memória. Eu sabia de tudo isso, mas mesmo assim quis ler o livro.

Diferente de alguns romances do autor essa é uma história mais madura e por isso imagino que alguns leitores mais jovens não irão se identificar com as situações que o autor aborda no decorrer das páginas. No entanto, desde o princípio eu senti uma ligação profunda com a Theresa. Acredito que isso ocorreu porque em alguns aspectos eu sou muita parecida com ela, então compartilhar das mesmas emoções que a preencheram desde que ela achou a carta de Garrett, bem como, ansiar por conhecer cada traço que compunha o homem pelo qual ela se encantou foi uma tarefa fácil. Entretanto, mesmo tendo me emocionado com as palavras dele, quando o autor foi revelando mais dele, eu passei a ficar irritada a maior parte do tempo. Sendo bem sincera, a todo o momento ele parece ser tudo o que uma mulher sempre sonhou. Mas isso só seria real mesmo se ele já não estivesse apaixonado por outra mulher como está. Competir com uma pessoa que está presente fisicamente e que você sabe quem é, por incrível que pareça é mais fácil do que competir com fantasmas. Pelo menos é isso que o Garrett deixa bem claro, já que por viver das lembranças do seu amor perdido, a maior parte do tempo ele fica comparando aquilo que teve com Catherine com aquilo que tem – e pode ter – com a Theresa.

Sinceramente foi uma verdadeira tortura ver o quanto ela se esforçava por uma pessoa que aparentemente correspondia com todos os seus ideais, mas que no fundo estava mantendo-a afastada por ter medo de perder as recordações que o prendiam ao passado. O autor não foi justo ao elaborar um romance assim, mas até aí tudo bem, eu poderia entender. Afinal, é algo que poderia acontecer com qualquer pessoa. Ninguém está livre de perder alguém que ama, muito menos de se apaixonar por uma pessoa problemática. O que eu não entendo é essa mania que o autor tem de levar tudo ao extremo.  É certo que todo mundo sonha em amar e ser amado, como também, teme morrer ou perder alguém. Mas porque ele sempre tem que trazer isso à tona nas histórias? De verdade, apesar de ele saber narrar uma história de amor como ninguém e de nos fazer sentir as mesmas emoções que seus personagens, essa característica dos seus livros já está batida. Parece mais do mesmo. Parece preguiça de escrever algo diferente.

Ao final, as coisas como ele coloca parecem ser assim: encontrar o verdadeiro amor, ter a sorte dele ser recíproco, viver momentos incríveis com ele, uma tragédia varrer a pessoa do plano físico. Sinceramente temo no que os leitores dos seus livros irão passar a acreditar quando refletir as suas histórias de modo mais concentrado. Com esse meu desabafo espero que vocês entendam que sim, “Uma Carta de Amor” traz uma história belíssima que faz você se envolver do início ao fim, além de fazer com que os desejos mais loucos dos seus pensamentos pareçam ser possíveis de se realizarem. Mas também traz um quê de surrealidade que ameaça destruir todas essas coisas gostosas que você vivenciou durante a leitura. Pra ser sincera eu não poderia fazer outra coisa que não indicar essa leitura para todos os leitores que apreciam uma linda história de amor. Só que tenho que deixá-los sobreaviso de que no fim, assim como eu, alguns de vocês terão muito claro que o autor precisa se renovar para que suas histórias não tenham finais tão previsíveis como vem acontecendo constantemente.



– Nada que valha a pena é fácil. Lembre-se disso. Pág. 106

Playlist:


--- Isabelle Vitorino ---

Postar um comentário

Obrigada pela visita, dê sua opinião, participe e volte sempre.

- Caso tenha uma pergunta deixe seu e-mail abaixo que respondo assim que o comentário for lido.

- Caso sua mensagem não tenha relação com o post, envie para o e-mail.