Resenha: Clube da Insônia por Tico Santa Cruz

Se minha memória não falha desde sempre eu tive problemas com a insônia, por isso acabei me tornando uma pessoa noturna, daquelas que está acordada a noite e dormindo durante o dia. E foi em umas das minhas inúmeras madrugadas sem dormir que eu li ‘Clube da Insônia’, um livro primorosamente escrito por Tico Santa Cruz, o líder da banda Detonautas Roque Clube e autor do qual me tornei fã.

Título: Clube da Insônia
Autor: Tico Santa Cruz
Editora: Belas-Letras
Páginas: 104
Ano: 2012
Onde comprar: Submarino
Na noite, a fúria e a paixão se encontram. O submundo emerge às ruas, evocando gente esquecida que não tem vez nem voz e perambula pela cidade em busca de luz. A noite também é a casa da diversão sem hipocrisia, da embriaguez, da luxúria, das angústias e das reflexões de quem não consegue adormecer antes de a loucura se recolher novamente aos seus abrigos diurnos. De olhos bem abertos, o músico Tico Santa Cruz, líder da banda Detonautas Roque Clube, leva o leitor a um mergulho na escuridão para compartilhar seus medos e seu inconformismo, em textos viscerais que pulsam do início ao fim, madrugada adentro, até o sol nascer.

Durante a madrugada todos os nossos sonhos e pesadelos mais loucos parecem cobrar vida exigindo de nós um pouco de atenção. São nesses momentos que paramos para pensar naquilo que somos ou que queremos ser, naquilo que nos faz seres humanos mais felizes ou mais tristes, naquilo que nos comove ou que nos faz indiferente. E é a partir da análise de dualidades como essas que o autor Tico Santa Cruz traz para os seus leitores uma compilação de textos que foram escritos nos mais variados formatos durante suas madrugadas de insônia. Em sua essência, suas produções englobam desde acontecimentos rotineiros de sua vida e reflexões pessoais a críticas afiadíssimas a sociedade cheia de hipocrisia, a mídia manipuladora e aos políticos corruptos.

Dividido em duas partes e com belíssimas ilustrações do Carlinhos Muller, no decorrer do livro vamos notando nuances musicais em seus textos que faz a tarefa de enxergá-lo apenas como autor quase impossível. Principalmente porque eu sou uma fã incondicional da banda, daquelas que já foi a todos os shows que eles fizeram na cidade e que sabe quase todas as músicas de cor. Contudo, o fato de admirar o trabalho deles não me fez alguém parcial em sua análise do livro, já que o Tico forneceu material suficiente para que se mostrasse um escritor competente em expor a sua visão sobre o mundo e sobre a vida.

Confesso que chega a ser difícil eleger o meu texto predileto de tanto que me identifiquei com a forma de pensar dele, mas acredito que ‘Eu e ela’, ‘Sou um pouco de mim’ e ‘Circo Fantástico’ são sérios candidatos ao posto, já que todos eles me fizeram pensar de modo muito especial sobre aquilo que eu estava lendo. Adoraria que ele cantasse algum dos seus textos, já que a sonoridade presente no jogo de palavras que ele utiliza permitiria que eles se tornassem belas canções. Ademais, acredito piamente que leitores que apreciam crônicas, contos e poesias, irão se identificar sobremaneira com o conteúdo diversificado do ‘Clube da Insônia’. Ainda mais porque a edição deste livro está impecável, de modo que eu só posso parabenizar a editora pela produção impecável do livro e recomendá-lo fervorosamente a vocês.


Acho que na outra encarnação me privaram das palavras.
Sinto tanta necessidade de falar, que às vezes acho que carrego trauma de outra vida.
[...] Não sei se tenho medo do silêncio, ou se meu espírito vagou por tantos lugares, que fica nessa ansiedade de viver a vida e mostrar coisas a quem, muitas vezes, não merece um segundo de atenção.
Não sei se sou carente de mim mesmo.
Não sei se por que, quando fui adolescente, ninguém prestou atenção em mim, hoje gasto toda a atenção que recebo.
Sinceramente, preciso me calar um pouco. Pág. 20

Playlist:

Raul Seixas – Prelúdio

--- Isabelle Vitorino ---

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